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Cap 108 - Em um passado distante

-Gostaria de imaginar que eu não houvesse te odiado tanto naquele dia, Diego, mas você foi uma peste.
-Não tenho culpa se estava passando inocentemente por perto naquela hora. –Ele sorri de lado tentando conter a safadeza de seus pensamentos.
-Inocente, né? Você me viu pelada. 
-Quem dera.
Ela lhe dá um tapa.
-Ai, é sério, eu não vi nada. 
-Diz a verdade, vai. Como foi que isso aconteceu?
Ele suspira...
-Ok... Deixa ver se me recordo. Faz alguns anos... Bem... Acho que eu havia fugido do colégio com alguns amigos. Bom, não eram bons amigos na verdade. Nós íamos beber e namorar nas boates com identidades falsas. Os seguranças sabiam quem éramos, então era fácil.
Roberta se recorda daquela época. Como podiam todos ser tão tontos? A vida parecia uma comédia de risco.
-Quando voltei –ele prossegue – estava bêbado e me perdi. Os outros estavam piores que eu e não sei como voltaram ao quarto. -Disse, rindo. -Só sei que passei por muitas janelas e era tudo igual pra mim. As mesmas meninas chatas e caras idiotas rindo ou brigando. Eu me sentia muito superior a tudo aquilo. Mas, mesmo cambaleando, completamente grogue, ainda me lembro de quando ouvi você cantar. Pode não acreditar em mim, mas não fui tão safado assim. A primeira coisa que me prendeu os olhos naquela janela foi o desejo de saber a quem pertencia aquela voz. Foi quando você apareceu.
-Disso eu me lembro. Saí do chuveiro ainda cantando feito uma louca. A Alice não tava? -Roberta pôs o dedo no queixo e tentou lembrar.
-Não. Ela devia estar com as outras garotas. Não gostava nada de você.
-Nem eu dela. Nem sei como não nos matamos naquela época. –Sorriu e girou a bebida na taça. –Mas chegue logo a parte que você me espia. Ainda não me convenceu de inocência alguma.
-Calma que eu chego lá... Eu fiquei tentando olhar através das cortinas, mas você se virava todo o tempo. Até que ficou de costas para a cômoda, só de toalha. Me lembro de acompanhar uma gota d'Água deslizar de sua nuca quando você a deixou cair. Caramba, eu não me esqueço dessa cena.
-Não to falando! Olha isso!
-Não, não! Mas antes que meus olhos pudessem deslizar mais, eu mesmo caí.
-Até parece que eu vou acreditar nisso, né Diego! –Roberta aperta os olhos.
-Mas é a verdade. Eu não vi nada mais... Eu...
-Fala!
-Meio que o sangue do meu corpo todo se concentrou em uma só parte e eu me descontrolei.
Ela começa a rir.
-Não acredito em você!
-Sério. –Ele esfrega o rosto. –Nunca havia ficado com tanto calor... Você não tem ideia de como é para os caras, a gente não controla tudo no nosso corpo. Imagina a situação.
-Ah, Diego, você era bem pegador. Já devia ter visto outras meninas.
-Já... –Diego encolhe os ombros. –Mas foi diferente. Sempre foi diferente com você... Mais intenso, mais... Picante. –E a olha tão profundamente que a desconcerta.
-Tá, mas, voltando àquele dia... 
-Bem... –Diego recosta na poltrona e olha rapidamente as luzes do lado de fora da janela do automóvel, mesmo sem reparar em nada. –Quando voltei a olhar você já estava outra vez enrolada na toalha, mas agora estava na janela e com os olhos furiosos pra mim. Não sei se fiz muito barulho ou o que foi que me denunciou.
-Eu tinha te visto pelo espelho. –Roberta se diverte ao lembrar. –Achei que estava lá há mais tempo. Me olhando pelada. Eu gritei e perguntei isso e você não disse coisa com coisa. Notei que estava bêbado e isso não ajudou, eu odiava ver gente bêbada.
-Ah, imagina, nem notei quando o seu chinelo veio voando até a minha testa! –Ele esfrega se lembrando de como doeu. –Você foi bem cruel.
-Ah, mas era a intenção. –Roberta sorri de lado e toma um gole da bebida levemente adocicada.
-Mas eu não te odiei naquele dia. Ainda fiquei sonhando com você... Cantando... –Ele escorrega a mão pelo couro do estofado até encontrar a dela. –Sem nada te cobrindo, meu Deus.
Roberta puxa a mão.
-Eu sabia que você era um pervertidozinho e que tinha me visto.
-Bom, você não pode duvidar que eu ficava brigando com o sangue do meu corpo toda vez que te via, né! E que no chuveiro ou na cama a coisa ficava bem pior!
Roberta sente seu rosto queimar e não sabe se é pelo vinho ou pelo relato. Não consegue desviar as imagens que vem à sua mente. A imaginação vai longe e ela não sabe se ri ou se muda de assunto. Mas logo se decide.
-Quer saber? Pois eu não senti nada além de raiva de você. 
-Nada além disso? Nem naquele dia na piscina? –Ele a encara com um sorriso petulante.
-Eu estava bem.
-Você ia se afogar, Roberta.
-Eu acordaria. Você não precisava ter pulado e me agarrado lá dentro.
-Você se agarrou em mim com muita força. Fiquei com as marcas dos seus dedos nos braços.
-Foi um dia muito estranho. Eu nem me lembro direito.
-Lembra sim. Nem vem! –Diego se aproxima dela e volta a segurar sua mão. Ela o olha por um segundo e desvia o olhar. Não consegue ficar séria.
-Ok, eu confesso. Foi bom...
-Foi mais do que bom!
-Ééé! -Ela confessa a contragosto. –Foi sim...
-O que mais?
-Ah, eu não sei o que me deu naquele dia. –Ela morde a unha do dedão e tenta focar na janela, nos prédios passando rápido. –Diego... Eu não suportava te ver nos corredores ou na sala de aula. Toda vez que seu rosto aparecia meu estômago pegava fogo. Te expulsei do meu quarto a chineladas e pra mim tinha sido pouco, tá. Então, quando te vi bebendo com aqueles caras, quis te matar.
-Mas bebeu também!
-Não foi bem assim! Tudo começou por eu tentar que você parasse. Estávamos em uma festa dentro da escola e você levou álcool escondido. Podia se dar muito mal.
-E você se importou tanto que derrubou meu copo, pegou minha bebida e saiu correndo. –Eles riem.
-Ainda não sei explicar isso. Já havia alguma coisa, não é? Quer dizer, algo que eu sentia... Mas foi tenso, viu? O diretor me encontrou antes que eu achasse um jeito de jogar fora aquela garrafinha. Tive que beber antes que ele visse. Ainda bem que não tinha rótulo.
-Tive que disfarçar para não correr riscos.
-Mas aquilo me deixou grogue rapidinho. –Ela se lembra da dor de cabeça que sentiu no dia seguinte.
-Quando te encontrei, você estava muito estranha.
-Só lembro que brigamos.
-Eu agarrei o seu braço, disse que não tinha que se meter na minha vida. Disse que não iria deixar fazer isso outra vez. Você me chamou de mauricinho filho da mãe, um assediador sem vergonha e bebum...
-Nada mal para uma segunda briga. –Ela ergue as sobrancelhas. Não se lembrava dessa.
-Concordo. 
-Então quando eu caí na piscina?
-Quando estava indo embora, você tropeçou. Eu estava indo para o outro lado, mas ouvi o barulho e voltei.
-Você me agarrou pela cintura. –Roberta se lembra de voltar a respirar com extremo desespero quando ele a retirou do fundo da água. –Eu segurei os seus ombros, senti seu corpo contra o meu. Cada parte, posso dizer... 
-Então sabe do que eu falo quando digo que você mexia comigo.
-Ah, mas eu te achava um pervertido, não foi nem um ponto a seu favor.
-Então como me beijou?
-Foi você quem me beijou. Eu apenas retribuí.
-Deixa de ser mentirosa! –Diego a pressiona. –Você não jogou seus braços ao meu redor?
-Foi para me apoiar. Estava bêbada. –Ela disfarça.
Diego põe a mão em seu pescoço e se aproxima. Roberta vem ao seu encontro.
-E não foi você quem dobrou assim, como quem espera ser beijada?
-Eu não me lembro. –Diz, se afastando e saindo do clima. –Nem você. Então pare de inventar.
-Não estou inventando. Foi um dia muito bom para que eu me esquecesse. –Ele põe a outra mão em seu pescoço e o aproxima de seu rosto. –Você fechou os olhos e eu vi que queria o mesmo que eu.
-Eu não queria. –Ela cochicha, rindo e voltando até ele.
-Queria sim.
-Pior que queria.
-E quer agora?
Roberta não responde. Ele sorri e encontra os lábios dela em um beijo. O rosto dela se aquece quando coloca as mãos sobre a camisa dele, por dentro do paletó, agarrando-o como fizera alguns anos atrás.
A limusine percorre as ruas iluminadas e barulhentas, deixando um rastro invisível de alegria no asfalto. Mesmo não sabendo o rumo em que está indo, Roberta se deixa levar, como sempre deixou. Entregue aos mesmos braços em que confiou a vida quando pensou que se afogaria, ela deixa que o sentimento guie seus passos. Ainda que não pensasse que Diego iria matá-la de formas piores mais tarde, algo a impediu de fugir. Poderia se machucar se o largasse naquele dia na piscina, mas segurar-se tão forte a ele trouxe piores feridas.


