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Cap 121 - O encontro

Com licença..." Uma enfermeira jovem e baixinha vem até Diego com certa timidez. "Você é o pai da menininha que saiu fugindo da escola quando soube do acidente dos pais, não é?"
"Como você...? Quer dizer, sim, é minha filha."
"Todos aqui ficamos emocionados quando lemos a notícia no jornal. Estamos rezando para que vocês se reencontrem logo."
Diego faz um aceno com a cabeça e sorri em agradecimento. Quando olha para trás vê várias pessoas conversando em torno da enfermeira. Pelo que parece, a história está se espalhando muito rápido.
"Trouxe um café pra você." Pedro se senta ao lado dele e lhe entrega um copo de café preto tão quente que a fumaça sobe em pequenas ondas até o rosto de Diego. "Você não saiu daqui pra nada, precisa comer alguma coisa ou não vai parar de pé. A Roberta vai te encontrar só o osso."
"Você fala como se tivesse tanta certeza." A voz dele é amarga. "E se ela não acordar?"
Pedro não sabe o que responder. A verdade é que não sabe como agir nesse tipo de situação. Está preocupado, triste e desesperado também, mas alguém precisa ser calmo. Não basta as meninas chorando e Tomás perdendo o rumo das coisas, também ele vai surtar? Não, alguém precisa segurar a barra, só não sabe exatamente como é possível fazer isso quando também está com medo.
"Vamos esperar..." É tudo que consegue dizer.

"Não quero que a Nina fique sem mãe como eu fiquei... E não quero me tornar um pai como meu pai se tornou, um amargurado... Mas não quero viver sem a Roberta, não saberia viver sem ela... E agora entendo porque meu pai se tornou o homem que se tornou... Não consigo nem respirar direito só de pensar... O que seria a minha vida sem ela?" Diego olha para baixo enquanto o café queima seus dedos. "Eu acordo todo dia e o rosto dela é a primeira coisa que eu vejo, o cheiro dela é a primeira coisa que eu sinto... Há tantos anos somos eu e ela na mesma casa, temos a nossa família e estamos tentando dar carinho e ensinar tudo que é necessário pra nossa nossa filha crescer bem e feliz. E nós somos tão felizes... Será que é errado ser feliz? Tão feliz como nós somos?"
"Não, cara."
"Não? E se for?" Diego o encara, mas Pedro não tem resposta. "Ela sempre diz coisas à Nina que eu não saberia como dizer. A Roberta conta histórias antes de dormir, as melhores são sobre dragões e princesas, mas são princesas diferentes que derrotam os dragões com suas espadas poderosas e descem sozinhas da torre para brincar no parquinho com outras princesas corajosas. A Nina espera todas as noites para ouvir as histórias... E eu espero sempre as luzes apagarem para que a Roberta se deite do meu lado. É quando sei que o dia terminou bem, por mais difícil que tenha sido, e também sei que o amanhã vai valer a pena porque ela está comigo. Ela é o motivo de eu ver a vida como uma coisa boa. Eu estaria ainda sozinho, bebendo e jogando minha vida fora se ela não tivesse mudado a minha vida. E se não for mais assim? Como vão ser os meus dias?"
Os amigos retornam todos ao mesmo tempo e ouvem um pedaço da fala do amigo, sentindo todo o clima pesado que os cerca.
"Vamos, Diego, vem comer alguma coisa, tá mais branco que essas paredes. A Nina logo vai estar com você. Como vai cuidar dela assim?"
Alice dá um cutucão em Tomás.
"Nós somos os padrinhos e podemos cuidar dela nesse momento."
"Não, ele está certo." Diego se levanta. "Vou lavar o rosto e comer alguma coisa. A minha filha não pode me ver assim, vai se assustar e fazer perguntas que eu não vou saber responder. Ela não precisa passar por isso."
A turma se senta e troca olhares quando Diego sai. Sabem que ele está se lembrando de quando perdeu a mãe e parece definhar com a ideia de sua vida e a de Nina desmoronar se perderem Roberta.
Não se passa muitos minutos até que se sintam verdadeiramente incomodados com a falta de notícias. É quando o telefone de Alice vibra e ela vê uma mensagem do pai que diz "Bom dia, filha. Vou passar para ver a Nina e sigo para o hospital, alguma novidade sobre a Roberta?"
Alice começa a responder com um "Oi, pai" e suspira com pesar antes de começar a escrever um "Não, não temos novidade." quando um médico vem até eles.
"Ela está acordada." Três palavras que os alerta instantaneamente. "Ela está chamando por Diego. É algum de vocês?"
Os amigos riem e mal conseguem responder ao homem.
"Eu vou avisar pra ele!" Carla sai correndo enquanto Tomás se joga no sofá como se um peso enorme saísse de suas costas.
"Mas ela está fora de perigo?" Pedro interroga. "Tem alguma sequela?"
"Até agora parece que está tudo bem. Ela só está um pouco confusa, mas isso é normal. Vamos esperar."
Alice pega o telefone e apaga a mensagem que estava digitando e em seu lugar escreve "Pai, traz a Nina! A Roberta acordou!"

