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Cap 111 - Os seis

Quando Roberta acorda nessa manhã, com o sol sobre seus pés descalços, nota que Diego não esteve ao seu lado por algumas horas. A pequena janela do iate revela um dia muito bonito do outro lado do planeta em que ela pensava habitar. Está com um roupão branco e os cabelos desgrenhados. Lembra-se de que a noite foi longa e que o banho foi o último lugar em que esteve com Diego antes de caírem juntos mais uma vez naquela cama deliciosa de onde não queria mais sair.
Voltou a se jogar de costas nela e em seu rosto surgiu um sorriso grande ao se lembrar da noite anterior, do restaurante, do passeio na praia e na madrugada sobre o mar. Deslizou a mão sobre o peito e abraçou os braços, com a lembrança do toque de Diego sobre seu corpo, com a sensação da presença dele em sua carne, muito real.

Levantou-se, então, de uma só vez e correu para procurá-lo. Queria se jogar em seus braços outra vez, vê-lo sorrir e ouvir lhe dar bom dia com a voz rouca e os olhos inchados. Perguntaria se ligou para Alice, se falou com Nina, se ela tinha perguntado pela mamãe e se estava com saudades. Queria que pudessem estar os três navegando agora, sem pressa para voltar à rotina. Anotou mentalmente um agradecimento à Eva. Não conseguia negar atualmente o quanto sua mãe era maravilhosa e a sorte que tinha por tê-la em sua vida. Nem mesmo faria falta se o pai fosse uma parte desesperadora de sua realidade, um mal que não se apagaria. Tinha ela, e tinha Diego. Sabia também que à Nina não lhe seria dada à mesma realidade. Teria um pai maravilhoso por toda a sua vida.

***

Diego está na cabine de comando. Navega devagar, tentando se lembrar de todas as instruções que recebeu nos últimos tempos. A noite anterior havia sido incrível, umas das melhores noites de sua vida com Roberta. Gostaria de estar com ela agora, ainda dormindo, ainda aproveitando seu cheiro. Sente-se leve e feliz, com algo a tamborilar na garganta. Deve ser seu coração subindo a cada imagem que retorna da madrugada. É como se a visse no mar que se estende à sua frente, ou no céu de poucas nuvens que se confunde com as águas. É como se Roberta estivesse impregnado toda a sua vida e por todo o canto só conseguisse vê-la. Deve estar quase acordando, ele pensa. E virá até ali. Seria melhor que não viesse, pois não quer que veja para onde estão indo.

***

Quando Carla deixa as malas e retoma o celular do bolso, sente um frio percorrer a espinha. Não que o chamado de Diego não fosse importante, não que voltar a ver a afilhada e os amigos não fosse realmente importante, mas se pudesse escolher, evitaria o confronto com todos, com as experiências do passado. De volta e meia ao ver uma imagem deles no facebook ou instagram, todo seu mundo desmoronava. Sempre foi mais fácil fugir da realidade. Talvez, em algum momento, devesse enfrentar suas escolhas e fazer da sua vida algo mais firme, mas parece que de todos os seis amigos, é a única que ainda não sabe o que sente ou o que fazer com os seus dias. E ver todos caminhando, e apenas ela sem lugar, é como perder-se, é como estar em uma estação vendo todos partirem, e não conseguir embarcar. É estar sempre de pé olhando quem chega e quem vai, e sentir que a vida de todos prossegue, e a sua empaca nas decisões que nunca são tomadas. E Tomás... O que ele é afinal na sua vida?

