Cap 97 - Fotografias

Diego está furioso.

-Você mentiu pra mim! –Ele grita se aproximando dela. –Fez com que eu dissesse a Roberta todas aquelas coisas sem nem mesmo saber onde está a minha filha! –Ele avança para apanhar o celular sobre o criado mudo. –Eu tenho que ligar pra ela!

-Você é quem sabe.  –Patrícia dá de ombros. –Sou a única esperança pra você. Se eu não quiser, nunca mais vai saber daquela menina!

-Eu vou te entregar à polícia. –Diego ameaça enquanto telefona para a casa de Eva. –Quero ver se em uma cela você não confessa!

-Faça isso. –Ela sorri, com desdém. – Faça e eu digo que você apenas está querendo se vingar de mim.

-Me vingar? –Diego larga o telefone na mesma hora.

-É, meu bem. Eu digo que sou sua amante e que nós tínhamos combinado de fugir juntos. Só que você ficou com remorso por causa do desaparecimento da sua filha e quis terminar comigo. Aí eu, que não sou idiota, nem nada, disse que se você me deixasse, eu iria à mídia revelar que temos um caso.

-O que? Você é maluca?

-Olhe, vai ficar muito nítido que você está inventando toda essa história de que “eu sei da sua filha” pra se livrar do escândalo. Mas saiba... –Ela nota que virou o jogo e o ameaça. –Se você der um passo fora da linha, eu faço a Roberta e todos os seus fãs acreditarem que você tem um caso comigo. E para sua namoradinha, eu ainda faço questão de narrar detalhadamente cada uma das nossas noites no motel.

Diego fica atordoado e olhando para ela sem saber o que responder.

-Escute. –Ela utiliza uma voz meiga. –Seja bonzinho, eu tenho um plano. Fique do meu lado e tudo dará certo!

Ele desaba na cama.

-Ok.

Diego desiste e ouve tudo que ela tem a dizer, sem mais reclamações. Não sabe mais o que pode fazer. Está completamente à mercê de Patrícia. E se nada mudar, vai ficar ainda por muito tempo.

***

Nenhuma novidade surge pelos quatro dias seguintes. Nina já está desaparecida há mais de duas semanas e Roberta está em um estado triste de se ver. Não se alimenta, passa todo o tempo fora de casa, e não fala com ninguém a não ser que seja sobre as buscas. Os amigos tentam se aproximar, mas por trás dos óculos escuros, ela é tão hostil quanto um cão raivoso.

Em uma manhã, no entanto, quando acorda sentindo a mesma dor no peito de perceber que não está vivendo um pesadelo, ela se sente fraca. Olha para a porta e sabe que se atravessá-la, não encontrará o seu bebê dormindo a poucos passos. O quartinho está vazio e triste, as roupinhas estão dobradas nas gavetas, os brinquedos parecem de luto e o sol incomoda com seu crime de aparecer por ali.

Por mais quanto tempo irá aguentar se manter forte? E se ela...  se ela nunca mais aparecer?

Roberta se livra dos pensamentos com desespero e se vira para olhar as horas.

-07h05min. –Ela sussurra. –Preciso ir à delegacia. Tenho que falar com...

Mas percebe, antes de se levantar, que há algumas fotos no criado ao lado de sua cama. Não sabe quem as colocou lá, mas inevitavelmente as recolhe. Seus lábios ficam trêmulos ao ver.

-Quem fez isso?

A dor em seu peito se intensifica quando aquele rostinho familiar toma seus olhos. As bochechas rosadas, as mãozinhas gorduchas e o sorriso travesso... Fotos que tirou há muitos meses, outras apenas há algumas semanas. Cada detalhe das fotos é uma lembrança. Aquela tarde de domingo em que ela dormiu em seus braços, o dia frio em que brincaram na cama por horas e a casa ficou uma bagunça... O ursinho que voou pela janela depois da foto, o dia na praia em que Nina engatinhou até o mar...

A saudade e o medo lhe dão um soco no estômago e quando encontra uma foto dos três (Diego, Nina e ela) brincando, muito felizes no tapete da sala, perde totalmente as forças. Com isso, uma a uma, todas as lágrimas prisioneiras começam a descer por seu rosto. E por longos minutos de solidão, ela se permite ser fraca, deixando o choro fluir.

Alice, Pedro, Tomás e Carla, estão no corredor. Os braços cruzados e os rostos tensos. Não dizem nada, apenas respiram fundo, se olhando com expressão de dever cumprido. Roberta poderá até ficar zangada quando descobrir que foram eles que colocaram as fotos ali de propósito. Mas eles acreditam que ela precisava chorar, que precisava materializar essa dor antes que fosse envenenada por ela.

***

Itália, 15h05min, naquele mesmo dia...

Patrícia recebe um telefonema e informa a Diego que finalmente conseguiu um jeito para que ele tenha acesso à casa de Leonel. Ele se agita com a notícia e insiste para que partam logo. Então, em alguns minutos, eles deixam o hotel e tomam um táxi por trinta minutos até um bairro muito bonito da cidade. Mas Diego não pensa na fortuna que Leonel deve possuir por morar tão bem. A única coisa que não sai de sua mente é como uma babá tem dinheiro para pagar uma viagem para Itália, além de dias e dias em um hotel e várias corridas de táxi.

