Cap 100- "Felizes para Sempre"

 Tomás e Pedro recebem as namoradas e as cumprimentam fascinados. Diego fica por último e tem um semblante sonhador ao vê-la ainda mais bonita do que nunca.

-Vocês estão iguaizinhos aos “Homens de preto”. –Ela ri ao descer.

-E você tá a coisa mais linda que eu já vi.

-Ah... –Ela envolve os braços nele que termina de descê-la segurando sua cintura enquanto se beijam.

-Hm... Tirei seu batom. –Ele passa o dedo no canto da boca dela tentando concertar.

-Se foi pra você tirar que eu passei...

 Diego ainda a beija mais um pouco antes de seguir até onde o baile de formatura ocorria, mas quando finalmente chegam, têm a sensação de estarem em um filme.

-Ué, sem ponche? –Roberta retifica a mesa e pega um doce.

-Acho que não vão anunciar o rei e a rainha do baile, mas quer dançar comigo? –Ele a chama segurando em sua mão.

-Claro! Afinal, se fossem seria a Alice e o Pedro mesmo!

-Ah... Duvido, você é a garota mais linda aqui.

-Você vê assim porque me ama!

-E porque meu oftalmologista disse que eu enxergo muito bem, tá?

 Roberta sorri à medida que chegam ao centro para dançar. Uma música suave com uma doçura a embalar os voos da saia do vestido dela a brincar nas calças dele.

 Braços no pescoço...  Mãos pela cintura... Um ir e vir preguiçoso e talvez um instante totalmente sem pensamentos ao debruçar o queixo no ombro dela. Toma conta deles uma fuga da horas por um piscar de olhos. Estão em volta todos os amigos a falar alto, alguns a namorar, a dançar e outros a ficar no canto, tímidos. Ainda são jovens demais para saber que o medo não dá cria, ou para compreender seu significado.

O lugar ainda está enfeitado por lâmpadas prateadas e a mesa outra vez repleta de guloseimas de festa.

Alice e Pedro se sentam em uma mesa após a dança.

-E o que houve com Pablo e Rodrigo?

-A polícia conseguiu encontrá-los antes que fugissem. –Pedro explica. –Ficaram tão preocupados que até se esqueceram do Otto, mas acho que o único que vai se dar realmente mal é o Pablo.

-Ele é quem mantinha o menino aqui, né?

-É... Além disso, ele ficou rondando as nossas casas procurando o moleque, parece que ele tinha escondido uns papéis de que precisavam. O Rodrigo acabou entrando nisso pra ajudar o irmão.

-É estranho que o mais tímido foi se revelar o mais louco dos dois...

-Do que falam? –Carla surge com Tomás e eles acabam por mudar de assunto.

-Nada que valha a pena continuar... Vamos falar do amanhã!

-E viver o hoje... –Alice completa Pedro.

-Então tá! Vamos aproveitar o que a vida tem de melhor. –Carla olha para Tomás.

-E as coisas boas que nos dá...

 Os casais vão profetizando dentro deles os seus sonhos e a partir de então, tornando-os completamente possíveis.

 A noite vai se encerrando, mas antes mesmo que todos começassem a partir, Diego e Roberta já estavam distantes do baile. Caminham no jardim; ele com sua imagem de gala, ela como uma das estrelas do céu. A nuca exposta não escapa de alguns dentes que se cravam cuidadosos e arrepiantes, assim como aquela imagem toda dos dois nunca sairia deles.

 Ao descer as escadas do porão, tecem beijos entre risos extrovertidos. Diego está vidrado nos olhos dela, onde a maquiagem deixa desabrochar duas esferas de ouro.

 Ele tem um brilho diferente ao redor e um ar de encanto como dos príncipes e isso deixa Roberta hipnotizada, como se saísse da realidade sempre que punha os olhos nele.

 No sofá daquele porão, os dois passam bons minutos de namoro outra vez. Sempre um carinho nas mãos, um leve pousar de um beijo sobre a face e momentos até mesmo em silêncio total... A última cena das tantas que já haviam protagonizado.

-Dá pra imaginar que passou tão rápido? –Ela mexe no cabelo de Diego. –Tanta coisa aconteceu aqui... E nós dois que no começo nos odiávamos...

-Hoje nos amamos.

-Descobrimos o que isso significa, não foi?

-Significa... –Diego beija a mão dela. –Que eu faria tudo pra te ver sorrir.

-Eu também... Estarei ao seu lado sempre, sempre... –Roberta começa a sorrir do nada. -Que cena clichê a nossa! Tá que nem final de novela.

-E não seria isso? Um final?

-Ah... Não... –Ela chega mais perto. –Eu quero muitos outros capítulos com você...

-Mas e se eu não quiser assim?

-Como? –Ela tenta entender o que ouve.

-Roberta eu me decidi.

-Do que você tá falando?

-Eu vou me mudar para aquele apartamento em que a gente esteve no feriado.

-Não! Diego, ele fica muito longe de onde eu vou morar e...

-Eu disse que decidi.

 Roberta se cala inconformada e vê Diego catar sua mão e colocar entre as dele, com um sorriso discreto no rosto. Ela sente algo sendo deixado ali.