***

Alice desistiu de tentar cuidar de Nina, e deixou-a resignada ao cargo de Dani. Senta-se no tapete com ela nessa manhã e se contenta em ser apenas mais uma criança com ela. Era muito mais fácil ser a madrinha que brincava, comprava presentes e tentava ensinar a ela os seus gostos apenas para irritar Roberta. Não que fosse realmente querer fazer com que quisesse usar rosa e rendinhas, assim como imaginava que Roberta também não fosse influenciar a filha a ter um visual louco e extravagante. Era tudo parte do hábito, da rotina de briguinhas a qual estavam ambas tão acostumadas. Amava aquela criança como se fosse de seu sangue, assim como amava Roberta. Amava sim. Era sua irmã afinal, não a irmã que nascera do mesmo útero, mas a irmã que a vida lhe deu. Às vezes queria ser mais madura, um pouco mais como Roberta ou como seu pai, mas estava compreendendo que para tudo há um tempo, e que cada um tem o seu. Nenhuma das duas viveu as mesmas coisas e a verdade é que não precisam viver. E agora, e por mais algum tempo, ainda deveria ser apenas Alice.

***

Pedro sempre se sentiu muito feliz de poder ajudar a mãe o irmão. Gosta também de se sentir maduro o suficiente para aconselhar o irmão adolescente, pois sabe em que lugares pisar e nos que não. Porém, algum cansaço tem sido difícil de aguentar. Um peso muito grande para suas costas não poder relaxar em nenhum momento, estar sempre pensando em como todos estão. Queria não pensar em nada algumas vezes. E foi assim que, dirigindo, chegou até sua casa pensando todo o caminho. Quando abriu a porta, no entanto, e viu Alice vir correndo até ele, jogando os braços sobre seu pescoço, algo se dissipou.
-Me desculpa por te preocupar. -Ela disse aos solavancos. -Eu quero estar aqui com você sempre, para te ajudar e te amar e cuidar de você. Não precisamos de filhos agora, ou de uma casa luxuosa, eu só quero nós dois pra todo o sempre.
Ele sorri surpreso e a abraça. É como se Alice assoprasse as nuvens escuras de sobre sua cabeça. Não se preocupava de verdade com o que ela queria ou não. Se ela quisesse a lua ele buscaria, isso não é o que importa. Só tê-la ao lado importa, só ter seu carinho importa. E voltar para casa e encontrá-la, era saber que tinha colo e poderia descansar em seus braços. O resto ele poderia aguentar.

***

A mascotinha gostaria do presente. Tomás observa e não tem dúvidas. Ansiava por brincar com ela naquela bicicleta e ouvi-la rir alto, aquela risada gostosa de bebê arteiro que tinha. Não recordava em que parte de sua vida havia deixado de ser criança. Gostava de ser assim, e de levar a vida com poucas preocupações e muitas alegrias. Mas algo estava errado e mesmo que seu rosto não demonstrasse, tudo em seu redor precisava de reparos. Mas não queria pensar nisso agora, nem nela, em Carla. Hoje era um dia feliz e isso não poderia ser quebrado.
-”Carpe Diem”, é o que dizem. -E saiu com um sorriso torto e a bicicleta debaixo dos braços. -A mascotinha vai gostar! Sei que vai!

***


 E enquanto as horas e os minutos se dissipavam, as seis pontas da estrela se aproximavam como há tempos um dia fizeram. A amizade, a juventude, tudo que passou e cresceu dentro deles, o mundo ao seu redor, os novos planos e os medos, tudo iria se encontrar outra vez... Uma última vez


Postarei o horário do próximo capítulo na minha página. Ative as notificações caso queira saber mais rápido:  https://www.facebook.com/alinestechitti1/

Comentários

  1. Aaaaaaah posta mais Alineee, não desiste da web. Amo vc

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  2. Aaaah, mais por favor. Meu coração não aguenta de tanta saudade desse casal, desse grupo.

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  3. Aaaah que ansiedade pro próximo capítulo, Aline vc é demais adoro sua web.
    Amo sua web pasta mas

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  4. Ah, esses seis ♡ É como se o tempo não tivesse passado...

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  5. A já quero mais,isso q da viciar as pessoas jovem

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  6. menina você é top, foi a primeira história da web que eu li, e com certeza o melhor livro que já li. Você é muito talentosa, que Deus te abençoe <3

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