Cap 80 - Um amor de babá

Talvez fazer aniversário não seja estar caminhando cada vez mais para o fim como alguns acreditam, mas vencendo-o. É como se a cada ano estivéssemos subindo em um pódio mais alto e dizendo “Viu? Eu consegui de novo!”, mesmo sabendo que um dia haveremos de cair.

***

Diego desce sozinho para atender a porta e quem pula na sala é Tomás com um enorme sorriso.

-E aí? Cadê a nossa mascotinha?

-Trouxemos presente! –Carla sacode um embrulho colorido.

-Oi, entrem! Obrigada! A Roberta foi dar um banho nela. E vocês? Não iriam pra festa mais cedo?

Eles conversam caminhando até o sofá e se sentam.

-Pois é, a gente ia mesmo... –Carla começa. –Mas ficou por conta da Alice terminar de ajeitar tudo. Aliás, foi ela também que nos mandou vir aqui buscar a Nina.

-Buscar?

-É que a Alice disse que contratou uma pessoa que vai vestir e arrumar ela pra uma sessão de fotos.

-Sessão de fotos?

-Diego, você tá parecendo um papagaio, sabia? –Tomás tira sarro.

-Mas a Roberta vai demorar muito?

-Acho que não, Carla. –Diego olha para a escada. –Mas vamos comer alguma coisa até que ela desça.

Os três seguem para a cozinha e em poucos minutos Roberta aparece com Nina de banho tomado e pronta para sair. Assim que a veem, os padrinhos armam uma festa e é um tal de joga criança pra um lado e pro outro com beijos babados que não acaba mais.

-É muito fácil amar esse minha afilhada! –Nina ri enquanto Carla brinca com ela no colo.

-Aqui, o papo tá bom. –Tomás olha no relógio. –Mas a gente tem que levar ela.

-Levar? –Roberta se assusta.

-É que querem tirar umas fotos dela. –Diego explica, tentando evitar contar muito mais que isso.

-Mas não dá pra esperar a gente não?

-Eles estão atrasados, Roberta. Deixa. A Nina vai ficar bem. Ela não chora com ninguém. Além disso, a Carla vai junto, porque se fosse o “crianção” do Tomás sozinho, nem eu deixava...

-Ei! –Ele se ofende.

-Tá bom, tá bom... Podem ir! –Roberta se rende. –Mas cuidem bem dela viu?

-Pode deixar. –Eles respondem.

E o casal os acompanha até a porta onde fica observando Tomás e Carla partirem com aquele ser risonho nos braços. Quando por fim os amigos atravessam o portão e vão embora, Roberta se vira para Diego.

-Então?

-Então? –Ele repete, confuso.

-A gente não tinha que?... –Ela insinua sobre o ocorrido no quarto, mas ele não nota.

-Se arrumar pra não chegar tarde. –Ele estala os dedos. –Pode ir tomar banho. Eu vou dar um jeito na cozinha. –E se vira, entrando em casa, deixando-a sozinha do lado de fora.

E paralisada, sem entender muito bem o que ele tem, Roberta para e pensa: “Ele desistiu de fazer as pazes?”. E entra em seguida, um tanto decepcionada. Queria muito conversar com ele agora que não havia nada que os impedisse. Talvez, com um pouco de sorte, tudo pudesse se ajeitar e pudessem voltar a trocar ao menos um beijo, um abraço. Estão distantes e isso a machuca de um jeito que não consegue conter. É como se seu coração se fechasse, se contraísse, se contorcesse no peito, numa vontade imensa de gritar.

***

Ao chegar à mansão, Carla e Tomás mal conseguem entrar, tamanho é o caos que está instalado. Alice grita com tudo e todos. Bolos, lembrancinhas, confetes, bexigas, docinhos... Tudo uma bagunça. E uma bagunça rosa, um exagero de enfeites e comidas diversas.

-Alice! –Carla consegue finalmente agarrá-la pelo braço e leva-la até um canto. –Você ficou doida, que tanto de?... de?...

-Tá lindo não tá? –Ela admira, orgulhosa de seu feito. –Cadê a Nina? A estilista já chegou! Temos que arrumar a aniversariante. –De repente Alice vê a menina com Tomás adiante e sai correndo, deixando Carla para trás.

-Não atropela a gente não, minha filha! –Tomás tenta diminuir a adrenalina de Alice quando esta se aproxima.

-Mi-nha-prin-ce-si-nha! –Ele aperta as bochechas da menina. –Essa aniversariante vai ficar linda! Dá ela cá!

-Ai meu Deus, protege essa criança. –Tomás não perde a piada ao entregar Nina a Alice.

-E vocês ajudem a recepcionar os convidados, já estão chegando!

E quando a garota sobe as escadas, deixa o casal preocupado.

-Acho que a gente devia ligar pro Diego. –Carla fala de lado. –Se a Roberta ver a filha dela toda emperiquitada, não vai prestar.

