Eles descem
silenciosamente as escadas, parando ao ouvir um barulho do lado de fora.
Roberta olha para Diego com uma interrogação estampada no rosto, mas ele apenas
sorri. Ao abrir a porta que dá na pequena varanda ela encontra uma cama pequena
e sobre ela um pequeno pacote de pelos agitando o rabo freneticamente.
-Um
cachorrinho! –Ela corre para pegá-lo, ganhando logo várias lambidas no rosto. –Ahhh!
Que lindo, Diego! É nosso?
-Claro! Se
você quiser!
-Lógico que
quero!
-Imaginei
que sim. Você se lembra do cãozinho que você encontrou uma vez quando ainda
morávamos no apartamento do Caio?
-Claro! Nós
não pudemos ficar com ele. Então esse...?
-É filhote
dele. –Diego ri. –Tiveram uma ninhada grande aí recebi uma ligação perguntando
se a gente gostaria de ficar com um. Como demorei, esse foi o último que sobrou.
Difícil encontrar lar para vira-latas. As pessoas tem procurado comprar cães de
raça.
Roberta
olhou para o cãozinho em seu colo. O pelo curto tem o tom marrom e as orelhas
são caídas. Achou-o lindo de imediato não deixou de imaginar que fosse ficar
bem grandinho.
-Ele é
perfeito! A Nina vai adorar!
-Ela já
adorou! Mostrei pra ela antes de você e pedi que guardasse segredo.
-Vocês,
hein?! –Roberta finge de zangada e lhe dá um beijo.
-Sabe o que
estamos parecendo? Uma família igual a dos filmes americanos?
-Exatamente.
–Ela dá um risinho. –Uma casa com quintal, uma filha e um cãozinho. Você
imagina mais alguma coisa pra gente ser ainda mais feliz?
-Bem...
–Diego a abraça pelos ombros. –Só mais uma coisinha, mas depois eu te digo.
Roberta
junta as sobrancelhas, desconfiada, mas deixa passar.
-Daqui a
pouco podemos ir ao parque. Já está tudo no carro! –Diego olha o relógio. –E
aproveitamos que a Nina está dormindo pra nos arrumar.
-Ao parque?
-É! Pensei
em fazer um piquenique e brincar um pouco... Mais tarde a gente vai jantar
naquele restaurante que você gosta. A Dani vem ficar com a Nina.
-Sério?
-Seríssimo.
–Ele a puxa pela cintura. –Vou me aproveitar de cada segundo ao seu lado. –E
lhe dá um beijo mais longo, já que é raro o momento.
A casa
parece mais bagunçada, mas também mais movimentada e alegre. Antes de ir ao
parque, Nina fica na sala brincando com o filhote. Enquanto gira a saia com os
braços estendidos, o cãozinho corre à sua volta tentando morder a barra e
abanando o rabinho. Ela gargalha quando os cabelos lhe cobrem os olhos e ela
cai no chão.
-Ei! –Diego
a levanta. –Não vai dar certo, gatinha. Vamos prender esse cabelo pra você
brincar sem cair.
-Não, num
dói papai!
Mesmo sob
protesto Diego faz nela um rabo de cavalo. Ele ergue as sobrancelhas, bastante
confuso na hora de fazer isso, mas apesar de ficar meio torto, ele sai
satisfeito consigo mesmo, confiante de que está pegando o jeito.
-Estou
pronta.
Roberta
desde as escadas usando um short jeans e uma camiseta branca. Os óculos escuros
em uma mão e a bolsa na outra. Nina vem ao seu encontro e abraça suas pernas,
olhando pra cima.
-Papai fez baguunça!
–E levanta o rabo de cavalo para mostrar.
-Ih! Deixa
eu ver! –Roberta a pega no colo.
-Você disse
que tinha gostado! –Diego vai até elas fingindo estar aborrecido. –Não ficou
bonito, filhinha?
Nina fica
séria, parecendo arrependida. Em seguida faz carinho no rosto do pai.
-Fica
tisti não... -E se vira para Roberta. -Mamãe! Faz oto...
Roberta ri
e ergue as sobrancelhas para Diego contando vitória, mas ele acaba rindo também.
E os três saem bastante animados de casa, conversando muito e brincando. Por
mais trabalho que dê cuidar de uma criança, e por mais dificuldades e medos que
essa tarefa acarrete, os dias tem se tornado cada vez mais leves e bonitos com
ela. Uma alegria simples e pura se tornou constante. Nina, com seu jeito travesso,
mas também inocente e meigo, tem curado todas as feridas e dado uma guinada de
força inabalável a todos.
***
Alguns
dias depois, quando Alice volta de férias, os três vão lhes fazer uma visita
em sua nova casa. Não é tão longe de onde moram e conseguem chegar lá em tempo
de encontrar Franco e Eva saindo da entrada.
“Oi minha
princesinha!” Eva exclama esganiçada. Os avós se revezam para segurar Nina que
sorri enquanto é espremida por eles. Roberta percebe que ela herdou a simpatia
de Diego, já que não teria a mesma paciência de ficar sendo jogada de um lado e
outro por dois adultos babões.

-Ele ainda
não voltou e não sabemos nada dele. –Explica Roberta. –Vocês souberam alguma
coisa da Carla?
-Nada, né
bebê? –Eva se vira para Franco. –Ela parece ter sido engolida pela terra.
-Mas vamos
dar um jeito de acha-los, não se preocupem.
-Acho que
temos que nos preocupar com a Nina. –Diego olha para os lados. –Cadê ela?
-Com a
dindinha! –Alice aparece na porta com a afilhada nos braços, já saltitante em
um salto agulha indo ao encontro deles. –Tão bom voltar a ver vocês!