***

Nina acorda bem cedinho e desce as escadas devagar, ainda de pijama. Se senta no degrau do meio com os cotovelos sobre os joelhos e as mãos segurando o rosto... As bochechas cobertas pelos cachinhos arrepiados.
“Nem um pinheirinho...” Ela lamenta e faz bico, claramente irritada.
A casa ainda vazia parece uma caverna. Cada passo produz um eco. Isso a aborrece...
A porta da frente se abre de repente e é o avô chegando. Ele olha para os lados e logo a vê sentada na escada, mas não lhe dá atenção, apesar dos olhares esperançosos que a menina direciona a ele. O homem apenas se vira para a empregada, que o recebe com ansiedade.
“Bom dia, senhor, separei os documentos que meus patrões pediram para te entregar. É terrível que eles estejam viajando justo quando algo assim acontece.”
“Obrigada, Dani. Realmente é terrível. Minha mulher e filhos também estão viajando. Todos enlouqueceram quando souberam do acidente.”
“E como o casal está, senhor?”
“Bem. Meu filho está bem, já a minha nora não teve muita sorte. Eu falei com as autoridades e o motorista que bateu neles não teve culpa. A pista estava muito escorregadia naquela curva.”
“Que coisa horrível.” Dani leva a mão ao peito enquanto Leonardo se vira para sair e ao mesmo tempo retorna, se esquecendo de algo importante.
“Ah, está vendo aquela mocinha na escada? Vista algo apresentável nela, por gentileza. Vou levá-la ao hospital.”
Nina se põe de pé em um segundo, trocando a cara emburrada por um sorriso, sendo tomada de energia outra vez.
Sorridente, Dani corre escada acima em sua direção, dando tapinhas em seu bumbum.
“Anda, menina, vamos! Você ainda nem escovou os dentes!”
Nina desce poucos minutos depois, vestindo o vestido vermelho que a tia Márcia havia comprado para ela em seu último aniversário, mas que só agora lhe servia bem. Queria estar bonita como em seu sonho e Dani fingiu não saber que aquela era a roupa que Eva esperava que a menina usasse no dia de Natal.
A cada degrau os cachinhos saltitam na ombros e os olhinhos brilham ainda mais quando elanse aproxima de Leonardo.
“Vamos, vovô! Vamos! Está tarde!” Ela agarra sua mão e sorri se contendo para não dar pulinhos como de costume. O avô estuda a neta de rostinho sapeca e gentil. Não resiste e lhe oferece um sorriso, põe a mão em sua cabeça e a aprova, tentando se conter o máximo possível diante de tanta empolgação e elegância em um ser daquele tamanho.
“Você está muito linda, querida. Seus pais vão ficar muito felizes em te ver.”
Ele abre a porta e ambos saem. São os passos mais ansiosos que a menina deu em toda sua curta vida.

