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Cap 113 - O último show

Havia uma mulher, seu nome era Carmem. Estava arrumando algumas roupas em um cabide quando Roberta entrou e a encarou por alguns segundos antes de correr ao seu encontro. Aquela senhora muito calma e sorridente a lembrava da infância. Ela vestia sua mãe para os shows e enquanto ela cantava, ficava com Roberta em seu colo, contando histórias e mostrando peças de figurino, ensaiando pequenos shows no camarim.
“Meu Deus, você está uma mulher.” Ela segura forte os ombros de Roberta e volta a abraça-la apertado. “Sabia que algum dia eu vestiria você para um grande show.”
“Não acredito que é a senhora! Achei que não trabalhasse mais com a minha mãe.”
“Ninguém nunca deixa Eva Messi, meu amor.”

Com ajuda de Carmem, as meninas se aprontam. Saias com brilho, meia calça, botas e pulseiras. Todas estão com muita saudade disso tudo, até do frio na barriga. Ao saírem, se encontram com os garotos no corredor.
“Dá pra parar de me encher?” Tomás se irrita com Pedro, mas silencia quando as meninas se aproximam.
“O que está havendo?” Alice questiona. “Está quase na hora do show. Precisamos ensaiar.”
Todos a seguem em silêncio, menos Diego e Roberta.
“Ele não quer falar com a Carla?” Ela questiona. “Parecia furioso.”
“Ele disse que vai falar, mas que não quer que a gente se meta. Vamos, se não eles vão notar e podemos piorar a situação.”
O casal segue para o ensaio enquanto do lado de fora o público aumenta. O jardim está decorado e um palco foi previamente montado para eles. Nina ainda brinca com Danilo e Bruno, correndo e atravessando por cima do gramado, tropeçando nas flores, completamente suada. Os antigos estudantes do Elite Way estão conversando em mesas redondas, rindo e relembrando os dias, contando todos os rumos que suas vidas deram.
Quando Eva sobe ao palco ao lado do diretor Jonas, e de Vicente, todos se voltam para ela e os anúncios que se seguem. Ao mesmo tempo a banda se prepara atrás das cortinas.
“É muito bom ver essas carinhas juntas depois de tantos anos. Gostaria de agradecer ao Binho e à Pilar por organizarem esse encontro, por chamar a todos os colegas, professores e funcionários e mobilizar tantas pessoas para essa grande festa. Sabemos que a maioria de vocês está aqui de passagem, muitos moram fora do estado e até mesmo do país. Todos têm suas e vidas, então, obrigada por atender ao chamado deles. Foi realmente trabalhoso o que Binho e Pilar se dedicaram a fazer e um grande gesto de amizade. Hoje é oficialmente o último show dos nossos queridos Rebeldes, então, aproveitem.”
Ela passa o microfone para Jonas, que respira fundo antes de falar.
“Bom, eu também agradeço por esse encontro. E, também anuncio que estou me aposentando. O colégio foi minha vida por muitos anos, mas agora eu vou precisar passa-lo para alguém mais jovem, que pode transformar uma nova geração.” Ele faz um sinal e Vicente se aproxima.
“Obrigada, alunos, por todo o aprendizado que me possibilitaram e deem a salva de palmas ao novo diretor: Vicente.”
O professor agradece a Jonas, relembra sua jornada e se despede de todos, abrindo espaço para o show.
As cortinas se abrem. Melodias e frases nostálgicas trazem um arrepio na pele, uma certeza de que viveram grandes aventuras e paixões, aprenderam e sofreram na adolescência, como deveria ser mesmo essa época da vida.
Roberta se entrega completamente a esse último encontro, ainda sem poder digerir as palavras da mãe. Sabe que os demais estão tão chocados quanto ela depois do anúncio. Vicente é o novo diretor, Binho e Pilar organizaram a festa. Estavam em outra dimensão?
Ao findar do show os amigos agradecem os aplausos e se abraçam em roda atrás do palco. Aquele momento de silêncio e suor, em que apenas se ouve a respiração cansada de cada um ao seu lado. As cabeças baixas, os sorrisos no rosto. Eles se olham pelo canto do olho e começam a deixar a alegria se desfazer. É a última vez que são adolescentes, é a última vez em que experimentam esse sonho. Agora é o momento de voltarem às suas vidas, aos seus trabalhos, às suas contas e às suas responsabilidades.
Antes de todos se dispersarem, Tomás segura a mão de Carla. Ela não oferece resistência, mas evita olhar em seus olhos.
“Eu quero te ver bem.” Ele diz. “E quero que a gente esteja bem. Mas, sei lá, Carlinha, não te sinto mais aqui. O que você quer fazer? O que quer que eu faça?”
“Tomás...” Ela toma coragem. “Você foi minha paixão, a melhor coisa que me aconteceu quando estava no ensino médio. Me amparou e me amou. Nós nos divertimos e cuidamos um do outro. Mas, agora, eu quero certezas. E você ainda está vivendo exatamente como naquela época.”
“Eu não te entendo!”
“Eu vou embora.” Ela sentencia. “Vou continuar meu tratamento em outro lugar. Vou trabalhar, vou ser independente. Vou ser tudo que sempre quis. E vou sem você.”
“Não.” Ele balança a cabeça. “Não está falando sério. Carla, nós brigamos, falamos besteira, mas sempre voltamos.”
“Porque éramos jovens. Agora não dá pra mim. Sinto muito. E eu preciso me tratar, preciso continuar me tratando. E quero viver uma vida diferente.”
“Eu sei que isso não é sério.” Ele se afasta, sorrindo e abalado. “As coisas vão se ajeitar. Não acredito em você.”
“Padinho!” Nina chega de repente e agarra sua perna. Tomás sufoca uma lágrima e a pega no colo. “E aí, mascotinha, está com fome? Vamos comer?”
Carla sente o coração apertado, mas não duvida do que está fazendo. Depois de hoje, talvez demore muitos e muitos anos para voltar a encontrar todas as pessoas que estão ao seu redor.
Alice e Roberta estão se trocando no quarto quando um silêncio estranho se faz entre elas.
“Eu tenho um presente pra você.” Roberta revela. “Quis adiantar, pois seu aniversário está chegando e você sabe que não sou boa nisso de festas e tal. Mas eu não quero que abra agora. Espere até eu sair, ok?”
“Ok.” Alice olha desconfiada. “Não é nada cheio de tachinhas, né?” Ela brinca. “Ou uma aranha de plástico? Porque eu vou te matar!”
Roberta estica um embrulho pequeno e dourado, deixando um beijo na bochecha de Alice antes de sair para o corredor à procura de Diego.
Alice abre a caixa e lê o cartão:
“Para a melhor irmã que a vida me deu...”
Ela leva a mão ao peito e desembrulha o restante do presente. É um documento, ou uma cópia, ela não tem certeza. Mas quando lê as primeiras linhas, já compreende. Roberta e Diego haviam confiado a filha a ela caso algo acontecesse a eles no futuro. Havia ainda uma carta de Roberta ao fundo da caixinha.

