Cap 82- Interrogatório

 Roberta fica em completo silêncio enquanto o azulejo frio toca suas costas em contraste com o corpo úmido e quente dele sobre sua barriga. O vapor da água ligada faz o ambiente ficar com uma névoa ao redor deles, um vapor que subia e ao tocar a parede escorria em forma líquida.

 Quando finalmente Rodrigo sai do quarto, Diego vai retirando a mão de sobre a boca dela, que no susto ele nem percebera estar apertando. Conforme a mão vai saindo, os dedos vão passando de leve, sentindo a textura daqueles lábios tantas vezes chupados com cede por ele.

 Os olhos não saem dos de Roberta. Ela fica fixa nele e o rapaz corresponde, ambos de um jeito meio fora do ar.

 A boca dele não se mexe, mas ela sente o ar sair dela. Sem que percebesse estava todo o tempo com as unhas apertando a cintura dele. Reflexo do susto de ser puxada e era onde havia se firmado. Mas agora consciente disso afrouxava as mãos, que com as palmas iam discretas e lentas de cima a baixo pela pele dele. Diego, ao contrário, não afrouxa quando percebe que tinha deixado Roberta presa na parede, ele leva o quadril nela e a pressiona ainda mais contra os azulejos frios. Sua toalha molhava a blusa e a saia dela, balançava encostando também nas pernas nuas que seguravam o tremor.

 Ele ainda estuda o rosto dela com as mãos, parecendo inconsciente do que acontece. O lábio vermelho ele o vê como uma fruta que queria provar, mas antes de tudo sente a necessidade de tocar, para ter certeza que está mesmo ali à sua frente. Ficam tão perto do beijo que os olhos dela se apagam, quando o polegar dele marca o caminho onde depositar o beijo alguém entra.

-Diego? –Leonardo entra no quarto fazendo Roberta e Diego se largarem.

-Oi pai, eu... Eu to no banho!

-Tudo bem, vai ser rápido. Queria ver somente se está bem, o que aconteceu ontem me deixou preocupado. Aquela menina, como é o nome dela?

-Vitória.

-Isso.

 Roberta olha para o nome que sai da boca de Diego e se espanta.

-Ela me disse que está tudo bem. Foi bom que estivessem juntos, não quero saber que fez isso de novo, tá ouvindo?

-Eu não vou mais fazer isso pai, te prometo. E eu to ótimo, não se preocupe.

-Tudo bem então. Ei filho? Você acha que a Vitória gostaria de uma caixa de bombons?

 Roberta deixa o queixo cair e fica furiosa.

-Com certeza. –O garoto afirma.

-Que ótimo. -Leonardo fica satisfeito. –Vou deixar sobre a sua cama então para você entregar a ela e vou em seguida.

-Ok.

 Quando o empresário tira sua imagem elegante de dentro do quarto, Diego abre tranquilamente a porta e sai como se Roberta nem estivesse lá dentro. A menina vem em seguida, com muita raiva, os braços se cruzam e o encara.

-Bombons?

-Você quer um? –Diego pega a caixa muito calmo e abre.

-Pega isso e...

-Óooh! –Ele corta a frase.

-Eu não ia dizer nada...

 Roberta não diminui a irritação, principalmente por perceber como Diego a ignora.

-Não vai falar comigo?

-Você quer falar o que? –Ele se vira a ela.

-Sobre o que aconteceu ontem! Mais o que seria?

 Alguém bate outra vez na porta. Com certeza o rapaz nunca havia sido tão solicitado.

-Diego, é Vitória, posso entrar?

-Entra.

-Licença, eu... –A menina se assusta. –Desculpa, não quero interromper...

-Não está interrompendo, a Roberta já estava de saída.

-Tava nada! –Ela desmente.

 Diego não dá atenção e entrega a caixa de bombons à Vitória, ignorando a presença de Roberta.

-Aqui, pra você.

-Bombom! Eu adoro!

-Dá espinha. –Roberta comenta sem ser levada em conta.

-Meu pai pediu pra te entregar em agradecimento por ontem.

-Ah, que fofo!... –A menina recebe a caixa contente. –Agradeça ele por mim.

-Pode deixar. –Diego sorri simpático. –Mas você queria me dizer alguma coisa?

-É sobre ontem. –Ela faz uma pausa olhando para Roberta. –Ela sabe?

-“Ela” está presente e tem boca pra responder tá?

-Ela não tem nada com o assunto e já está de saída. –E o rebelde pega no braço de Roberta levando a menina para fora.

-Ei, Diego! –Ela puxa o braço num arranco.

-Depois a gente conversa.

-E você vai ficar assim, de toalhinha aqui com ela?

-Tem algum problema?

-Você fala por causa das fofocas que tão rolando? –Vitória entra no meio. –Você não contou pra ela Diego?

-E o que ele tinha que me contar?

 Os três ficam perdidos no assunto até que Diego solta sem pestanejar.

-Que a gente ficou ontem? Não achei que fosse necessário.

 Roberta fica sem reação instantânea, aperta os olhos por um momento e balança a cabeça como se tentasse acordar.

-Vocês o que? Como? Tá louco Diego?

-Não. Agora sai que nós dois queremos ficar sozinhos, não percebeu ainda?

