Cap 105 - O tempo passa...

Tempos depois...

Hello casal!

Como estão? Não sabem como estou morrendo de saudade da minha bonequinha! Ah, claro, também sinto uma leve falta de vocês, haha! O Pedro e eu estamos nos divertindo muito aqui em Miami. Ele está todo bobo depois do casamento. É uma pena que a lua-de-mel já esteja acabando. Mas a festa foi linda, né? Meu vestido foi um arraso! Depois da formatura, foi o dia mais feliz da minha vida! (E que o Pedro não me ouça, mas é que eu estava doida pra terminar a faculdade logo!).

Estou mandando algumas fotos neste e-mail, várias são da Nina no casamento. Ela foi a daminha mais fofa de todas. Ah, e queremos pedir que se tiverem alguma informação sobre a Carla e do Tomás, por favor, nos avisem, estamos muito preocupados. Desde que se separaram e ele foi pra Portugal passar as férias que não temos notícias. Eu não sei se a Carla ainda está no Rio ou foi para o interior visitar os parentes dela. Lembro que disse que iria, mas viajei antes que se decidisse. Espero que se acertem logo. Nunca ficaram brigados por tanto tempo.

Bem, nós vamos retornar em breve. Eu adoraria que fosse com um bebezinho no forno, mas o Pedro não quer, vocês acreditam nisso? Diz que é “muito cedo”! Ah, eu não acho. Vou fazer de tudo para que mude de opinião. Torçam por mim!

Beijinhos,

Alice

Diego fecha o notebook e esfrega os olhos. Ainda não acordou direito. Se levanta da cadeira da escrivaninha e olha para Roberta, ainda no décimo sono debaixo do edredom. Ele resolve esperar que ela acorde para responderem o e-mail juntos. Como foi a última pessoa a falar com Carla, saberá dizer melhor o que aconteceu com a amiga. E que ideia da Alice de querer engravidar? Ela ainda mal consegue cuidar de si mesma!

Ainda sonolento, ele se arrasta pelo corredor até o banheiro. Apesar de ser uma bela manhã de sábado, ele não consegue ficar na cama. A rotina corrida dos últimos meses o deixou habituado a acordar cedo. Coisa que não funcionou com Roberta. Às vezes ele tem a impressão de que ela hibernaria se ninguém a acordasse. E nem poderia culpa-la por isso. Poder dormir bastante é uma das poucas coisas que ela tenta e tenta, mas nunca consegue ter de volta. Um dos motivos lógicos é Nina. Dormir quando se tem um bebê, é como deixar o barco a deriva durante um furacão e esperar que ele chegue ao porto em segurança.

Ao colocar um pouco de creme dental na escova, uma sombra passa pela porta rapidamente e interrompe seus pensamentos. Diego junta as sobrancelhas e espia o corredor. Há um pedacinho de ser humano andando aos tropeços até a porta de seu quarto. Quando para no corredor, com os pezinhos descalços aparecendo por baixo do pijama azul de carneirinhos, o rostinho sapeca e ao mesmo tempo inocente aparece junto de vários cachinhos. O velho ursinho decepado que tanto surrou em seus dois anos de vida está agarrado ao peito. A maçaneta é alta, de modo que Nina demora um pouco para abrir e quase cai quando finalmente consegue. Diego fica observando até ela entrar e não consegue desfazer o sorriso bobo do rosto. Fugir do berço parece estar virando rotina.

No quarto, Nina vai de gatinhas sobre o edredom até as costas de Roberta. Ao chegar bem perto, ela se deita nos ombros dela, ouvindo sua respiração. Depois observa com curiosidade aquele sono sem fim.

-Mamãe... –Cochicha próximo ao ouvido dela. - Tá mimino, mamãe? –Nina junta as sobrancelhas e fica bem pertinho para vê-la. Ela não entende porque Roberta não responde. –Mamãe?... Códa!

