Um destroço que torna tudo mais bonito. Qualquer conto pode ter a magia dos sonhos impossíveis, mas é a realidade imperfeita e infiel que torna a vida incomparável, única e bela em milhões de sentidos.
Em um susto, Roberta não pensa duas vezes e sai tropeçando em tudo até chegar à cozinha. Quando chega, vê a menina sentada em cima da mesa e a jarra de suco no chão, quer dizer, vê vários cacos em meio a um rio de suco de laranja que se esparramou completamente na cerâmica branca.
-Mas...! Como você...? –Diz retirando-a da mesa e admirando a bagunça. –Nina, você não pode subir aqui.
A bebê apenas pisca olhando seriamente para a mãe, como se esta não tivesse dito nada. No fundo não fazia ideia mesmo.
O telefone toca e Roberta corre instantaneamente.
-Ai, tomara que seja o Diego.
E chegando até a sala outra vez, ela se senta com Nina no sofá e atende.
-Alô?
-Tudo bem?
-Tudo. Quem é?
-A menina está bem?
Roberta estranha. –Como? Quem fala?
-Como anda de saúde?
-De quem você está falando?
É lógico que Roberta sabe de quem o homem do outro lado da linha está falando, mas fica impossível manter um diálogo com tanto mistério.
-Ainda a leva no pediatra todo mês não é?
Roberta não consegue responder de imediato, ninguém, nem seus amigos sabiam desse fato. Então, quem era?
-O que você tá querendo? –Ela não obtêm resposta. –Alô?
O homem desliga.
Roberta fica confusa e começa a enrolar vários pensamentos juntos. Em um momento pensa que talvez seu pai esteja fazendo isso, mas não era algo que combinava muito com Leonel. Ele sempre havia sido o tipo do pai que chegava, fazia o que tinha de fazer e pronto! Jamais fazia rodeios, dizia ter o tempo muito caro.
Quase crendo ser um trote de alguma criança da vizinhança, Roberta se distrai do telefonema e vai até a cozinha e abre a geladeira.
-Vamos fazer outro suco... –E sorri para Nina, colocando-a de pé ao seu lado enquanto pega uma jarra em uma mão e um pote de manteiga em outra.
A porta da geladeira vai fechando sozinha lentamente enquanto Roberta vai até a mesa para colocar as coisas. Ao virar de costas, cadê?
-De novo? Ah não, eu não quero brincar agora!
Ela olha para os lados e não a vê. Em um segundo tem um pensamento maluco que faz seus olhos arregalarem.
-Não... -Não é possível... –E abre a geladeira. –Nina!
Deitada na última prateleira como um frango congelado estava um projeto de menina. Seu bico vai ficando enorme ao ver Roberta e começa a chorar. Três segundos naquele lugar frio, apertado e escuro haviam sido o suficiente para deixá-la muito assustada, mas não mais do que Roberta. Ela a retira rapidamente e a abraça contra o peito, sentando no chão, quase chorando também.
-Ai meu amor...
Pode até não ter culpa, mas mesmo assim a sente, e muito pesada. Vê várias coisas horríveis passarem por sua mente se caso não tivesse aberto a geladeira. Seu coração bate tão forte que percebe o tremor de cada artéria do corpo. Nina vai ficando quietinha enquanto sua testa é beijada.
-Não faz mais isso! Você corre o risco de ficar órfã! Eu quase tive um enfarte agora!
E ainda com o ar passando com dificuldade pelos pulmões ,Roberta se levanta e coloca Nina no carrinho, se certificando de que está bem segura e que não pode sair. Em seguida pega um pano e começa a limpar o chão.
-Ai! –Ela corta o dedo com um caco de vidro. –Mas hoje não é o meu dia mesmo!
E muita coisa vai dando errado durante a manhã. Até as onze tinha tudo para ser uma manhã tranquila, mas não, por algum motivo foi um verdadeiro caos. As travessuras não pararam e Roberta chegou a um estágio em que só pensou em uma pessoa.
-Mãe me ajuda! –Ela liga para Eva.
A cantora tem ataques de riso pelo telefone, coisa que deixa a filha furiosa, além de mais desesperada.
