Havia uma mulher, seu
nome era Carmem. Estava arrumando algumas roupas em um cabide quando Roberta
entrou e a encarou por alguns segundos antes de correr ao seu encontro. Aquela
senhora muito calma e sorridente a lembrava da infância. Ela vestia sua mãe para
os shows e enquanto ela cantava, ficava com Roberta em seu colo, contando
histórias e mostrando peças de figurino, ensaiando pequenos shows no camarim.
“Meu Deus, você está
uma mulher.” Ela segura forte os ombros de Roberta e volta a abraça-la apertado.
“Sabia que algum dia eu vestiria você para um grande show.”
“Não acredito que é a
senhora! Achei que não trabalhasse mais com a minha mãe.”
“Ninguém nunca deixa
Eva Messi, meu amor.”
Com ajuda de Carmem, as
meninas se aprontam. Saias com brilho, meia calça, botas e pulseiras. Todas
estão com muita saudade disso tudo, até do frio na barriga. Ao saírem, se
encontram com os garotos no corredor.
“Dá pra parar de me
encher?” Tomás se irrita com Pedro, mas silencia quando as meninas se
aproximam.
“O que está havendo?”
Alice questiona. “Está quase na hora do show. Precisamos ensaiar.”
Todos a seguem em
silêncio, menos Diego e Roberta.
“Ele não quer falar com
a Carla?” Ela questiona. “Parecia furioso.”
“Ele disse que vai
falar, mas que não quer que a gente se meta. Vamos, se não eles vão notar e
podemos piorar a situação.”
O casal segue para o
ensaio enquanto do lado de fora o público aumenta. O jardim está decorado e um
palco foi previamente montado para eles. Nina ainda brinca com Danilo e Bruno,
correndo e atravessando por cima do gramado, tropeçando nas flores,
completamente suada. Os antigos estudantes do Elite Way estão conversando em
mesas redondas, rindo e relembrando os dias, contando todos os rumos que suas
vidas deram.
Quando Eva sobe ao
palco ao lado do diretor Jonas, e de Vicente, todos se voltam para ela e os
anúncios que se seguem. Ao mesmo tempo a banda se prepara atrás das cortinas.
“É muito bom ver essas
carinhas juntas depois de tantos anos. Gostaria de agradecer ao Binho e à Pilar
por organizarem esse encontro, por chamar a todos os colegas, professores e
funcionários e mobilizar tantas pessoas para essa grande festa. Sabemos que a
maioria de vocês está aqui de passagem, muitos moram fora do estado e até mesmo
do país. Todos têm suas e vidas, então, obrigada por atender ao chamado deles.
Foi realmente trabalhoso o que Binho e Pilar se dedicaram a fazer e um grande
gesto de amizade. Hoje é oficialmente o último show dos nossos queridos
Rebeldes, então, aproveitem.”
Ela passa o microfone
para Jonas, que respira fundo antes de falar.
“Bom, eu também
agradeço por esse encontro. E, também anuncio que estou me aposentando. O
colégio foi minha vida por muitos anos, mas agora eu vou precisar passa-lo para
alguém mais jovem, que pode transformar uma nova geração.” Ele faz um sinal e
Vicente se aproxima.
“Obrigada, alunos, por
todo o aprendizado que me possibilitaram e deem a salva de palmas ao novo
diretor: Vicente.”
O professor agradece a
Jonas, relembra sua jornada e se despede de todos, abrindo espaço para o show.
As cortinas se abrem.
Melodias e frases nostálgicas trazem um arrepio na pele, uma certeza de que viveram
grandes aventuras e paixões, aprenderam e sofreram na adolescência, como
deveria ser mesmo essa época da vida.
Roberta se entrega
completamente a esse último encontro, ainda sem poder digerir as palavras da
mãe. Sabe que os demais estão tão chocados quanto ela depois do anúncio.
Vicente é o novo diretor, Binho e Pilar organizaram a festa. Estavam em outra
dimensão?
Ao findar do show os
amigos agradecem os aplausos e se abraçam em roda atrás do palco. Aquele
momento de silêncio e suor, em que apenas se ouve a respiração cansada de cada
um ao seu lado. As cabeças baixas, os sorrisos no rosto. Eles se olham pelo
canto do olho e começam a deixar a alegria se desfazer. É a última vez que são
adolescentes, é a última vez em que experimentam esse sonho. Agora é o momento
de voltarem às suas vidas, aos seus trabalhos, às suas contas e às suas
responsabilidades.