 Roberta poderia ficar ali e falar milhares de coisas e até brigar, mas o coração não tinha muitas partes em estado normal nessas horas, o que deu forças a ela para se mover foi o orgulho e a autopreservação.

A menina sai batendo a porta com violência e pisando o chão como se ele fosse o culpado.

-Diego, o que foi isso? –Vitória cruza os braços esperando resposta.

-Tá, desculpa ter mentido. A gente não ficou, você foi muito maneira de ter me ajudado ontem. Eu fiquei com muita vontade...

-De beber, eu sei. Eu tive meus problemas com drogas e sabia que você não podia ficar sozinho.

-Daí tentou me convencer a ir pra casa até que só de madrugada a gente acabou indo. Foi muito legal da sua parte.

-A Sílvia foi muito legal de me deixar dormir lá. Mas se eu fosse você contava logo pra Roberta porque tá todo mundo achando que...

-Eu não me importo. –Ele finge.

-Olha, eu fui sua amiga sim, mas confesso que se você quisesse teria rolado alguma coisa. Você é um gato. Só que você ama a Roberta, então deixa de ser bobo e conversa com ela, tá.

Vitória sai do quarto deixando Diego pensativo. O garoto não sabe realmente se quer ouvir Roberta. O pior é que a raiva que sente é de si mesmo quando acredita nela, quando a confiança parece maior do que a realidade. Mas o orgulho teimoso não permite que ele siga isso e o deixa somente com uma raiva instalada no peito.

 Roberta vai rapidamente e de cabeça baixa pelo corredor até que bate de frente com Tomás.

-Tá cega minha filha?

-Desculpa.

 E quando ela sai, Tomás fica parado muito pasmo.

-A Roberta me pediu desculpa? –Ele olha de um lado e outro, depois em um quadro na parede e sorri. –Pode aparecer gente! Cadê as câmeras? Eu sei que é pegadinha!

 O garoto sabe que tem alguma coisa errada com ela, coisa que só Diego poderia esclarecer. E com isso vai até o quarto para interrogá-lo.

-Você e a Roberta brigaram? –Ele abre a porta.

-Nossa, todo mundo combinou de me visitar hoje? –Ele acaba de vestir a calça enquanto responde.

-É sério cara, ela parecia mal... Vocês terminaram?

-Não. –Ele é calmo.

-E então? Que você fez pra ela?

-E porque tem que ser eu que fiz?

-Regra número um: O homem é sempre o culpado.

-Ah, é? E quem inventou isso?

-As mulheres... E não sou eu que vou discordar delas...

-Ok. Senta aí que eu vou te contar tudo.

 Após ouvir toda a história de Diego, Tomás diz o que pensa:

-Pra mim esse Pablo é um otário! Você disse que a Roberta nem reagiu não foi? Ela podia tá dopada, não pensou nisso?

-Você acha? –Diego começa a ter fé na inclinação que tinha para crer na namorada.

 A conversa durou ainda bastante tempo até a aula de Marcelo. No feriado do dia seguinte eles teriam um trabalho em grupo a fazer, coisa típica de professor, colocar trabalho no feriado.

 Roberta e Diego até haviam tentado sair do grupo, mas a escolha de Marcelo para a formação destes havia sido incontestável. Seriam mesmo, Diego, Binho, Roberta e Vitória, juntos para fazer uma maquete para o trabalho de história.

 “Casa da Roberta às 6 da tarde. Esse foi o combinado.”

-Eles não vêm. –Roberta olha para Diego emburrada.

-Por quê?

-Disseram que foi sacanagem do Marcelo e que vão aproveitar o feriado. Mas e aí? A gente vai fazer?

-Claro. Vale nota, anda vamos acabar logo com isso.

 Há um silêncio no quarto de Roberta naquela tarde de quarta feira enquanto trabalham sobre o isopor. Estão sozinhos no andar de cima fazendo o que precisam de má vontade.

-Ai! –Ela se levanta.

-Que foi?

-Machuquei o dedo nesse alfinete.

-Deixa ver... –Ele se aproxima.

-Não precisa.

-Você tirou a pedra que eu tinha colado... –O rosto dele de indiferença ainda incomoda Roberta.

-Ah, sua preocupação é com a pedra!?

-Claro, você estragou tudo! Parece que é um dom seu! –Diego pega a maquete nas mãos e o que diz tem mais de um sentido.

-Estraguei, foi? –Ela vira a montagem das mãos de Diego e acaba com tudo que haviam feito.

-Você é doida!

-Percebeu tarde, baby!

-Olha o que você fez!

-Dane-se!

 E quando Roberta se vira para sair, escorrega em uma das peças quase indo ao chão. Antes no entanto, Diego já está agarrado à cintura dela segurando seu corpo evitando sua queda.

 Ele a levanta e percebe o coração dela agitado junto ao seu. Se olham por um longo momento. O contorno dela quase o desnorteia, mas ele a solta.

 Roberta vai para trás ainda com os olhos nele que procura algo inexistente no chão.

-Roberta você está?...

-Cala a boca. –E ela o puxa pela gola da camisa de volta, segurando sua nuca enquanto penetra em seu ser inteiro pela boca em um beijo mais que desejado por ambos.




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