Cap 85 -Alucinação

 -Esqueci que você não conhece! É o garotinho que tá escondido neste quarto, ele viu tudo.

 Roberta vai ligeira até o guarda-roupa onde o menino sempre se esconde e o chama.

-Otto! Sai daí! O Diego não vai te fazer nada! –Ela olha lá dentro. –Ele não tá aqui!

-Roberta, não tem nenhuma criança aqui. –O rebelde se levanta e a olha como se ela estivesse delirando.

-Claro que tem, ele deve estar escondido. –Roberta procura de um lado e outro enquanto Diego observa.

-Roberta... –Ele não aguenta olhar e vai até ela segurando sua mão. –Não precisa procurar... Eu acho que o pessoal tinha razão.

-Em que?

-Ele deve ter mesmo te dopado.

-Nãão! –Ela põe ênfase. –Tô te falando! Olha só a marca da martelada na minha testa.

-Ei... Que isso?–Diego se espanta com o vermelhão que ela estava escondendo sob o cabelo. –Eu vou matar aquele idiota!

-Hã? Como? Tá achando que foi o Pablo?

-Eu juro, que se aquele cara te machucou eu mato ele! –E Diego sai furioso do quarto.

-Diego!

 E percebendo que ele não voltaria, Roberta o segue pelo jardim, até que encontram Pablo na cerca da quadra de futebol. Parecia muito concentrado em encontrar qualquer coisa errada. Diego já chega dando um safanão no rapaz que nem se defende.

-O que é que você fez pra Roberta?

-Não fiz nada! –Ele empurra Diego e Roberta se apressa em perguntar.

-Cadê o Otto? O que você fez com ele?

-Otto? Você o conhecia?

 Roberta e Diego se olham confusos.

-Do que você tá falando?

-Do garotinho do cruzeiro, não é? –Pablo explica sério. –Ele entrou na minha mala quando desembarcamos, mas o encontraram e devolveram para a tia dele.

-Isso é mentira, ele me contou que vocês trouxeram ele pra cá! –Roberta se irrita.

-Nós? Eu só fiquei sabendo semana passada o que aconteceu com ele, naquele orfanato onde a tia dele o colocou.

-Hã? –Roberta começa a se lembrar da brincadeira feita pelo menino. –Do que você tá falando?

-A tia dele o levou para um orfanato, parece que ele teve pneumonia e morreu.
 Roberta para um segundo para tentar entender a bagunça que aquela informação forma em sua mente.

-Mentira, ele tava no quarto há menos de dois dias! –Ela se vira para Diego. –Você acredita em mim, não é?

-Calma, a gente vai esclarecer isso agora. –Ele segura seu rosto e ao soltar encara Pablo. –O que foi que você deu pra ela?

-Já disse, eu não dei nada. –Ele fala tranquilo. –Não, minto, a única coisa que eu dei foram alguns beijinhos.

 Pablo cai no chão com o enorme soco que recebe assim que as palavras saem de sua boca, mas de lá mesmo ainda provoca Diego.

-Você acha que me batendo vai mudar o fato de que foi traído? Ela pode fazer exames e não vai acusar droga nenhuma, porque eu não fiz nada que a sua namorada não quisesse! –Ele limpa o sangue do nariz enquanto Roberta segura o braço de Diego para que não avance outra vez se metendo em mais encrenca.

-Não vale a pena!

 Diego a olha e retira o braço de sua mão.

-Não vale mesmo...

-Ei! –Ela vai atrás dele quando ele a deixa. –Já mudou de ideia assim?

-Eu só preciso pensar.

-Pensar? Você disse que acreditava em mim!

-Eu acredito, mas dizem que o amor deixa a gente cego, não dizem?

 Roberta engole seco e puxa os lábios para dentro olhando para o lado. Não se permitiria chorar naquele momento por nada no mundo.

-Eu não acredito que eu me deixei levar... Quer saber, vai! Mas não volta!

-Como quiser...

 Quando Diego a vê se virar, com os cabelos saltando nos ombros, tem a impressão de que ela leva a mão ao rosto. Para enxugar uma lágrima? Lhe dói pensar isso e tem o desejo imenso de ir até ela, de abraçá-la, pedir que não fosse embora, que esquecesse o que acaba de dizer, queria lhe dar um beijo longo enquanto segurava seu corpo com força, retirando-a do chão e levando-a para longe dali. Chega a dar um passo à frente, mas é interrompido.

-Diego, eu preciso da sua ajuda! –Pedro e Tomás o empurram pelos ombros.

-Que foi?

 Os três partem até o muro de onde sempre saltavam para fugir.

-Vamos fugir!

-Tão loucos? –Diego observa a calma dos amigos como se fosse simples. –Pra onde? Pra que?

-Vem que a gente te mostra! –Pedro já sobe a escada.

