Menos de cinco segundos. É o tempo que alguém leva até se
dar conta de que algo aterrorizante está acontecendo. É o tempo de sentir que o
coração já não bate no mesmo ritmo e que as pernas quase não estão suportando o
peso do próprio corpo.
É assim que Diego se sente ao atravessar cada cômodo da casa
e não encontrar ninguém. Nem no quarto do casal, nem no da menina ou na
cozinha, banheiro, sala, quintal... Nada.
-Roberta! –Ele abre as portas, sempre vendo os mesmos móveis
estáticos, em um completo silêncio que vai a cada momento provocando mais agonia.
Elas não poderiam ter saído. Roberta disse que iria para
casa e se não fosse, mesmo que estivesse brava, o avisaria... A menos que...
Ele para descendo as escadas e não consegue tirar da mente que pode ter acontecido algo. Leonel pode ter se aproveitado por as duas estarem sozinhas, obrigando-as a entrar em um carro ou sei lá o que. Se sente paranoico. Acaba de descer os degraus, já com o celular em mãos, ligando para ela quando a porta da frente se abre. É Roberta, trazendo Nina dormindo.
Ele para descendo as escadas e não consegue tirar da mente que pode ter acontecido algo. Leonel pode ter se aproveitado por as duas estarem sozinhas, obrigando-as a entrar em um carro ou sei lá o que. Se sente paranoico. Acaba de descer os degraus, já com o celular em mãos, ligando para ela quando a porta da frente se abre. É Roberta, trazendo Nina dormindo.
-Onde você estava? –Ele corre até lá e a repreende.
-Eu...
-Quando cheguei, não encontrei ninguém! Você poderia ter me
ligado pra me avisar que tinha saído!
-Diego, me ouve...
-Você disse que viria direto pra casa!
-Psiu... Fala baixo! Vai acordar ela...
Diego se cala e apenas observa Roberta passar por ele, indo
deitar Nina no carrinho que está adiante, perto do sofá.
-Estou esperando. –Ele cruza os braços quando ela volta e o
encara.
Roberta coloca as mãos na cintura, estressada com todo esse
mau humor do namorado.
-Meu pai me ligou. Disse que queria falar comigo.
-E você foi? Teve coragem de ir vê-lo?
-Será que pode me ouvir primeiro?
-Tá, ok, fala!
-Ele disse que me dava uma condição para não levar a Nina.
Por isso eu fui vê-lo.
-Que condição? –Ele fica atento.
-Foi estranho. –Ela fala consigo mesma. –Está fácil demais.
-Diz logo!
-Ele disse que não vai mais leva-la com a condição que a
gente não a deixe mais com a minha mãe. Disse que a Eva é uma irresponsável.
-Mas onde a gente vai deixar quando precisarmos fazer shows
ou quando as aulas voltarem?
-Então. Foi aí que eu desconfiei. Porque ele quer que a
gente deixe a Nina na casa do seu pai. Disse que lá ela não terá “más
influências”.
-Mas isso é ótimo! –Diego vibra.
-Ótimo? Minha mãe vai ficar uma arara. E o Franco então? Já
tá todo apegado a Nina. Além disso... –Roberta fica desconfiada. –Eu acho que
isso foi ideia do seu pai.
-Por quê?
-Porque foi exatamente depois de você ter estado lá que o
Leonel me ligou! E se seu pai estiver envolvido nisso tudo?
-Como você pode dizer uma coisa dessas? –Diego se irrita. –O
meu pai quer ajudar a gente!
-Desde quando?
-Desde muito tempo! –Ele fica revoltado.
-Eu não confio no Leonardo! Não confio nesse arrependimento
dele!
-Mas eu confio!
-E você seria capaz de arriscar a segurança da Nina? Jura? –Roberta
aponta para o carrinho onde o bebê dorme tranquilamente, indiferente à briga
que ocorre.
Diego a olha. As bochechas rosadas, o pouco cabelo dourado e
as mãozinhas sobre a barriga. Sente uma dor se irradiar no peito, como se pular
do último andar de um arranha-céu parecesse algo bem mais fácil de lidar do que
responder aquela pergunta.
-Eu... Eu acho que sim. –Ele abaixa a voz e fica perdido. –Também
não vejo outra saída! É o melhor!
Roberta respira fundo, tentando se acalmar.
-Não, então tá. Você venceu. A Nina vai pra casa do seu pai.
–Ela se vira para sair, mas volta. –Mas eu te digo uma coisa, Diego. Que se
algo acontecer a ela...
-Não vai acontecer nada!
-Bom mesmo. Porque se acontecer... –Ela reluta em dizer. –Eu
não sei se vou conseguir te perdoar!
Diego fica estático com a frase e em seguida a vê sair, a passos firmes, rumo à
cozinha. Tem a sensação de um peso sobre as costas. Vem até o sofá um tanto
abatido e se senta ao lado do carrinho, olhando a filha dormir. Coloca o
indicador entre os dedinhos dela, que o segura, mesmo sem acordar. E pensa: Se
as coisas entre ele e Roberta continuassem assim, o que seria do futuro dos
três? Há pouco estavam todos tão felizes. Como de uma hora para outra tudo pode
se tornar tão obscuro? Como as alegrias podem ser tão frágeis a ponto de cair
diante da simples suposição da existência de um mal? É como se elas tivessem
que ser constantemente amparadas e tratadas com zelo, de tão melindrosas. E ele
fica com raiva, confuso, triste e sem lugar. Mas apesar disso, detém uma única
preocupação e desta não se distancia por nada. E enquanto observa Nina, lhe faz
uma promessa.