Antes de todos se
dispersarem, Tomás segura a mão de Carla. Ela não oferece resistência, mas
evita olhar em seus olhos.
“Eu quero te ver bem.”
Ele diz. “E quero que a gente esteja bem. Mas, sei lá, Carlinha, não te sinto
mais aqui. O que você quer fazer? O que quer que eu faça?”
“Tomás...” Ela toma
coragem. “Você foi minha paixão, a melhor coisa que me aconteceu quando estava
no ensino médio. Me amparou e me amou. Nós nos divertimos e cuidamos um do
outro. Mas, agora, eu quero certezas. E você ainda está vivendo exatamente como
naquela época.”
“Eu não te entendo!”
“Eu vou embora.” Ela
sentencia. “Vou continuar meu tratamento em outro lugar. Vou trabalhar, vou ser
independente. Vou ser tudo que sempre quis. E vou sem você.”
“Não.” Ele balança a
cabeça. “Não está falando sério. Carla, nós brigamos, falamos besteira, mas
sempre voltamos.”
“Porque éramos jovens.
Agora não dá pra mim. Sinto muito. E eu preciso me tratar, preciso continuar me
tratando. E quero viver uma vida diferente.”
“Eu sei que isso não é
sério.” Ele se afasta, sorrindo e abalado. “As coisas vão se ajeitar. Não
acredito em você.”
“Padinho!” Nina chega
de repente e agarra sua perna. Tomás sufoca uma lágrima e a pega no colo. “E
aí, mascotinha, está com fome? Vamos comer?”
Carla sente o coração
apertado, mas não duvida do que está fazendo. Depois de hoje, talvez demore
muitos e muitos anos para voltar a encontrar todas as pessoas que estão ao seu
redor.
Alice e Roberta estão
se trocando no quarto quando um silêncio estranho se faz entre elas.
“Eu tenho um presente
pra você.” Roberta revela. “Quis adiantar, pois seu aniversário está chegando e
você sabe que não sou boa nisso de festas e tal. Mas eu não quero que abra
agora. Espere até eu sair, ok?”
“Ok.” Alice olha
desconfiada. “Não é nada cheio de tachinhas, né?” Ela brinca. “Ou uma aranha de
plástico? Porque eu vou te matar!”
Roberta estica um
embrulho pequeno e dourado, deixando um beijo na bochecha de Alice antes de
sair para o corredor à procura de Diego.
Alice abre a caixa e lê
o cartão:
“Para a melhor irmã que a vida me deu...”
Ela leva a mão ao peito
e desembrulha o restante do presente. É um documento, ou uma cópia, ela não tem
certeza. Mas quando lê as primeiras linhas, já compreende. Roberta e Diego
haviam confiado a filha a ela caso algo acontecesse a eles no futuro. Havia
ainda uma carta de Roberta ao fundo da caixinha.
“Alice,
Você é minha melhor amiga e eu te amo, mesmo você sendo
estranha. Ok, não é para ficar chateada, mas usa menos rosa, tá? E se eu
morrer, não enche minha filha de lacinhos, pelo amor de Deus!
Mas, como fomos te escolher? Pois é, você é a pessoa mais amorosa, paciente e forte que
eu conheço. Sei que daria a vida pela Nina, como se fosse sua filha. Ninguém me
deu tanto apoio quanto você na gravidez, e só você me entendia, mesmo que eu
dissesse que não. E sei que ninguém poderia amar tanto a minha bebê quanto
você.
Criança é difícil de cuidar e dá medo mesmo. Eu tive e
ainda tenho medo. Mas a verdade é que ninguém sabe o que está fazendo. Só sei
que aqueles que vão com amor tem muito mais chances de acertar.
Você não é só uma pessoa maravilhosa para todos que te
conhecem. Sei que será também uma mãe maravilhosa, como é uma tia e madrinha
maravilhosa. Só não precisa correr, né?
Seja feliz.
Beijos,
Roberta.
PS: Ela fica calma se você colocar no canal de desenhos.”
Nada a dizer... Só sentir!
ResponderExcluirObrigada, Aline.
- Camila.
Não entendi o final , a Roberta ta doente ? Ou sabe q vai acontecer alguma coisa com ela e o Diego?
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