“Alice,
Você é minha melhor amiga e eu te amo, mesmo você sendo estranha. Ok, não é para ficar chateada, mas usa menos rosa, tá? E se eu morrer, não enche minha filha de lacinhos, pelo amor de Deus!
Mas, como fomos te escolher? Pois é, você é a pessoa mais amorosa, paciente e forte que eu conheço. Sei que daria a vida pela Nina, como se fosse sua filha. Ninguém me deu tanto apoio quanto você na gravidez, e só você me entendia, mesmo que eu dissesse que não. E sei que ninguém poderia amar tanto a minha bebê quanto você.
Criança é difícil de cuidar e dá medo mesmo. Eu tive e ainda tenho medo. Mas a verdade é que ninguém sabe o que está fazendo. Só sei que aqueles que vão com amor tem muito mais chances de acertar.
Você não é só uma pessoa maravilhosa para todos que te conhecem. Sei que será também uma mãe maravilhosa, como é uma tia e madrinha maravilhosa. Só não precisa correr, né?
Seja feliz.
Beijos,
Roberta.


PS: Ela fica calma se você colocar no canal de desenhos.”

Comentários

  1. Nada a dizer... Só sentir!
    Obrigada, Aline.
    - Camila.

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  2. Não entendi o final , a Roberta ta doente ? Ou sabe q vai acontecer alguma coisa com ela e o Diego?

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