-Pode dormir tranquila, meu anjo. Eu vou te proteger.
***
Poucos dias se passaram e não foram dias muito felizes
naquela casa. Quando os dois conseguiram conversar, geralmente brigaram, mas
Roberta evitou Diego a todo tempo e mesmo quando este se esforçou para se
aproximar, acabou se arrependendo, por um orgulho teimoso que o deteve. Porém,
pela manhã de um belo dia de sol, Roberta se lembra de algo muito importante que
a faz esquecer as picuinhas e entrar de vez no quarto quando Diego está
calçando o tênis.
-Ei! Hoje é dia 12!
-Eu sei! Você tinha esquecido?
-Claro que não! Mas com tudo que
está acontecendo, a gente não preparou nada para o aniversário dela! O que a
gente vai fazer?
-Já tá tudo pronto. –Ele continua amarrando o cadarço,
calmamente, mas não a olha.
-Como assim “pronto”?
-Eu pedi ajuda a galera, afinal são padrinhos da Nina. –Diego
sorri e finalmente olha. –Vai ser uma festa simples na casa do Franco. Então é
melhor se arrumar.
-É sério?
-É. Vai ser só a família e os amigos próximos. Imaginei que
você fosse preferir dessa forma.
Roberta sorri e o encara, sem graça.
-Obrigada.
-Não tem de que.
Os dois se olham por alguns segundos, sem se mover. Parecem
presos à imagem do outro e de alguma forma, sentem saudade da forma mais
carinhosa com que se tratavam. Sem resistir a isso, Diego se levanta, relutante em ir até ela.
-Bom, eu vou... –Roberta tenta pensar em algo para sair
dali.
-Você?
-Vou... Vou ver a Nina, dar um beijinho de aniversário nela.
–Roberta fica hipnotizada no olhar dele, que está intenso no seu.
-Sim... Quer dizer, eu acho...
Diego se aproxima e ela dá um passo para trás sentindo as costas encostarem na parede. Uma parede que naquele momento ela nem lembrava existir.
O rosto de Diego está chegando muito próximo ao seu, tanto
que ela acaba por sentir a respiração dele em seu rosto. Há dias evitava até
mesmo um beijo e tê-lo tão perto tirava qualquer escudo que houvesse criado.
Ele deseja terminar ali toda confusão e pensa que, talvez se conseguir
lhe dar esse beijo, possa envolve-la em um sentimento tão bom, tão quente e
reconfortante que passar a mão por trás de sua cintura, apertando-a contra o
corpo de modo que ela não ofereça resistência, será apenas um detalhe. Em seguida poderá caminhar até a cama, deitando-a suavemente sobre o colchão, ainda com um beijo gostoso
e calmo ocorrendo. E acariciando todo corpo dela por baixo da camisola fina,
sentirá os pelos da pele sedosa se erguerem. A deixará nua em instantes, que é
como deseja vê-la há dias. E passariam uma manhã deliciosa sobre o frescor
dos lençóis, fazendo carinho, fazendo amor, fazendo as pazes...
Diego fantasia enquanto segura o rosto dela. Está tão perto de fazer tudo voltar ao normal que parece sonho. Então chega os lábios
perto dos dela e a vê fechar os olhos, como que a receber a cartada final. Neste instante, porém, ouve-se um
barulho vindo do quarto da frente.
-O que foi isso? –Ela se afasta de uma só vez.
-Não sei! –Diego responde, já saindo do quarto e Roberta vai atrás.
Estava terminada a manhã como esperavam, mas sempre haverá mais de um jeito de se resolver um problema.
Ao chegar lá eles encontram o abajur no chão e Nina de pé
agarrada à grade balançando um pobre ursinho pelo braço. Ela está sorrindo com toda
sua inconveniência, mas nenhum dos dois consegue se importar com o fato de terem sido interrompidos neste instante.
-Gente, como é bagunceira essa minha filha! –Diego vem também sorrindo até ela e a retira do berço.
Roberta levanta o abajur e depois de ajeitá-lo no criado,
volta a observar Diego brincar com a filha. O coração ainda está fora do
compasso e observá-lo a vai deixando ainda mais desarmada. É lindo ver como os
dois se curtem e como Nina é louca por ele. E Diego sempre tão atencioso,
sempre tão paciente e dedicado, que a faz pensar que talvez esteja sendo dura
demais com ele. O mau humor de Diego já havia passado, mas ela ainda estava de birra e
pensa então que, se não seria bom também deixar isso passar. E com um sorriso
terno, ela se aproxima, coloca a mão no ombro dele e também brinca.
-Mas essa aniversariante acordou muito alegre!
Nina sorri erguendo os bracinhos para Roberta, que a pega e
enche de beijos.
-Awn! Parabéns minha filhotinha!
E então ouvem a campainha tocar.