-Hmmm...? –Roberta se estica preguiçosamente e se vira de barriga para cima com apenas um olho meio aberto. Quando vê o rostinho da filha escondido no meio de muitos cabelinhos loiros bagunçados, só consegue sorrir. Logo a puxa para os braços, voltando para a mesma posição em que estava enchendo-a de beijos.

Nina ri enquanto é esmagada. E Roberta a aperta contra o peito e puxa o edredom sobre suas cabeças.

-Bom dia meu amorzinho! –Diz numa voz rouca cheia de sono.

Quando afrouxa os braços, voltando a fechar os olhos, Nina começa a passar as mãos pelo rosto dela, distraidamente. Depois junta as mãozinhas debaixo da cabeça e faz que vai dormir também, mas abre os olhos de cinco em cinco segundos para ver se Roberta acordou. Quando percebe que isso não vai acontecer, Nina se descobre e senta na cama.

-Mamãe... –Ela faz bico e segura o nariz de Roberta. –Bincá!...

-Bebê... –Ainda de olhos fechados, Roberta segura a mãozinha dela e dá um beijo. –Deixa a mamãe dormir, deixa...  –E sua voz soa realmente cansada, resultado nas duas vezes em que acordou naquela madrugada. Uma para dar mamadeira a Nina e outra para convencê-la que não era hora de se pendurar no berço e ficar cantando “Hey Jude” como o dindinho (Tomás) havia ensinado. Com toda a certeza a rotina maluca não facilitou as coisas pra ninguém. Era uma correria, cheia de horários malucos. No entanto, agora, que a faculdade e os shows acabaram, as coisas podem se tornar mais organizadas. Ao menos ela espera que sim.

-Deso, pode mimi. –Nina responde e então dá um beijo na bochecha da mãe, depois outro, depois outro, depois outro, depois... Roberta perde o sono e começa a rir.

-É pá mimi, mamãe! Cê tá codada!” –Então ela solta um riso gostoso quando é puxada de volta aos braços da mãe.

-Agora eu não vou mais dormir, eu vou é te morder!

E elas brincam, fazendo cócegas, caretas e escondendo debaixo do edredom. Depois de um tempo divertido, Roberta se levanta e calça os chinelos. Então ergue as mãos para a filha.

-Vamos tomar banho?

Nina fica de pé e aceita o colo. O sorrisinho sempre irradiando.

Roberta vai brincando com ela pelos corredores até o banheiro. Nina não sai de perto um segundo, de modo que Roberta vai entendendo que terá uma companhia constante sempre e em qualquer lugar. Elas ficam na banheira por um bom tempo, fazendo a maior bagunça.

Depois do banho, Roberta se envolve em um roupão e enrola uma toalha em Nina. Ao voltar para o quarto, ela a seca e coloca uma fralda, mais por prevenção do que necessidade. Já está quase largando. Depois veste um vestido branco de verão nela. Um presente de Carla. Ao vê-lo, Roberta fica preocupada com a amiga que não tem dado notícias. Mas logo que olha para Nina deitada na cama, as dobrinhas e a fofura a distraem, e ela volta às mordidas e beijos que causam aquelas doces gargalhadas. Um dengo que quer cultivar todos os dias enquanto puder, já que seu bebê está crescendo rápido demais e logo será uma garotinha que deixará de pedir mamadeira de madrugada.

 Ao descer e chegar à base da escada, Nina desce de seu colo e dispara à frente. Ao chegar à cozinha, ela agarra as pernas de Diego.

-Ooi! –Ele precisa se equilibrar, pois está com uma jarra de suco em uma mão e na outra um pote de manteiga. –Deixa papai guardar isso aqui. –Ele coloca as coisas em cima da mesa e então a pega no colo lhe dando um beijo na bochecha.

-Hm... Mas que cheirosa a minha princesa está!

Quando ele olha para a porta, Roberta está vindo em sua direção. Os olhos inchados e um sorriso no rosto. Ela lhe dá um beijo que deixa um cheiro de hortelã e um sabor fresco de um dia a começar.

-Bom dia...

-Bom dia... Você parece que não dormiu nada. –Ele observa.