Comentários

  1. Ufaa!!! Tava com saudades 👏👏😍

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  2. Ufaa!!! Tava com saudades 👏👏😍

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  3. Eu realmente achei q vc tivesse morrido ou desistido da web

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  4. Ai mds. Você voltou, e voltou com tudo! ❤
    Que saudade cara.
    Uhuuuuul
    Quase chorei quando vi um capítulo novo 🙈

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  5. Nossa fiquei tão feliz qdo entrei aqui e vi q tinha um cap. Q no q vc voltou tava com sdd da sua web

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  6. Oh My God! Não creio que vc atualizou. Parece até mentira. Espero muito, de coração, que você consiga finalizar essa história.

    - Camila

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  7. Oi Line!!

    Que benção entrar aqui no blog como quem não quer nada e ver que tem capítulo novo! A saudade tava grande, viu?! Decida finalizar a história ou dar continuidade a ela, espero apenas que esteja mais presente pois adoro sua maneira de contar a vida de Diego e Roberta.

    Beijos da Gabi

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  8. Quase pulei da cadeira quando entrei aqui e vi a atualização , continua por favor eu toda semana entro pra ver se você atualiza antes era diretoooo morro de amores por essa fanfic ahah acompanho ela desde 2014/2014 quando você recém tava postando a primeira fase

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  9. Quase pulei da cadeira quando entrei aqui e vi a atualização , continua por favor eu toda semana entro pra ver se você atualiza antes era diretoooo morro de amores por essa fanfic ahah acompanho ela desde 2014/2014 quando você recém tava postando a primeira fase

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  10. Inacreditável Entrei como sempre só pra olhar mesmo e ver que tem capitulo novo 😍😍😍😍😍

    Pense Numa Pessoal Feliz kkk

    😍💘

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  11. Quando vc vai postar um novo capítulo?

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