A professora vai
conversar com alguém na porta e Vinícius, muito curioso, se levanta para ouvir
o que dizem. Nina vê quando o menino se assusta e faz sinal para que ela se
aproxime. A menina se levanta sorrateira e vai até ele.
“Escuta isso!” Vinícius
diz e ao mesmo tempo a empurra para mais perto.
“Eu sei, eu sei.
Mas eu não posso contar.” A professora cochicha “O que a Nina vai entender? Ela
só tem cinco anos! O acidente foi sério? A mãe dela? Ah, Deus! É melhor que ela
fique aqui até alguém da família vir buscar.”
“Tão falando de
você!”
Outros alunos se aproximam e também tentam ouvir. Confusa, Nina sente a barriga começar a doer. A professora continua a falar de forma ansiosa, mas está barulhento demais para entender alguma coisa. A última fala é a única compreensível.
“Eu vou ligar para
os avós dela e ver se podem vir buscá-la depois que a chuva diminuir. Você pode
ficar um pouco com as crianças pra mim, Julieta? Vou à diretoria fazer a
ligação.”
No mesmo instante
em que os alunos voltam correndo para suas carteiras, uma das senhoras que
limpam a escolinha entra. Ela usa uma touca e tem um enorme avental azul amarrado
bem firme na cintura redonda. Os óculos fundo de garrafa fazem seus olhos cor
de jabuticaba serem quase imperceptíveis.
Lia olha para Nina pelo
canto do olho, depois se debruça nos ombros da colega e cochicha:
“Será que seus pais
morreram, Nina?”
“Foi só a mãe, você
é surda?” Dudu, sentado na carteira da frente, interfere.
“Surdo é você! Eu
ouvi a professora falando, tá?”
“Deixa de ser
chata!”
“Nossa, ela vai
passar o Natal como órfã, que nem nos filmes.”
“Vai morar com o
avô! Ele é tão bravo!”
Nina sente as
lágrimas vindo, mas não deixa que caiam. Se levanta e corre até a frente, até o
lugar em que os pés da zeladora estão plantados.
“Tia, eu posso ir
ao banheiro?”
A mulher olha para
baixo, para a pequena criatura à altura de seu umbigo e depois para o relógio
da parede.
“Olha essa chuva!
Não quer esperar sua professora voltar?”
“Eu preciso muito
fazer xixi, tia.” Ela junta as pernas, fazendo cara de urgência.
“Não posso deixar a
sala, você vai ter que ir sozinha.”
“Tudo bem, eu não
tenho medo.”
Assim que recebe
permissão para sair, Nina desvia do caminho do banheiro e corre até a
diretoria. É claro que está com medo, mas precisa ser corajosa.
Ela vai cautelosa,
com cada passo muito leve, como se fosse um gatinho caçando. Entra devagar na
diretoria e então ouve vozes vindo de uma sala fechada.
“A mãe dela?” É a
voz da professora. “Não é possível. Meu Deus! Mas e o pai, como está?”
Nina ouve um
barulho de passos e se esconde debaixo de uma mesa de mogno próxima à porta. Vê
quando alguém passa à sua frente com enormes sapatos pretos.
“Ninguém vai poder
buscar a menina agora? Mas como vamos fazer?”
“Alguns de nós podem
ficar aqui com ela.”
Com os lábios
entreabertos, os cachos cobrindo as bochechas rosadas e abraçada aos joelhos, Nina
se encolhe no escuro. Sua pequenez se torna ainda mais evidente ali, fazendo-a
se sentir como uma daquelas gotinhas de chuva caindo no parquinho.
O pensamento voa
até a mãe. Ela não virá buscá-la. Talvez nunca mais volte. Talvez nunca mais a
veja. É quando sua cabecinha cheia de ideias malucas acende uma luzinha e ela engatinha
para fora da sala, assim que percebe que está deserta.
Ela corre rápido,
muito rápido, sentindo a chuva fria bater sobre seus cabelos e invadir seus
olhos. Sabe exatamente como encontrar os pais.
***
Quando Diego acorda, a primeira imagem que vê é de uma porta branca que, por alguma razão está se mexendo de um lado e outro. Ele leva a mão até a cabeça e seu coração dá um pulo forte ao recordar o acidente.
"Roberta!"
Uma enfermeira corpulenta de cabelos curtos e sorriso triste corre até ele e o acalma.
"Tudo bem, vocês sofreram um acidente, mas você está bem e estão cuidando de sua namorada, não se preocupe. Você vai poder vê-la logo, mas agora precisa ficar na cama."
"Ela está bem? Ela se feriu?"
Diego tenta sair da cama, mas a mulher o segura. Ele sente a cabeça rodar e o estômago embrulhar. Não sabe que droga lhe deram, mas com certeza ainda está fazendo efeito. Parece que ainda está em movimento, parece que ainda está na estrada e sente um impulso de segurar o volante, de frear e prestar atenção a tudo à sua volta.
"Me dê notícias dela, por favor, eu preciso de notícias dela... Preciso saber..."
