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Cap 106 - Visitando a família

Eles descem silenciosamente as escadas, parando ao ouvir um barulho do lado de fora. Roberta olha para Diego com uma interrogação estampada no rosto, mas ele apenas sorri. Ao abrir a porta que dá na pequena varanda ela encontra uma cama pequena e sobre ela um pequeno pacote de pelos agitando o rabo freneticamente.
-Um cachorrinho! –Ela corre para pegá-lo, ganhando logo várias lambidas no rosto. –Ahhh! Que lindo, Diego! É nosso?
-Claro! Se você quiser!
-Lógico que quero!
-Imaginei que sim. Você se lembra do cãozinho que você encontrou uma vez quando ainda morávamos no apartamento do Caio?
-Claro! Nós não pudemos ficar com ele. Então esse...?

-É filhote dele. –Diego ri. –Tiveram uma ninhada grande aí recebi uma ligação perguntando se a gente gostaria de ficar com um. Como demorei, esse foi o último que sobrou. Difícil encontrar lar para vira-latas. As pessoas tem procurado comprar cães de raça.
Roberta olhou para o cãozinho em seu colo. O pelo curto tem o tom marrom e as orelhas são caídas. Achou-o lindo de imediato não deixou de imaginar que fosse ficar bem grandinho.
-Ele é perfeito! A Nina vai adorar!
-Ela já adorou! Mostrei pra ela antes de você e pedi que guardasse segredo.
-Vocês, hein?! –Roberta finge de zangada e lhe dá um beijo.
-Sabe o que estamos parecendo? Uma família igual a dos filmes americanos?
-Exatamente. –Ela dá um risinho. –Uma casa com quintal, uma filha e um cãozinho. Você imagina mais alguma coisa pra gente ser ainda mais feliz?
-Bem... –Diego a abraça pelos ombros. –Só mais uma coisinha, mas depois eu te digo.
Roberta junta as sobrancelhas, desconfiada, mas deixa passar.
-Daqui a pouco podemos ir ao parque. Já está tudo no carro! –Diego olha o relógio. –E aproveitamos que a Nina está dormindo pra nos arrumar.
-Ao parque?
-É! Pensei em fazer um piquenique e brincar um pouco... Mais tarde a gente vai jantar naquele restaurante que você gosta. A Dani vem ficar com a Nina.
-Sério?
-Seríssimo. –Ele a puxa pela cintura. –Vou me aproveitar de cada segundo ao seu lado. –E lhe dá um beijo mais longo, já que é raro o momento.
A casa parece mais bagunçada, mas também mais movimentada e alegre. Antes de ir ao parque, Nina fica na sala brincando com o filhote. Enquanto gira a saia com os braços estendidos, o cãozinho corre à sua volta tentando morder a barra e abanando o rabinho. Ela gargalha quando os cabelos lhe cobrem os olhos e ela cai no chão.
-Ei! –Diego a levanta. –Não vai dar certo, gatinha. Vamos prender esse cabelo pra você brincar sem cair.
-Não, num dói papai!
Mesmo sob protesto Diego faz nela um rabo de cavalo. Ele ergue as sobrancelhas, bastante confuso na hora de fazer isso, mas apesar de ficar meio torto, ele sai satisfeito consigo mesmo, confiante de que está pegando o jeito.
-Estou pronta.
Roberta desde as escadas usando um short jeans e uma camiseta branca. Os óculos escuros em uma mão e a bolsa na outra. Nina vem ao seu encontro e abraça suas pernas, olhando pra cima.
-Papai fez baguunça! –E levanta o rabo de cavalo para mostrar.
-Ih! Deixa eu ver! –Roberta a pega no colo.
-Você disse que tinha gostado! –Diego vai até elas fingindo estar aborrecido. –Não ficou bonito, filhinha?
Nina fica séria, parecendo arrependida. Em seguida faz carinho no rosto do pai.
-Fica tisti não... -E se vira para Roberta. -Mamãe! Faz oto...
Roberta ri e ergue as sobrancelhas para Diego contando vitória, mas ele acaba rindo também. E os três saem bastante animados de casa, conversando muito e brincando. Por mais trabalho que dê cuidar de uma criança, e por mais dificuldades e medos que essa tarefa acarrete, os dias tem se tornado cada vez mais leves e bonitos com ela. Uma alegria simples e pura se tornou constante. Nina, com seu jeito travesso, mas também inocente e meigo, tem curado todas as feridas e dado uma guinada de força inabalável a todos.