-Fato. –Tomás tira o celular do bolso. –Acho que ela já vai pirar muito com esse monte de rosa. E não era pra ser uma festinha simples? Isso aqui vai ser um acontecimento! Acho que é melhor a gente tirar um pouco desses enfeites gritantes pra tentar diminuir um pouco esse “cheguei” todo.

-Gente, me ajudem a esconder algumas coisas, a Roberta vai matar a Alice! –Pedro vem com um monte de balões nas mãos ao encontro deles.

-É o que eu estava falando pra Carla!

-Mas não acho que vai dar pra mudar muita coisa não. –Ela palpita.

-Tem razão, nós devíamos ter vigiado melhor ela, mas agora já é tarde. –Tomás reclama. –Vamos cada um pra um lado retirando o máximo que a gente conseguir. Ao menos quem sabe diminuímos as possibilidades do tufão Roberta entrar em ação, né!

E enquanto os três tentam evitar um pouco da encrenca que imaginam que irá se alastrar, os convidados começam a tomar o lugar. Uns dos primeiros são Sílvia e Leonardo que chegam com os gêmeos Danilo e Bruno. Márcia e Téo também os acompanham. O que ninguém esperava era que mais alguém viesse com eles. Patrícia entra a todo sorrisos, com um vestido vermelho, justo, muito longe de parecer estar ali para cuidar de criança.

-A Alice tá ficando louca lá em cima! –Eva desce as escadas falando pelos cotovelos e cumprimentando ao mesmo tempo. –Ah, os Maldonado! Que prazer vê-los! Bem vindos! Como vocês estão?

-Bem. –Sílvia é simpática. –Mas o que há com a Alice?

-Não consegue vestir a minha net... –Eva empaca. –Quer dizer, a Nina. Nossa aniversariante está agitada!

-Talvez eu possa ajudar, tenho muito jeito com criança. –Patrícia se oferece.

-E quem é você?

-Ela é a babá dos meninos. –Leonardo responde.

-Ah, meu bem, se você quiser! A casa é sua, pode subir! É na primeira porta a direita.

-Obrigada.

E com o consentimento de Eva, Patrícia sobe ao quarto, deixando um barulhão ocorrendo no primeiro andar. Está tudo ficando lotado. As cadeiras vão sendo ocupadas por todos os conhecidos, vizinhos, gente importante que Alice acreditou dever convidar, assim como todos os amigos e “não-amigos” que estudaram no Elite Way. Binho, Juju, Pilar, o diretor Jonas, João e sua irmã Bia, os professores, os conhecidos da Vila Lene, enfim... Ela não se esqueceu de ninguém e dificilmente alguém se esqueceria daquele dia.

***

 Assim que chega ao andar de cima e abre a porta do quarto, Patrícia não encontra ninguém, mas logo ouve um barulho, um balbucio de bebê vindo de debaixo da cama de Alice e ergue as sobrancelhas.

-Ah... Então você está escondida? –Ela caminha até lá e quando agacha, vê o rostinho curioso de Nina a observá-la surpresa, como que a imaginar quem deveria ser aquela nova pessoa que vinha brincar com ela.

“Nina, cadê você?” –Patrícia ouve Alice gritar chorosa do corredor.

-É, parece que estão te procurando. Vem! –E enfia a mão debaixo da cama, puxando a menina. Logo que levanta com ela, a segura por debaixo dos bracinhos, erguida no ar, de modo que possa ter uma visão completa. E ao olhar bem em seu rosto, diz com desdém:

-Estão esta é a isca que usaram pra prender o Maldonado júnior... Loirinha e melequenta... Deve ter puxado à mãe. Isso se for mesmo filha do Diego.

-Nina! –Alice abre a porta do quarto, e no mesmo instante, Patrícia segura a menina direito.

-Ela estava debaixo da cama. –E a entrega a Alice.

-Ai fofa, não faz isso com a sua madrinha. Eu quase morri do coração!... –E se vira para a garota que as observa. –Muito obrigada! Você me salvou!

-Que isso. De nada.

-Desculpe, mas eu não me lembro de você.

-Sou Patrícia. Babá dos filhos da Sílvia e Leonardo Maldonado. Disse a Eva que talvez quisesse minha ajuda com a menina.

-E como quero! –Diz colocando Nina na cama. –A estilista desistiu de vestir ela! É tão chata quanto a Roberta com roupa!

-Roberta? É o nome da mãe dela?

-É! –Alice fica curiosa. –Não a conhece?

-Não. Mas adoraria conhecer. –A garota saboreia a frase com um sorriso maldoso nos lábios.

-Você vai conhecer hoje. Precisa ver como ela se veste! E eu não posso deixar minha afilhadinha linda seguir o mau exemplo! Né fofinha? –E volta a apertar as bochechas de Nina, que já está incomodada.

-Claro! –Ela concorda. –E não se preocupe, eu vou te ajudar. As crianças sempre me obedecem.

E Alice sorri, acreditando ter encontrado uma pessoa muito amiga e gentil. Mas Patrícia fica é intrigada para saber como é Roberta, tendo reparado bastante na filha, para ter uma ideia de como ela possa ser. Mas sua maior ansiedade da noite está em ver Diego novamente.