O trajeto até o hospital é longo. Nina sente que é uma eternidade. Olha as ruas, o céu ainda cinzento e sente o estômago se revirar. Há muitos enfeites nas lojas e bonecos do Papai Noel de todos os tamanhos à venda, desde aqueles do tamanho de um polegar até os imensos, maiores que seu pai. Tem bonecos que cantam, acenam e tocam guitarra e há canções de Natal soando, árvores decoradas e luzes coloridas. Há também guirlandas de todas as formas, pessoas alegres e crianças escolhendo brinquedos ao lado de seus pais, avós, irmãos mais velhos e tios. Ela só consegue pensar no quanto queria estar fazendo o mesmo...
“Vovô...” Ela chama baixinho e ele não responde. 
“Vovô...”
 “Ainda não chegamos.”
Nina coça o nariz que começa a entupir e estica o pescoço a todo momento para ver as ruas à frente. Olha tudo ao seu redor, vira de um lado e outro e fica desenhando estrelinhas no vapor do vidro.
Depois do que pareceu uma eternidade, o avô entra em algum lugar e estaciona o carro. Abre a porta de trás e a retira da cadeirinha. Ele dá a mão a ela e então seguem para o interior do hospital.
Depois de rodar um bom pedaço do lugar ao lado do avô, correndo para acompanhar seus passos largos, eles finalmente chegam. A primeira coisa que chama sua atenção é a voz do padrinho.
“Mascotinha!” O rapaz animado vem correndo, a pega no colo e joga para cima.
“Ouvi dizer que estava correndo uma maratona, é verdade?”
“Não.” Ela arregala os olhos e dá risada. Faz tempo que não o vê. “Eu só fiz um moooonte de gente correr atrás de mim, dindinho... Atchim!”
“Eita! Mas ganhou um belo de um resfriado com isso hein, pirralha?” Ele coloca a mão sobre a testa dela. “Mas, não, não está com febre.”
Quando a tia Márcia e a madrinha chegam, ela não se sente mais tão sozinha, passando de colo em colo e recebendo tantos beijos e abraços que chega a ficar tonta.
“Atchim!”
“Ai, princesa, pra que fazer isso?”
Nina fecha os olhos, pensando que as enormes unhas cor-de-rosa da madrinha Alice vão entrar em seu olho quando ela também resolve checar se a menina está com febre.
“Estou bem, dindinha...”
“Filha...” Quando Diego chega e a vê, solta uma respiração de alívio e alegria, correndo até ela. Ele a abraça apertado e olha para Nina como se verificasse se está faltando algum pedaço dela.
“Meu Deus, está tudo bem? Porque você fez isso, filha? Porque? O que estava pensando?!"
Os gritos dele a assustam.
"Eu... eu fiquei com medo, papai..." Os olhos dela se enchem de lágrimas. "Me desculpa..."
Ele a abraça apertado e sente um nó na garganta.
"Não chora, meu anjo, me desculpa... O papai está nervoso porque também ficou com medo."
Ela o encara com dúvida enquanto Diego seca seus olhos e beija sua bochecha.
"Fiquei com medo de não ver essa carinha sapeca de novo. Fiquei com medo de te perder. Então não faz mais isso, tá bom? Nunca mais."
Nina faz que sim com a cabeça.
“Você tá com um dodói grande, papai." Ela aponta para a testa dele. "Está doendo muito?”
“Não. Eu estou bem.” Ele sorri.
“E a mamãe? Ela também tá com uma coisa assim?”
“A mamãe está um pouco machucada sim, filha. Ela está mais machucada do que o papai. Você vai ver que ela está com algumas manchinhas escutas nos braços, mas já está bem. Não tem que se preocupar. Vamos entrar pra ver ela agora?”
“Sim! Sim! Sim!” Ela salta como um filhote de canguru.
“Mas não faça muito barulho, tá? Comporte-se. Não é correto trazer crianças a hospitais e não vai ajudar se você não ficar bem quieta...”
"Vou ficar quietinha... Shiu..." Ela cochicha e faz um sinal e silêncio com o dedo.
Quando Diego se afasta com Nina nos braços, Tomás chega ao lado dos outros e comenta:
“Como ele conseguiu isso, afinal?”
É quando todos sorriem de maneira cúmplice e Carla explica.
“Parece que a história da Nina ficou famosa entre os enfermeiros e médicos do hospital. A gente não precisou pedir muito para que cedessem. Estão todos esperando ela chegar e loucos para ver o encontro dos três."

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