Cap 96 - As condições de Patrícia

-Como conseguiu?

A garota se inclina.

-É segredo.

Diego fica desorientado.

-O que você está dizendo? Ela está com você?

-Pode ser que sim, pode ser que não. –Patrícia brinca. Sabia que aquele objeto seria de bom uso e que tirá-lo da menina não estava sendo apenas uma boa diversão naquele dia.

-Me fala o que você quer. Dinheiro? Eu dou tudo que tenho!

-Não, já tenho o bastante, obrigada...

-Então?

-O que eu quero é que você venha comigo busca-la.

Diego estranha, mas o desespero o coloca de pé.

-Eu vou onde você quiser.

-Senta aí, querido, ainda não. Terá que fazer algo antes.

-Qualquer coisa!

Patrícia sorri, satisfeita. Quando retira o celular da bolsa, o entrega a ele.

-Faça uma ligação.

-Pra quem?

-Quero que ligue para Roberta e diga a ela que quer terminar o relacionamento de vocês.

Diego não consegue se mover.

-Como?

-É isso mesmo. Diga que não vai mais voltar pra ela, nem vai mais procurar a menina.

Ele fica sem voz.

-É melhor decidir logo. Nosso avião parte em algumas horas.

-Nosso avião?

-Acorda Diego! Sua filha não está no país! É melhor você se decidir de uma vez, se não, nunca mais vai vê-la.

-Eu não posso fazer isso!... E, além do mais, como vou saber se está dizendo a verdade?

-Te trouxe a chupeta dela. –Patrícia ri. –Se soubesse que não iria crer em mim, tinha cortado um pedaço da orelha.

-Sua... –Ele avança, mordendo-se de raiva.

-Olha, olha... É melhor me tratar bem. Se me encostar um dedo sequer, a sua filha pode ir parar no Marrocos... Anda, é só uma ligação. Não estou pedindo pra atirar em alguém.

Diego não pode fazer isso, sabe que não pode.

-O tempo está passando. –A garota aponta para o relógio.

-Não vou conseguir.

-Tudo bem. –Ela pega a bolsa e se levanta. –Você que sabe o que é importante.

-Espera. –Diego a segura. –Por favor.

Patrícia para em sua frente e o pressiona.

-Você sabe o que precisa fazer. –E entrega o telefone a ele.

Diego reluta.

-O que você vai ganhar com isso?

-E faz que diferença?

Diego respira fundo e entendendo que ela não amansaria, começa a apertar os números, mas não consegue terminar.

-Por favor, deve ter outro jeito de...

-Chega! –Ela levanta a mão. –Ou você faz o que estou dizendo ou em menos de dez minutos mando jogarem aquela menina na primeira lata de lixo que encontrarem do outro lado do oceano e vocês nunca mais saberão dela.

Diego sente uma pancada no peito, a respiração fica ainda mais tensa. Roberta sempre teve razão sobre Patrícia, afinal, mas agora é tarde para pensar nisso.

Ele não volta a insistir e faz a ligação.

Roberta ainda está dormindo quando ouve o toque. Se levanta desorientada e aflita do sofá, esfregando os olhos e se culpando por ter dormido quando deveria estar ajudando nas buscas. Encontra o telefone caído no chão e atende.

-Alô?

-Roberta...

-Diego! Tem alguma notícia?

-Não, não tenho... É... –Ele olha para Patrícia, que ergue as sobrancelhas, apressando-o.

-Porque não me acordou? Eu iria junto. Quando você volta?

Diego fica com um nó na garganta. Como poderia machucá-la dessa forma?

-Eu... Eu não volto, Roberta.

Patrícia bate palmas e sorri.

-Como assim não volta? –Ela não entende. –Onde você está?

-Fala logo pra ela! –Patrícia o obriga e o coração de Diego dispara, enquanto seu rosto queima.

-Eu estou terminando com você, Roberta. Vou embora... –Ele fala rápido, para não se sentir pior.

-O que está dizendo, Diego?

Patrícia o olha com rosto sério, fazendo-o dizer o que falta.

-É isso, eu não vou mais voltar e... Estou largando as buscas a Nina também, sinto muito.

Roberta se senta, quase sem voz.

-Diga que não a ama mais!

Diego olha para Patrícia. Ela está se divertindo e isso o deixa nauseado.

-Não posso te explicar direito agora... -Ele continua e ouve a voz de Roberta, muito baixa ao fundo.

-Diego... Não...

-Adeus... –Ele desliga muito rápido e logo sente como se tivesse sido esmagado.

Mas antes que consiga pensar, Patrícia já está gritando.

-Ah! Que saco, viu! Poderia ter dito muito mais coisas! Vamos logo, antes que me arrependa.

Mas Diego não consegue nem se mover. Não sente mais as pernas. Nem mesmo ouve as demais baboseiras que Patrícia continua a dizer. Está sem acreditar no que acaba de fazer com Roberta e com sua própria vida. Perdeu tudo que o fazia feliz tão rápido que nem consegue acreditar.