-Eu aqui feito maluca e você rindo, Eva Messi?
-Claro! As histórias são hilárias! –A cantora ri ainda mais. –Agora você tá vendo o que eu passava com você!
Não tem graça, com certeza não tem. Roberta vai ficando uma fera.
-Filha! Para um pouco! É sério que você não imagina o que ela quer?
-Não! –Ela grita. –E quer saber? Tchau! Eu me viro!
E batendo o telefone ela retorna a cozinha para almoçar. Diego não voltaria tão cedo e não podia sair com tanta coisa para resolver. Ao se sentar com um livro da faculdade de um lado e o prato de outro, ela folheia até chegar à página que precisa. É quando vê, ou melhor, não vê a página. Está arrancada, junto com mais três seguintes.
-Como assim?
Nisso ela fecha os olhos e reza para não ser o que imagina, mas ao se virar para Nina, a vê brincar com elas no chão, amassando e esfregando-as para todos os lados.
-"Oh ati"! Mamã! Oh!"–Ela ergue as mãozinhas mostrando sua obra.
Roberta escora o cotovelo na mesa e fica com a mão na cabeça olhando. Não sabe se chora, se ri, se joga tudo para o alto ou chama a Super Nanny.
Foram algumas horas ainda bem agitadas até que ela finalmente conseguiu terminar tudo que precisava. Graças a Deus Nina dorme no tapetinho do chão aonde está forrado um manto e com isso pode respirar aliviada.
Caminha em silêncio pela sala com os braços e pernas pedindo parada. Completamente exausta, Roberta se joga no sofá de barriga para cima colocando uma almofada sobre o rosto. Abafa um ou outro choramingo, daqueles do tipo que a gente aprende a fazer quando pensa estar a ponto de saltar do último andar de um prédio.
-Eu não vou aguentar...
E é falando sozinha que ela acaba dormindo. Não percebe o tempo passar, não percebe nada, some completamente do universo. Uma pedra qualquer estaria mais acordada que ela.
Em menos de dez minutos após Roberta dormir, Nina acorda. Primeiro começa a esfregar os olhos e depois vai focando todos os cantos de um jeito sonolento. Agarra o manto e vai firmando as mãozinhas até se levantar escorando no sofá que tem ao seu lado. Vai de passinho em passinho, a pés descalços, até onde Roberta está. O rosto agora descoberto aparece e a menina fica contente ao ver.
Com alguma dificuldade, Nina consegue subir no sofá e começa a engatinhar ao seu lado, arrastando os joelhos roliços entre o encosto e as pernas dela. Ao chegar bem perto, não a chama, apenas sobe devagarzinho em seu tronco e vai deitando a cabeça sobre o coração dela. O corpinho se estende, os bracinhos se juntam perto das bochechas, os olhinhos lentamente vão se fechando e ela volta a dormir.
Linda canção de ninar os batimentos da mãe vão lhe proporcionando. A cada batida, seus ouvidos recebem um novo sonho bonito, daqueles que só uma criança pode ter.
E Roberta dorme, dorme um tempo incontável. O abrir de seus olhos quando o sono acaba é lento, mas um peso sobre seu corpo causa estranhamento, o que a faz acelerar esse processo. Quando, no entanto, o embaçado da visão se desfaz e ela vê abaixo de seu queixo uma cabecinha loira, sorri espontaneamente. Leva uma mão sobre as costas da menina e com a outra começa a alisar o cabelinho dourado que é tão parecido com o seu.
Todos os momentos estressantes do dia se apagam de seu pensamento e só este aparece, o mais brilhante de todos. Está sentindo os dedinhos agarrados em sua blusa, uma respiração aquecendo seu peito e uma bochecha gordinha prensada entre seus seios.
-Como você é adorável, minha pestinha. –Cochicha continuando o carinho. -Devia ter vindo com um manual sabia?
E enquanto a olha vai pensando na ligação, na pergunta do homem sobre a saúde de Nina. Quem mais além dela e Diego sabiam do que acontecia? Ninguém. Ao menos acreditava que ninguém. Logo volta-se para Nina com os olhos ternos e as mãos suaves. Entende de vez o que Eva havia tentado lhe dizer. O que ela queria? Ora, ela "ME" queria...
