Cada milímetro de sua pele tinha uma condição
diferente naquele momento. Lembrava-se de fugir, lembrava-se de ficar. Roberta
estava assim, entre a vontade e o castigo que deveria infligir a ele. Mas não
havia tempo para o pensamento, pois Diego era rápido e já estava roubando sua
boca e sua língua com uma vontade louca antes que ela pudesse formular uma
simples ideia. O beijo a prendia e a deixava desnorteada por vários minutos a
fim. Tudo estava indo a favor dele, que tinha o corpo dela nas mãos e tudo sobre
o seu controle, como queria.
Roberta tinha certas intenções desconhecidas por ele e logo que se
lembrou delas, parou um beijo com uma mordida proveitosa nos lábios de Diego
enquanto segurou firme suas mãos que estavam presas em suas costas.
-Vamos ficar aqui de pé? –Ela cochichou perto dos lábios dele, ainda
vermelhos da mordida.
-E onde...?
-Vem comigo.
Ela o agarrou pela mão e o levou pela escuridão ainda entre os sons da
tormenta que ocorria do lado de fora. O barulho da chuva no telhado era
realmente forte e a negritude do momento quase irreal.
Quando ela parou e soltou sua mão antes de ser agarrada novamente, Diego
sentiu um impulso e caiu em cima de um colchão.
-Que foi...?
-Psiu...
Nem pôde reclamar, pois ela veio logo por cima de seu peito, deitando
sobre ele e colocando o dedo em sua boca a pedir silêncio. Era o suficiente
para deixa-lo quieto, mas não para fazê-lo não querer novamente partir para as
preliminares que tanto gostava. E que difícil se tornou sair dos braços dele,
de seus dedos, de suas formas apaixonadas e tomadas de puro êxtase. Era difícil
e ela sabia disso. Estava preparada para fazer tudo quanto fosse preciso para
dominá-lo, ela que era a fera dos dois.
Resolveu então ser lenta e precisa e com um jeito teimoso vai proibindo-o
de se manifestar. Ela vem continuamente sobre ele, beijando seu peito, deitando
suas mãos pelos braços e por sua barriga enquanto o lava com os cabelos, com a
língua, com a boca em toda extensão de seus músculos. Vai notando os arrepios,
os tremores e o fogo que vai se instalando na pele dele. É como se Digo já não
tivesse mais o controle que tinha no começo e isso a agrada. Está um tanto
inebriado e perdido em detalhes que vai sentindo, está delirando acordado com o
talento dela em lhe deixar fora da realidade.
A chuva vai diminuindo e com espaço curto de tempo, todos os barulhos vão
cessando e ficam apenas os raios que cortam carinhosamente o céu como forma de
mostrar sua ferocidade. É um detalhe intenso na janela ao lado deles, como uma
luz que agoniza por não vir em todos os momentos em que os olhos desejam ver o
que se passa. A visão fica por conta das mãos, por conta da pele, por conta de
tudo que possui tato, além do paladar e da intuição, que entre os dois servem
um tanto de caminhos.
Roberta termina o beijo antes que algo mais aconteça e se levanta sobre
ele sentindo apenas as mãos teimosas de Diego vagando em sua cintura, subindo e
descendo em suas coxas a apertar cada parte de seus desejos como só um homem
apaixonado sabe fazer. E o olhar busca entre outras coisas, alguma forma de
fazer a luz acontecer naquele ambiente ilusório. E ela se retira de cima dele
enquanto o embriaga com beijos e carícias e recolhe algo em algum lugar, um
barulho de vidro é ouvido.
-Que cheiro bom. –Ele observa.
-É um óleo. Sente... -Ela esfrega as mãos e passa pelo peito dele.
-Bom...
Roberta umedece os dedos delicados e os deixa percorrer pela pele de
Diego lentamente enquanto beija sua orelha de modo incessante, deixando um leve
riso escapar da garganta um momento.
Diego se levanta sem avisar e sentado com ela em seu colo, ele a agarra
pelas costas e puxa com força de encontro ao peito. A garota solta um gemido
rápido como uma retirada brusca do ar e o ouve completar.
-Eu posso?
Ela sorri.
-Será que você sabe?
-Eu posso tentar.