***

Em casa, Roberta parece em transe. Eva e Franco chegam e percebem a palidez em seu rosto. Parece que não está respirando.

-Filha! O que foi? –Eva se senta ao seu lado. –O que você tem? Roberta! Está doente?

Ela levanta a cabeça da filha e olha dentro dos seus olhos. Estão distantes e frios. Eva quer chamar um médico, sem entender que ele não pode resolver o que Roberta tem. Nem o melhor especialista do mundo seria capaz de curar o que se quebrou em milhões de pedacinhos dentro dela.

***

A noite vai embora e a madrugada passa com muito pouco sono e muita angústia. Quando o sol retorna no dia seguinte, tudo indica que as coisas continuam iguais. Os repórteres deixam todos loucos e Roberta mal consegue sair de casa sem encarar dezenas de flashes, câmeras e microfones. São perguntas que não quer responder, são dores que não deseja ver exibidas em revistas e jornais como um pedaço de carne no açougue. Não quis saber de médico também, nem do consolo da mãe ou dos amigos. Se fechou em uma redoma onde ninguém consegue se aproximar desde o dia anterior.

Todos a veem sempre de óculos escuros e apática. Quando alguém se aproxima, sempre é recebido com um jeito arisco. Além disso, está em uma condição feroz que mostra ser capaz de arrancar o braço de qualquer que seja a pessoa que tente se informar sobre o que houve entre ela e Diego. É como se tentasse esquecer que algum dia ele existiu. Toda sua energia agora está direcionada às buscas por Nina, que é seu único motivo de continuar de pé tentando manter a sanidade.

***

Itália 14h32min

A Torre de Pisa, a Basílica de São Pedro em Roma, o Coliseu, o Vaticano, a inconfundível e lúdica Veneza, Milão, cidade da moda, Florença, Nápoles... Diego bem sabe que está chegando a um lindo país, cheio de pontos turísticos que é o sonho de quase todo o mundo conhecer. Porém, não tem a menor vontade de olhar para fora da janela do taxi que o está levando ao hotel. Só tem um interesse nesse país e ele não está à mostra.

Tentou se manter frio durante as cansativas 14 horas de voo, mesmo Patrícia o vigiando todo o tempo. Até enquanto ele ligava para o pai, pedindo que mandasse seus documentos e uma mala pequena, quando ainda estavam no Brasil, ela ficou ao seu lado ouvindo. Está a todo tempo em seu pé, mas ele sabe que em algum momento vai dar um jeito de avisar a todos o que está acontecendo, principalmente Roberta. Foi muita sorte que o pai tenha lhe oferecido todo o apoio possível, mesmo não entendendo porque o filho estava viajando às pressas para um lugar que não podia dizer onde era. Aliás, pelo destino da viagem, Diego já imagina com quem está Nina e não sabe até onde isso é bom ou ruim.

Ao chegar ao hotel, Patrícia exige que se registrem no mesmo quarto, para que ele não possa fazer nada que a comprometa. Diego aceita, mas pede que ao menos fiquem em camas separadas, e seu desejo é realizado, mesmo contra a vontade.

Depois de se instalarem, ele fica completamente sem paciência, porque a garota não parece se importar com o tempo passando. Pede o almoço no quarto e demora horas tomando banho e arrumando suas coisas.

-Escuta. –Ele agarra seu braço quando ela sai do banheiro, insistindo pela vigésima vez. –Me fala da minha filha ou eu não respondo por mim.

A garota ri, desdenhosa.

-Estamos na Itália. Você ainda não ligou os pontos, lerdinho?

Diego a solta com um solavanco.

-Ela está com Leonel, não é?

-Claro. Quem mais?

Diego sente um clique na cabeça.

-Espera. Desde quando você tem contato com o pai da Roberta?

-Faz tempo. Como você acha que eu sei que ele está com a sua “filhinha querida”?

-Mas como? Você era a babá dos meus irmãos, o que poderia ter com ele?

-Não tenho que te explicar nada. –A garota passa por Diego e vai se sentar na cama. –Se quiser que eu te ajude a encontrar a menina, tem que aceitar fazer as coisas do meu jeito.

-Ajudar a encontrar? Você não disse que sabe onde ela está?

-Bem... Sei que o Leonel a trouxe, mas não sei onde está... Não exatamente. –Ela fica nervosa. Não quer admitir que o enganou com a história da chupeta. Foi muito bom poder fazer Roberta sofrer através disso e não quer enfurece-lo, pois ainda tem outro plano ainda melhor em mente. Acredita que, estando sozinha com Diego no hotel, sendo a única a lhe ajudar em um momento tão difícil, pode muito bem consola-lo,lhe dando todo o carinho possível até que esteja tão influenciável que possa acabar indo para a cama com ela. Ah, os homens são muito facilmente persuadidos, ela acredita. E fazer isso seria a vela do bolo, seria o que destruiria completamente Roberta. Mas o principal e que mais lhe interessa em toda essa situação, é que, com a ajuda de Diego, poderá finalmente mandar Leonel para a cadeia, acusando-o de sequestro. Isso será uma vingança a altura pela canalhice que ele lhe fez.