-Você ainda vai me amar se eu fizer tudo errado?
Em um susto, Roberta não pensa duas vezes e sai tropeçando em tudo até chegar à cozinha. Quando chega, vê a menina sentada em cima da mesa e a jarra de suco no chão, quer dizer, vê vários cacos em meio a um rio de suco de laranja que se esparramou completamente na cerâmica branca.
-Mas...! Como você...? –Diz retirando-a da mesa e admirando a bagunça. –Nina, você não pode subir aqui.
A bebê apenas pisca olhando seriamente para a mãe, como se esta não tivesse dito nada. No fundo não fazia ideia mesmo.
O telefone toca e Roberta corre instantaneamente.
-Ai, tomara que seja o Diego.
E chegando até a sala outra vez, ela se senta com Nina no sofá e atende.
-Alô?
-Tudo bem?
-Tudo. Quem é?
-A menina está bem?
Roberta estranha. –Como? Quem fala?
-Como anda de saúde?
-De quem você está falando?
É lógico que Roberta sabe de quem o homem do outro lado da linha está falando, mas fica impossível manter um diálogo com tanto mistério.
-Ainda a leva no pediatra todo mês não é?
Roberta não consegue responder de imediato, ninguém, nem seus amigos sabiam desse fato. Então, quem era?
-O que você tá querendo? –Ela não obtêm resposta. –Alô?
O homem desliga.
Roberta fica confusa e começa a enrolar vários pensamentos juntos. Em um momento pensa que talvez seu pai esteja fazendo isso, mas não era algo que combinava muito com Leonel. Ele sempre havia sido o tipo do pai que chegava, fazia o que tinha de fazer e pronto! Jamais fazia rodeios, dizia ter o tempo muito caro.
Quase crendo ser um trote de alguma criança da vizinhança, Roberta se distrai do telefonema e vai até a cozinha e abre a geladeira.
-Vamos fazer outro suco... –E sorri para Nina, colocando-a de pé ao seu lado enquanto pega uma jarra em uma mão e um pote de manteiga em outra.
A porta da geladeira vai fechando sozinha lentamente enquanto Roberta vai até a mesa para colocar as coisas. Ao virar de costas, cadê?
-De novo? Ah não, eu não quero brincar agora!
Ela olha para os lados e não a vê. Em um segundo tem um pensamento maluco que faz seus olhos arregalarem.
-Não... -Não é possível... –E abre a geladeira. –Nina!
Deitada na última prateleira como um frango congelado estava um projeto de menina. Seu bico vai ficando enorme ao ver Roberta e começa a chorar. Três segundos naquele lugar frio, apertado e escuro haviam sido o suficiente para deixá-la muito assustada, mas não mais do que Roberta. Ela a retira rapidamente e a abraça contra o peito, sentando no chão, quase chorando também.
-Ai meu amor...
Pode até não ter culpa, mas mesmo assim a sente, e muito pesada. Vê várias coisas horríveis passarem por sua mente se caso não tivesse aberto a geladeira. Seu coração bate tão forte que percebe o tremor de cada artéria do corpo. Nina vai ficando quietinha enquanto sua testa é beijada.
-Não faz mais isso! Você corre o risco de ficar órfã! Eu quase tive um enfarte agora!
E ainda com o ar passando com dificuldade pelos pulmões ,Roberta se levanta e coloca Nina no carrinho, se certificando de que está bem segura e que não pode sair. Em seguida pega um pano e começa a limpar o chão.
-Ai! –Ela corta o dedo com um caco de vidro. –Mas hoje não é o meu dia mesmo!
E muita coisa vai dando errado durante a manhã. Até as onze tinha tudo para ser uma manhã tranquila, mas não, por algum motivo foi um verdadeiro caos. As travessuras não pararam e Roberta chegou a um estágio em que só pensou em uma pessoa.
-Mãe me ajuda! –Ela liga para Eva.
A cantora tem ataques de riso pelo telefone, coisa que deixa a filha furiosa, além de mais desesperada.
-Eu aqui feito maluca e você rindo, Eva Messi?