 Diego hesita, mas acaba indo com eles. Pulam o muro até a rua de onde seguem para algo que ninguém poderia saber.

 Enquanto isso ocorria, no quarto as meninas discutiam o que poderia ter acontecido.

-Mas Roberta, então você viu um fantasma!

-Que medoooo!! –Alice aperta as mãos com a fala de Carla.

-Não foi um fantasma, eu vi, ele era de carne e osso! –Roberta digita algo no netbook enquanto conversa. –O pior é que não tem nada do Otto em lugar nenhum, nem de nenhum menino que tenha morrido em orfanato.

 Alice e Carla percebem a ansiedade dela e sentadas sobre a cama as duas não parecem acreditar que o tal menino realmente exista, estão como Diego e insistem para que Roberta faça um exame para provar que havia sido dopada e talvez isso explicaria o fato de que a menina tivesse tido essa alucinação com um garotinho no quarto 16.

-Mesmo que fosse comprovado que ele me dopou isso não explicaria o fato de que eu sabia do orfanato!

-Ai, Roberta! –Alice se amedronta. –Ele é uma alma penada, olha só: Ele vinha pro Elite Way, mas não deixaram, daí quando o coitadinho morreu no orfanato o espírito dele veio morar aqui!

-Credo Alice! –Carla arregala os olhos. –Não, eu prefiro acreditar na Roberta, o Pablo deve ter dado um sumiço nele e inventado essa história, pensa bem, só o Otto pode provar o que aconteceu de verdade. É a única testemunha á favor dela!

 Nessa hora, Roberta tem um estalo na memória.

-Carla, o Otto falou que você sabia dele!

-Eu? –Ela aponta para o peito. – Não... Eu não sabia dele...

-Mas e a comida que você levava? Eu vi você levando um dia!

-Eu comecei a entrar na bulimia de novo.

-Carla! –Alice se zanga.

-Mas tá tudo bem agora, eu não faço mais isso.

 Roberta fica perdida nas informações e já não sabe em que acreditar. As suposições são o nada que dá sentido ao tudo que desconhecemos. Santa vontade de descobrir a verdade encoberta pela malícia humana ou pelo medo de ter a vida escrita nos olhos de alguém.

 Tudo estaria tenso nos dias que se prologariam no colégio. Os casais continuam separados e os meninos com um segredo que os fazia fugir várias vezes e voltar com adrenalina à flor da pele, rindo como se voltassem de um espetáculo de comédia.

 Já havia se passado duas semanas e desde então os casais não tentaram uma reconciliação. Roberta continua sua procura pela verdade enquanto que Diego já havia sido liberado do médico. Já está bem para voltar a praticar esportes e comer de tudo normalmente.

 Há em todos eles uma vontade adormecida de estar juntos, mas por isso mesmo evitam se ver, evitam se olhar e quando se esbarram, distribuem ofensas. Tudo para poder conservar a determinação de não dar o braço a torcer.

 O sol está alto quando os meninos estão saindo da piscina. Conversando em um canto, alguns garotos riem alto. Tomás passa por eles indo até Diego.

-Tão falando das garotas. –Tomás pega a toalha e enxuga o cabelo.

-E daí?

-Da minha garota.

-Ah... Você não quis voltar com ela, os caras caem matando mesmo.

-Nem vem que o seu também tá na reta.

-Como assim? –O rebelde amassa a toalha enquanto ouve.

-Eles tão em cima da Roberta que nem abelha no mel.

 Diego trinca os dentes ao ouvir. Sem perceber, Tomás continua.

-Ela esnoba eles, mas os caras insistem pra caramba. Sei não, Diego.

 Nesse momento a garota aparece com seu biquíni negro, simples e do tamanho ideal para fazer os garotos pararem para olhar.

 Um cutucava o outro e a olham sem piscar. Roberta nem os vê, somente mergulha na piscina, é a única menina presente, mas não se importa. Quando sai, passa frente aos meninos, pega a toalha e um deles, que, diga-se de passagem, era muito bonito, faz gracinha.

-Quer ajuda pra se secar, gata?

-Se você fosse um secador, quem sabe... –E Roberta sai com um sorriso sarcástico sem reparar que do outro lado, Diego tinha várias interpretações da cena.

 Os meninos a acompanham com os olhos até que ela entra. Nem percebem que alguém chega muito irritado.

-Posso saber o que tão olhando?

-Você que não é, né Diego! É aquele corpinho lindo que você dispensou.

 Os olhos dele pareciam loucos de ciúme e essa conversa rendeu mais do que imaginariam.

 Poucos minutos se passaram depois dessa, mas quando Diego chegou ao quarto de Roberta, sua aparência lhe deixou assustada.

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PS: Parabéns atrasado p Júlia! Bjin amor!