Diego afunda os dedos lado a lado da cintura dela e a beija com ardência
antes de deitá-la no colchão sem retirar a boca, a língua ou a energia ao fazer
isso. Ele não consegue vê-la bem e isso o deixa com mais cede.
Chega os lábios sobre o umbigo de Roberta e sopra o ar quente de seu
organismo fazendo-a se arrepiar e experimenta com os dentes a pele que tem
abaixo de si. Ela fecha os olhos, o corpo palpitando ao toque dele. Sente-o
pegar o vidrinho de óleo e percebe que ele o colocou nas mãos antes de tocá-la
novamente. A sensação é de calor, de deslize suave, massagem relaxante, ao
mesmo tempo que a eletrifica até a alma.
Os dedos de Diego são fortes, precisos e parecem quase ter olhos. Sobem
esfregando o abdômen dela, subindo mais, entre as curvas, entre as saliências
do caminho, os seios se enrijecem num arrepio, o coração começa a palpitar e a
face dela fica em brasa conforme ele a toca. Seus olhos se comprimirem ao
sentir o calor da língua dele sobre cada parte de seu corpo. Um toque aveludado
de senti-lo colando a ela, a sensação do peito dele unido ao seu, as pernas se laçando,
as maçãs do rosto se unindo, tudo ao mesmo tempo. O afundar de um beijo longo
no pescoço.
Ela suspira.
-Eu sou bom massagista?
-Não... –A palavra nem sai.
-Que pena.
-Também acho.
-Posso fazer outra coisa por você? –Ele arrisca.
-Se essa você souber.
Ele sobe ao ouvido dela.
-Você vai dizer se eu sei.
As costas dela estão ajeitadas sobre o colchão. Os clarões dos raios
ainda se apresentam nos vidros da janela apesar de não haver mais chuva. Está
escuro, está calmo, está um clima perfeito de desejo misturado com delicadeza.
É assim que ela sente tudo à sua volta e ele também. Estão calmos e capazes de
viver com intensidade cada segundo da noite. Como um amor que se espera a vida
inteira para sentir, como se as músicas fossem apenas uma frase de um imenso
romance que nenhum poeta jamais poderia eternizar. A realidade, ainda mais
forte que o verso, intensifica a vida, tornando tudo, mesmo que em tão curto
tempo, mais valioso e impressionante que qualquer suspiro inventado.
Diego é carinhoso, ainda mais do que sempre é, apesar de estar com os
hormônios à mil. Beija-a nos lábios demoradamente enquanto se encaixa em seu
corpo, as pernas se ajeitando uma na outra, os braços formando um abraço confortável
e só assim, bem devagar e sem sessar o beijo, é que ele encontra o interior do
corpo dela, ocupando-o por inteiro, sentindo-o se contrair, comprimir,
aquecê-lo. Abriga-se em Roberta, a faz estremecer sem pressa, ajeitando-se
calmamente, os corpos se sincronizando prazerosamente, até que ele possa
iniciar um ir e vir suave e profundo, que desliza do corpo e invade a consciência,
formando labirintos de rosas perfumadas, de nuvens e penhascos onde podem percorrer
em minutos de prazer irracional. Um paraíso físico dentro deles provocando pequenos
choques nas veias, o sangue que se torna mais vivo do que nunca, como se fosse
possível senti-lo circular.
-Você é minha vida inteira. –Ele cochicha. –Eu não sei o que eu faria sem
você, eu morreria.
Ela o abraça apertado, força os músculos a tê-lo mais junto ainda de si.
-Eu também. –Uma lágrima lhe escapa do canto do olho e ela sorri para si
mesma. –Não quero viver outra vida que não esta... Esta que construímos.
Diego beija o rosto dela, os olhos, o queixo, fica parado, grudado nela, acariciando
a face corada e risonha que ela tem, que se revela a cada relâmpago, também
suada e trêmula. Fica alisando os cabelos dela e dizendo a si mesmo que quer
ter essa visão para todo o sempre. Pensa que são mesmo diferentes do resto do
mundo. Foram os primeiros e querem ser os últimos um do outro, não importa o
quanto isso pareça inocente perto do que os amigos querem. E ele se dá conta de
que é mesmo algo inocente, pois o amor tem essa cara de safado todo o tempo,
mas se é desse jeito, verdadeiro, expõe logo sua pureza. Ele não é para
qualquer um.