-Claro! As histórias são hilárias! –A cantora ri ainda mais. –Agora você tá vendo o que eu passava com você!
Não tem graça, com certeza não tem. Roberta vai ficando uma fera.
-Filha! Para um pouco! É sério que você não imagina o que ela quer?
-Não! –Ela grita. –E quer saber? Tchau! Eu me viro!
E batendo o telefone ela retorna a cozinha para almoçar. Diego não voltaria tão cedo e não podia sair com tanta coisa para resolver. Ao se sentar com um livro da faculdade de um lado e o prato de outro, ela folheia até chegar à página que precisa. É quando vê, ou melhor, não vê a página. Está arrancada, junto com mais três seguintes.
-Como assim?
Nisso ela fecha os olhos e reza para não ser o que imagina, mas ao se virar para Nina, a vê brincar com elas no chão, amassando e esfregando-as para todos os lados.
-"Oh ati"! Mamã! Oh!"–Ela ergue as mãozinhas mostrando sua obra.
Roberta escora o cotovelo na mesa e fica com a mão na cabeça olhando. Não sabe se chora, se ri, se joga tudo para o alto ou chama a Super Nanny.
Foram algumas horas ainda bem agitadas até que ela finalmente conseguiu terminar tudo que precisava. Graças a Deus Nina dorme no tapetinho do chão aonde está forrado um manto e com isso pode respirar aliviada.
Caminha em silêncio pela sala com os braços e pernas pedindo parada. Completamente exausta, Roberta se joga no sofá de barriga para cima colocando uma almofada sobre o rosto. Abafa um ou outro choramingo, daqueles do tipo que a gente aprende a fazer quando pensa estar a ponto de saltar do último andar de um prédio.
-Eu não vou aguentar...
E é falando sozinha que ela acaba dormindo. Não percebe o tempo passar, não percebe nada, some completamente do universo. Uma pedra qualquer estaria mais acordada que ela.
Em menos de dez minutos após Roberta dormir, Nina acorda. Primeiro começa a esfregar os olhos e depois vai focando todos os cantos de um jeito sonolento. Agarra o manto e vai firmando as mãozinhas até se levantar escorando no sofá que tem ao seu lado. Vai de passinho em passinho, a pés descalços, até onde Roberta está. O rosto agora descoberto aparece e a menina fica contente ao ver.
Com alguma dificuldade, Nina consegue subir no sofá e começa a engatinhar ao seu lado, arrastando os joelhos roliços entre o encosto e as pernas dela. Ao chegar bem perto, não a chama, apenas sobe devagarzinho em seu tronco e vai deitando a cabeça sobre o coração dela. O corpinho se estende, os bracinhos se juntam perto das bochechas, os olhinhos lentamente vão se fechando e ela volta a dormir.
Linda canção de ninar os batimentos da mãe vão lhe proporcionando. A cada batida, seus ouvidos recebem um novo sonho bonito, daqueles que só uma criança pode ter.
E Roberta dorme, dorme um tempo incontável. O abrir de seus olhos quando o sono acaba é lento, mas um peso sobre seu corpo causa estranhamento, o que a faz acelerar esse processo. Quando, no entanto, o embaçado da visão se desfaz e ela vê abaixo de seu queixo uma cabecinha loira, sorri espontaneamente. Leva uma mão sobre as costas da menina e com a outra começa a alisar o cabelinho dourado que é tão parecido com o seu.
Todos os momentos estressantes do dia se apagam de seu pensamento e só este aparece, o mais brilhante de todos. Está sentindo os dedinhos agarrados em sua blusa, uma respiração aquecendo seu peito e uma bochecha gordinha prensada entre seus seios.
-Como você é adorável, minha pestinha. –Cochicha continuando o carinho. -Devia ter vindo com um manual sabia?
E enquanto a olha vai pensando na ligação, na pergunta do homem sobre a saúde de Nina. Quem mais além dela e Diego sabiam do que acontecia? Ninguém. Ao menos acreditava que ninguém. Logo volta-se para Nina com os olhos ternos e as mãos suaves. Entende de vez o que Eva havia tentado lhe dizer. O que ela queria? Ora, ela "ME" queria...
-Você ainda vai me amar se eu fizer tudo errado?