Eva e
Franco se despedem e entram no carro enquanto Roberta e Diego acompanham Alice
até a sala de estar. Nina percorre o lugar enquanto eles se sentam nos sofás e
começam a conversar sobre Tomás e Carla. Porém, como Pedro não está, logo
perguntam por ele.
-O Pedro? –Alice
parece aborrecida. –Ah, ele foi visitar a mãe e o irmão. Pelo que parece meu
cunhado esteve passando mal enquanto viajávamos.
-E você não
quis ir junto?
-O Pedro
disse que achava que era mentira dele pra não ir à aula. E que tinha que dar
uma bronca sem que eu entrasse no meio. –Revira os olhos. –Até parece.
-Ele se
colocou como responsável. –Diego pontua.
-E como
chato. O irmão dele mesmo disse isso pra mim.
-Mas alguém
tem que educar o moleque, né Alice? –Roberta comenta distraída observando a
filha brincar ao longe.
-Ah, é um
adolescente, deixa ele aproveitar a vida.
Roberta e
Diego se olham em cumplicidade. O mesmo pensamento de “ela nunca vai mudar”
perpassa as mentes de ambos.
-A Nina já
sumiu. –Roberta se levanta. – Já volto... Me lembra de, na volta, a gente
passar em um Pet Shop pra comprar uma coleira. Talvez tenham até alguma roupa florescente
que sirva nela, Diego. E uma buzina também não seria nada mal.
-Acho que ainda
assim iríamos perdê-la. –Ele ri esperando até que saia. Em seguida se vira para
Alice em tom urgente. –Eu preciso te pedir um favor.
-Pode
pedir.
-Estou
querendo uma noite especial com a Roberta, mas estou meio sem jeito de deixar a
Nina na casa do Franco outra vez. Então achei que talvez você poderia tomar
conta dela.
-Eu? –Alice
se assusta.
-É, você é
madrinha. E, aliás, não disse que queria ter um filho?
-Bem...
-Então. Você
poderia ter um gostinho de como é cuidar de uma criança por uma noite. A Dani
pode vir te orientar.
Alice fica
preocupada por um segundo, mas logo abre um imenso sorriso e concorda. Está
mesmo louca para engravidar e talvez cuidar da afilhada seja a melhor coisa a
fazer. Eles combinam um dia e Diego fica de ligar para ela para confirmar.
Ambos param de falar quando Roberta surge com Nina.
-Nossa,
meus braços já estão mais musculosos que os seus, Diego. –Ela entrega a filha a
ele e se joga do seu lado. –Já perdi as contas de quantas vezes a puxei de
debaixo dos móveis hoje. –E se vira para Alice. –Ela estava dentro do seu
closet.
-Sério? Gostou
dos meus sapatos, bonequinha?
-Gotei.
-Hein?
–Roberta olha para a filha. –Vamos embora, Diego! Já começou a contaminação!
Ele ri.
-Na
verdade, já está mesmo na hora. Ainda temos que ir à casa do meu pai.
Eles se
despedem de Alice e entram no carro, pegando o caminho para a casa de Leonardo.
A visita lá demora um pouco mais, já que os gêmeos ficam muito animados quando
Nina chega. Eles a levam para o quintal onde o pai montou um pequeno playground
e ninguém parece ser capaz de convencê-los a sair de lá. Roberta perde vários
minutos da conversa observando Danilo ajudar Nina a subir no escorrega e depois
Bruno segurar sua mão quando ela desce. Um sorriso perpassa seu rosto com a
cena. Gosta de ver como eles são atentos à sua filha, como se sentissem na
obrigação de protegê-la e guiá-la. Às vezes passa por sua cabeça que isso
aumentou depois do episódio da babá e que agora, um pouco mais velhos, eles
conseguem ver que algo de ruim aconteceu naquela época. É claro que ainda são
pequenos e vivem se desentendendo, mas grande parte das vezes pensa que a filha
ganhou dois anjinhos da guarda na família Maldonado.
Leonardo é
outro que a espanta. Está muito mais relaxado, feliz e disposto. Não parece ter
tido mudanças em seu comportamento como Roberta temia que fosse acontecer. Na
verdade ele continua concentrado em aproveitar as alegrias do dia a dia, assim
como os desafios e dificuldades normais do trabalho, aproveitando para cuidar
melhor de sua saúde. Com a ajuda de Sílvia, sempre sensata e carinhosa, ele
está tão feliz como era quando a mãe de Diego era viva. E o filho percebe isso,
vê como os olhos de seu pai brilham ao lado de sua madrasta e como ele parece
feliz em ter os filhos ao seu redor. Márcia, que resolveu estudar fora do país,
ainda é um motivo de tristeza, mesmo sabendo que será o melhor para ela. Théo
está ao seu lado e deve ser seu genro em breve. O garoto é um gênio e com toda
certeza terá um futuro brilhante, talvez o melhor de todos os estudantes do
Elite Way. No fundo todos sabiam que o NERD solitário e zoado seria, de longe,
o mais bem sucedido.
Roberta
olha feliz ao redor da sala acolhedora da mansão. O sorriso de Diego encontra o
seu enquanto ele conversa com o pai. Eles nunca precisaram menos de palavras.
Ah meu Deus, vc demorou, mas quando veio, veio com essa fofura de capítulo. Parabéns *-*
ResponderExcluirAi meu Deus! Vc voltou e ainda por cima com um capitulo MARAVILHOSO.
ResponderExcluirParabéns!
super emocionante
ResponderExcluirperfeito como sempre
ResponderExcluirass Sofia
lindo
ResponderExcluirAna