-Não dormi mesmo. –Ela boceja. –Estou cansada.

-Estou vendo. Mas eu estou dando um jeito na cozinha e já vou preparar o café. Se quiser pode dormir mais um pouco. A Nina fica comigo, né amor?

Ela faz que sim com a cabeça.

-Tudo bem, não precisa. –Roberta se levanta. –Eu ajudo.

-Não senhora, você vai dormir pra ficar disposta pra mais tarde.

-O que tem mais tarde? –Ela fica curiosa.

-É um segredo meu e da Nina. Agora vai!

-Mas eu quero saber! Me conta, Diego!

-Não, não, não! Vai logo! Quero você dormindo em cinco minutos!

Com a curiosidade a lhe cutucar atrás das orelhas, Roberta voltou para cima. Dormiu assim que caiu na cama e sonhou com um dia de sol como aquele. Não havia nada em sua vida que desejava mudar. Era tudo como deveria ser, cada detalhe, cada palavra. Diego era perfeito em seus defeitos e o melhor, a amava também com suas falhas. Era possível rir e chorar ao seu lado, brigar e viver noites intensas sem nunca desejar estar em outro lugar. Seus amigos e sua família estavam sempre perto e significavam um porto seguro fora de seu lar. E sua filha estava a cada dia mais em seu coração, criando raízes tão fundas que há tempos tomavam todo o seu ser. Os olhos de Nina eram conquistadores como os de Diego e sabiam arrancar de Roberta tudo o que queriam. Desde a palavra mais doce até a coragem mais feroz.

Por volta de uma da tarde, Diego foi com Nina ao quarto. Roberta já estava acordada, apenas curtindo a preguiça e olhando o email de Alice no notebook. Ele trouxe para ela uma bandeja com café da manhã, então os três se deitaram na cama. Um do lado do outro e Nina no meio.

-A Alice é louca? –Roberta comentou. –Ela acha que um filho é como um boneco?

-Acho que ela nunca pensou que uma criança chora, fica doente, baba e nem que suja um monte de fraldas por hora.

-Nem que precisa de atenção e cuidados. –Ela olha para a filha, esparramada no meio deles e desvia do assunto, dando um sorriso frouxo. –O que aconteceu com a Nina, afinal?

-Não sei... –Diego repara. –Nós brincamos de cavalinho, corremos na sala, rolamos, pulamos... Acho que ela cansou.

Roberta ri outra vez, passando os dedos pelos cabelos da filha. A fraldinha fica aparecendo por debaixo do vestido enquanto ela se encolhe e chupa o dedo. A mania sempre volta na hora do sono.

-E se a gente deixasse a Alice experimentar como é cuidar de um bebê? –Diego pergunta. -A gente podia deixar a Nina com ela por uma noite e sair pra jantar.

- Você quer deixar a nossa filha, a nossa bebê, a nossa Nina... com a Alice? Você bebeu?

-Eu só quero ter um jantar romântico com você, minha linda. –Ele sorri enquanto passa a mão pelo rosto dela. –Algumas poucas horas, depois um passeio à noite na praia... Hein?

-Eu adoraria, mas a Nina pode ficar na casa dos seus pais ou dos meus. Com a Alice, de jeito nenhum.

-E se a gente pedir a Dani pra vigiar a Alice. A gente vai estar fazendo um favor a ela, ou melhor, a Nina vai estar. –Ele ri.

Roberta fica pensativa.

-Eu não sei...

-Anda, vai... –Diego lhe dá um beijo no canto da boca. –Só uma noite. –Depois desce e lhe dá um beijo no pescoço.

-Mas, Diego...

E então ele lhe rouba um beijo para evitar outra negação. Quando ela consegue se soltar, já está mais maleável.

-Ok... Mas só se a Dani estiver junto. –Ele vai para beijá-la outra vez e ela não deixa. –Na-na-não, quero saber qual é a surpresa de hoje a tarde. Não pensa que eu esqueci!

-Ah, está lá em baixo! Quer ir ver?