***

Alguns dias depois, quando Alice volta de férias, os três vão lhes fazer uma visita em sua nova casa. Não é tão longe de onde moram e conseguem chegar lá em tempo de encontrar Franco e Eva saindo da entrada.
“Oi minha princesinha!” Eva exclama esganiçada. Os avós se revezam para segurar Nina que sorri enquanto é espremida por eles. Roberta percebe que ela herdou a simpatia de Diego, já que não teria a mesma paciência de ficar sendo jogada de um lado e outro por dois adultos babões.
Quando a colocam no chão, Nina caminha sorrateiramente até a porta da casa de Alice, deixando todos para trás, distraídos falando sobre Tomás.
-Ele ainda não voltou e não sabemos nada dele. –Explica Roberta. –Vocês souberam alguma coisa da Carla?
-Nada, né bebê? –Eva se vira para Franco. –Ela parece ter sido engolida pela terra.
-Mas vamos dar um jeito de acha-los, não se preocupem.
-Acho que temos que nos preocupar com a Nina. –Diego olha para os lados. –Cadê ela?
-Com a dindinha! –Alice aparece na porta com a afilhada nos braços, já saltitante em um salto agulha indo ao encontro deles. –Tão bom voltar a ver vocês!
Eva e Franco se despedem e entram no carro enquanto Roberta e Diego acompanham Alice até a sala de estar. Nina percorre o lugar enquanto eles se sentam nos sofás e começam a conversar sobre Tomás e Carla. Porém, como Pedro não está, logo perguntam por ele.
-O Pedro? –Alice parece aborrecida. –Ah, ele foi visitar a mãe e o irmão. Pelo que parece meu cunhado esteve passando mal enquanto viajávamos.
-E você não quis ir junto?
-O Pedro disse que achava que era mentira dele pra não ir à aula. E que tinha que dar uma bronca sem que eu entrasse no meio. –Revira os olhos. –Até parece.
-Ele se colocou como responsável. –Diego pontua.
-E como chato. O irmão dele mesmo disse isso pra mim.
-Mas alguém tem que educar o moleque, né Alice? –Roberta comenta distraída observando a filha brincar ao longe.
-Ah, é um adolescente, deixa ele aproveitar a vida.
Roberta e Diego se olham em cumplicidade. O mesmo pensamento de “ela nunca vai mudar” perpassa as mentes de ambos.
-A Nina já sumiu. –Roberta se levanta. – Já volto... Me lembra de, na volta, a gente passar em um Pet Shop pra comprar uma coleira. Talvez tenham até alguma roupa florescente que sirva nela, Diego. E uma buzina também não seria nada mal.
-Acho que ainda assim iríamos perdê-la. –Ele ri esperando até que saia. Em seguida se vira para Alice em tom urgente. –Eu preciso te pedir um favor.
-Pode pedir.
-Estou querendo uma noite especial com a Roberta, mas estou meio sem jeito de deixar a Nina na casa do Franco outra vez. Então achei que talvez você poderia tomar conta dela.
-Eu? –Alice se assusta.
-É, você é madrinha. E, aliás, não disse que queria ter um filho?
-Bem...
-Então. Você poderia ter um gostinho de como é cuidar de uma criança por uma noite. A Dani pode vir te orientar.
Alice fica preocupada por um segundo, mas logo abre um imenso sorriso e concorda. Está mesmo louca para engravidar e talvez cuidar da afilhada seja a melhor coisa a fazer. Eles combinam um dia e Diego fica de ligar para ela para confirmar. Ambos param de falar quando Roberta surge com Nina.
-Nossa, meus braços já estão mais musculosos que os seus, Diego. –Ela entrega a filha a ele e se joga do seu lado. –Já perdi as contas de quantas vezes a puxei de debaixo dos móveis hoje. –E se vira para Alice. –Ela estava dentro do seu closet.
-Sério? Gostou dos meus sapatos, bonequinha?
-Gotei.
-Hein? –Roberta olha para a filha. –Vamos embora, Diego! Já começou a contaminação!
Ele ri.
-Na verdade, já está mesmo na hora. Ainda temos que ir à casa do meu pai.
Eles se despedem de Alice e entram no carro, pegando o caminho para a casa de Leonardo. A visita lá demora um pouco mais, já que os gêmeos ficam muito animados quando Nina chega. Eles a levam para o quintal onde o pai montou um pequeno playground e ninguém parece ser capaz de convencê-los a sair de lá. Roberta perde vários minutos da conversa observando Danilo ajudar Nina a subir no escorrega e depois Bruno segurar sua mão quando ela desce. Um sorriso perpassa seu rosto com a cena. Gosta de ver como eles são atentos à sua filha, como se sentissem na obrigação de protegê-la e guiá-la. Às vezes passa por sua cabeça que isso aumentou depois do episódio da babá e que agora, um pouco mais velhos, eles conseguem ver que algo de ruim aconteceu naquela época. É claro que ainda são pequenos e vivem se desentendendo, mas grande parte das vezes pensa que a filha ganhou dois anjinhos da guarda na família Maldonado.
Leonardo é outro que a espanta. Está muito mais relaxado, feliz e disposto. Não parece ter tido mudanças em seu comportamento como Roberta temia que fosse acontecer. Na verdade ele continua concentrado em aproveitar as alegrias do dia a dia, assim como os desafios e dificuldades normais do trabalho, aproveitando para cuidar melhor de sua saúde. Com a ajuda de Sílvia, sempre sensata e carinhosa, ele está tão feliz como era quando a mãe de Diego era viva. E o filho percebe isso, vê como os olhos de seu pai brilham ao lado de sua madrasta e como ele parece feliz em ter os filhos ao seu redor. Márcia, que resolveu estudar fora do país, ainda é um motivo de tristeza, mesmo sabendo que será o melhor para ela. Théo está ao seu lado e deve ser seu genro em breve. O garoto é um gênio e com toda certeza terá um futuro brilhante, talvez o melhor de todos os estudantes do Elite Way. No fundo todos sabiam que o NERD solitário e zoado seria, de longe, o mais bem sucedido.

Roberta olha feliz ao redor da sala acolhedora da mansão. O sorriso de Diego encontra o seu enquanto ele conversa com o pai. Eles nunca precisaram menos de palavras.

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