-É o apartamento 1504. –Patrícia lhe entrega um bilhete quando param.

-Você não vem? –Diego a encara ainda no táxi.

-Não. Anda, vai logo! Bridget é a minha informante e vai te deixar entrar!

Ele está a cada dia mais desconfiado dela, mas como não esperou todo esse tempo para nada, vai logo entrando no prédio. Em minutos, entra no elevador com uma raiva gritante de Leonel. Não consegue nem se sentir idiota por estar indo bater na porta do apartamento do provável sequestrador de sua filha. Seu ódio lhe dá vontade de mata-lo.

Mal percebe quando já está no 25º andar. Caminha até a porta do apartamento 1504 e é atendido em poucos minutos.

-Buongiorno? –A empregada baixinha e um pouco idosa, que deve ser Bridget, o encara, desconfiada. –Diego?

-Sim...

A mulher abaixa a cabeça e fecha os olhos, dando a impressão de estar com medo do que está fazendo. Diego, por sua vez, não espera nem um segundo e entra na casa.

-Tem algum bebê nessa casa? –Diz agarrando a empregada pelos ombros. –Uma menina? Bambina?

-No, signore!

-Por favor, é minha filha! Por tudo que mais ama, me diz a verdade!

Diego mira os corredores e arregala os olhos. O apartamento é muito grande, Nina pode estar em algum quarto.

-Nina! –E então ele não se aguenta sai gritando. –Nina!... Nina!... Filhinha, cadê você? –E vai abrindo todas as portas e invadindo todos os corredores que encontra.

Bridget leva as mãos ao rosto, muito assustada.

Em pouco tempo, aparece então ele, Leonel, com a gravata em um nó solto e alguns botões do terno aberto. Está furioso.

-Mas que escândalo é... –Ele se assusta ao ver Diego saindo da cozinha. –Que você está fazendo aqui, garoto?

-Cadê a minha filha?

-O que? –O homem parece não compreender. –Quem te deixou invadir assim a minha casa? –E olha para Bridget, que nega com a cabeça.

-Cínico! –Diego vai pra cima dele, mas Leonel se o segura. –Foi você! Seu desgraçado! Roubou a minha filha!

-Que absurdo! É isso que estou ouvindo? Vocês a perderam e me culpam de tê-la roubado? Mas são uns irresponsáveis mesmo! Eu deveria ter tomado a guarda dela quando pude! Lorenzo! Alessandro! –Ele olha para trás e começa a chamar em voz alta.

Rapidamente, surgem dois homens enormes, moldados como armários.

-Buttarlo fuori! –Leonel ordena, indicando a porta.

Eles vão pra cima de Diego.

-Me solta! Eu te mato pelo que está fazendo, seu filho da mãe! –Ele soa de tanto se debater. Os dentes cerrados e o rosto vermelho de irritação. –Você vai pagar por isso!

Os brutamontes o levam para fora a trancos e barrancos e o jogam no elevador. Suas costas batem com força na parede e ele sente seu corpo inteiro pulsar. Toda revolta, ódio, raiva e rancor que já teve na vida resolvem lhe fazer uma visita, todos ao mesmo tempo.

Com o que ouviu, seu sentimento de desespero ganhou duas vezes o tamanho. Não sabe mais quem está falando a verdade.

***

Instantes depois, ocupando uma mesa pequena bem distante daquele bairro, Diego e Patrícia começam a discutir. Por mais de meia hora ela se empenhou em acalmar Diego, mas está ficando impossível.

-É claro que ele está com a Nina! -Ela afirma. -Você acha que seria tão fácil fazê-lo admitir? Claro que não! Mas agora já temos testemunhas que viram você ameaçando Leonel de estar com a criança e isso é muito bom.

-Bom pra quem? –Diego se exalta, acreditando ter feito uma grande burrada indo até aquele lugar. -Agora ele tem uma vantagem! Sabe que estou aqui! Você acabou comigo! Conseguiu piorar tudo!

-Ah, eu desisto. –Patrícia levanta o dedo e pede ao garçom, quando este chega, para que lhe traga uma bebida bem forte.

-Eu também quero. –Diego o chama de volta e Patrícia fica assustada. Soube, de fonte segura, que Diego não bebia mais, já que o vício quase tinha destruído sua vida tempos atrás. Mas ele está tão cansado, tão arrasado e com a mente tão perturbada, que não imagina outro jeito de não enlouquecer de vez.

-Então, vamos beber! -A garota sorri, levantando uma sobrancelha esperta. Começou a ter uma grande ideia.

A tarde vai embora e a noite chega. O pequeno bar recebeu e se despediu de muita gente enquanto os dois bebiam e conversavam. Por fim, um deles já está muito mal.

 -Mais uma dose. –Diego coloca o copo vazio no centro da mesa. Os olhos caídos e a cabeça pendendo para frente.

-Você não está bem. Melhor irmos.

-Não, não, não... –Ele balança o dedo. –Quero ter uma overdose hoje!

-Eu vou te dar essa overdose, meu bem... -Patrícia sorri com malícia. -Vou te dar' lá no nosso quarto...