-Mas o que...? –Ela percebe uma pequena chave dourada e coloca diante dos olhos.

-Quero que venha comigo.

-... –Roberta fica sem resposta e somente ouve.

-Lembra? Um cantinho só nosso? –Ele acaricia seu rosto. –Quero continuar essa história com você, não só capítulos, uma história inteira...

 Ela sorri ora para ele, ora para a chave, em um gesto quase atordoado.

-Nós dois?...  Na mesma casa? É sério isso?

-Eu fiquei imaginando... –Ele não se desfaz do sorriso sereno e o rosto dela nunca havia sido tão acariciado. –Imaginando como seria poder acordar todos os dias e te ver... Poder conversar com você sempre que eu quisesse... Imaginando a gente vendo filmes na sala, cozinhando alguma comida horrível na cozinha, por que nenhum dos dois sabe cozinhar de verdade...

 Eles riem e Diego continua.

-Fiquei imaginando se eu teria que esperar acabar a faculdade, conseguir um emprego e tudo mais pra poder fazer isso...

-Diego...

-Eu sei que somos novos demais... Mas se eu teria que dividir o apê com um bando de cuecas até me formar e você...

-Com um bando de calcinhas?...

-É... –Ele concorda rindo. –Talvez a gente pudesse tentar algo diferente do que a maioria vai fazer.

-Dizem que a convivência pode afastar um casal. Não que eu acredite, mas...

-Sabe o que acho? –Ele interrompe.

-Hm?

-Que se for pra dar certo ou pra dar errado a gente não precisa esperar tanto pra saber e correr o risco da vida, sei lá... Nos levar pra longe um do outro.

-Isso não vai acontecer...

-Eu vou começar a arrumar tudo durante as férias, então não tenha pressa em responder, eu sei que...

-Sim.

-Sim? –Ele se assusta.

-É! Sim!

-Mas sim, você vai pensar ou sim...?

-Sim eu quero ir com você!...–Roberta pousa a imagem dele na mente e diz com toda certeza que existe: –Eu te amo!

-Tanto a ponto de apostar tudo na gente?

-Até as cartas que não tenho...

 Diego recebe o coração na garganta com o sorriso dela, poderia fitá-lo sem parar se a vontade de beijar sua boca não fosse ainda maior. Eles se devolvem ao namoro. Quando percebe que está a ponto de não conseguir parar o beijo, Diego se afasta.

-Acho que todos já foram embora... –Ele retoma o ar para o peito. –Vamos? –O rapaz se levanta com a mão segura na dela.

-Não... –Roberta o trás de volta.

-Não?

 Ela balança cabeça negando outra vez. Tem um jeito travesso de dizer pouco e fazer muito.

-Esse porão precisa se tornar inesquecível...

-Mas ele já é inesquecível... Aqui começou tudo! Nós, a banda...

-Você não entendeu...? –Ela sorri provocante e o segura pela gravata. –... O que eu quero?

 Diego capta pela vibração dela o sentido de tudo aquilo e devolve o sorriso com a mesma provocação, o que aumenta o desejo em Roberta.

 O beijo recomeça avançando o limite onde fica impossível se controlar. O longo do vestido negro vai sendo deitado no sofá e os ombros nus vão sendo beijados até onde termina o decote. O calor daqueles toques enquanto retira o paletó dele, a camisa e arranca dele a gravata, deixa uma febre interna quase a consumir a visão que tem da realidade.

 Um lugar que guarda muitos segredos morreria ou viveria até mais do que eles com aquele momento sempre em secreto. As paredes escuras e as tralhas espalhadas ali não contariam os íntimos toques praticados por eles. Não saberiam traduzir os sons nem os detalhes de cada curva dos corpos que se entrelaçam.

-Para sempre, olhos lindos? –Um sussurro baixo.

-Sempre meu amor...

 O abrir do fecho, o frio na barriga na queda das roupas, o encostar de uma pele na outra, o sugar dos sabores mais guardados com voracidade, as horas que passam enlouquecendo a visita que fazem mutuamente no corpo alheio, o encontrar dos gemidos nos ouvidos ao mesmo tempo, o suor impregnando a camada dos sentidos e a sensibilidade latejante que faz um pequeno toque contorcer toda a carne ao chegar ao clímax. Diego e Roberta param quando fica fisicamente impossível continuar. Vão amolecendo e entregando as pálpebras, traçando um abraço de proteção eterna no outro, retornando um beijo e um último olhar antes que o tempo os adormeça neste que é só mais um simples conto de Amor...

 Existem histórias com finais perfeitos, daqueles que acabam com cavalos brancos e um “The End” em letras cursivas, que faz tudo parecer sonho. Mas imagine que sem graça a vida parar com um beijo na porta da igreja, ou com uma fuga do “Reino distante”! Onde fica o resto? A cama bagunçada, o cabelo arrepiado e olhos inchados na manhã seguinte?... Quem nunca quis ver isso? O conto de fadas é a vida, pura e verdadeira do ser humano anônimo... Está onde é sempre possível dar um passo além do

 “Felizes Para Sempre”.

Fim




<<Cap 99      Cap 1 Faculdade>>