"Eu prometo te manter informado de tudo, mas precisa me prometer que vai ficar na cama."
Ele suspira irritado, mas confirma com a cabeça. Sua vontade é levantar dali e ir correndo, rastejando, do jeito que for atrás de Roberta. Tem certeza de que não foi nada simples, tem certeza de que ela não está nada bem... isso o desespera, mas seu corpo não reage e sente que vai perder os sentidos, sem perceber que está sendo medicado outra vez.
"Isso irá acalmá-lo."
"Não."
"É para o seu próprio bem."
"Por favor..."
Quando os olhos dele se fecham, a mulher sai do quarto e o deixa ali, prostrado dentro de um sono sem sonhos, em uma inconsciência incômoda, de um cansaço que nunca termina.
A poucos metros dali está outro quarto e nele Roberta está deitada, com o pescoço imobilizado e vários médicos sobre ela a examiná-la, colocando agulhas e fios por todo seu corpo, monitorando seu coração e preparando-a para mais exames. Os olhos dela estão semicerrados e sua mente completamente ligada. Lembra-se de tudo, sente tudo e seu coração dispara.
"Preciso sobreviver..." Seus pensamentos se repetem. "Minha filha... Eu não posso morrer... Preciso sobreviver... Diego... Onde ele está?"
Sente uma dor muito forte nas costas quando os médicos e os enfermeiros a erguem e colocam em uma maca. Irá fazer exames, tem certeza disso. Não pode morrer, sabe que não pode morrer...
Barulhos, movimentos, fadiga... Sente a respiração agitada dos médicos sobre ela e o cheiro de remédio impregnado neles, em suas máscaras e jalecos. Hospitais sempre a incomodaram, sempre pensou que as coisas deveriam ser menos assustadoras, pois estar doente ou ter sofrido um acidente já é assustador o suficiente.
"Por favor..." Ela balbucia.
"O que disse?" Um deles abaixa a cabeça e coloca os ouvidos perto da boca dela.
"Diego..."
"Ande, depressa!" O médico repreende o enfermeiro, que se adianta para abrir a porta do quarto.
Roberta sente o olhar do rapaz se desviar dela e depois disso não volta a vê-lo. E de todas as horas seguintes, esse instante é o único do qual não se esquece. O pior pesadelo é estar consciente, mas o corpo não responder, é como se afogar porque seus braços e pernas paralisaram, como quando corremos de um perseguidor em um sonho, mas vemos que não importa o esforço, não vamos a lugar algum.
"Isso irá acalmá-lo."
"Não."
"É para o seu próprio bem."
"Por favor..."
Quando os olhos dele se fecham, a mulher sai do quarto e o deixa ali, prostrado dentro de um sono sem sonhos, em uma inconsciência incômoda, de um cansaço que nunca termina.
A poucos metros dali está outro quarto e nele Roberta está deitada, com o pescoço imobilizado e vários médicos sobre ela a examiná-la, colocando agulhas e fios por todo seu corpo, monitorando seu coração e preparando-a para mais exames. Os olhos dela estão semicerrados e sua mente completamente ligada. Lembra-se de tudo, sente tudo e seu coração dispara.
"Preciso sobreviver..." Seus pensamentos se repetem. "Minha filha... Eu não posso morrer... Preciso sobreviver... Diego... Onde ele está?"
Sente uma dor muito forte nas costas quando os médicos e os enfermeiros a erguem e colocam em uma maca. Irá fazer exames, tem certeza disso. Não pode morrer, sabe que não pode morrer...
Barulhos, movimentos, fadiga... Sente a respiração agitada dos médicos sobre ela e o cheiro de remédio impregnado neles, em suas máscaras e jalecos. Hospitais sempre a incomodaram, sempre pensou que as coisas deveriam ser menos assustadoras, pois estar doente ou ter sofrido um acidente já é assustador o suficiente.
"Por favor..." Ela balbucia.
"O que disse?" Um deles abaixa a cabeça e coloca os ouvidos perto da boca dela.
"Diego..."
"Ande, depressa!" O médico repreende o enfermeiro, que se adianta para abrir a porta do quarto.
Roberta sente o olhar do rapaz se desviar dela e depois disso não volta a vê-lo. E de todas as horas seguintes, esse instante é o único do qual não se esquece. O pior pesadelo é estar consciente, mas o corpo não responder, é como se afogar porque seus braços e pernas paralisaram, como quando corremos de um perseguidor em um sonho, mas vemos que não importa o esforço, não vamos a lugar algum.
Posta não Aline, nao estou aguentando de curiosidade, por favor não pode acontecer nada com a Roberta
ResponderExcluirMeu deus ela não pode morre, nem a nina pode se perde
ResponderExcluirPor favor continuar
Esperei tanto por essa continuação
Mega ansiosa para o próximo capítulo
Aline do céu, posta mais a Roberta não pode morrer, nem a Nina sair da escola sozinha .
ResponderExcluirPoosstaaaa maisssss!!!
ResponderExcluirNão estou aguentando de ansiedade para o próximo cap.