O tempo talvez seja a única coisa que temos verdadeiramente, então ele é a felicidade. Mas o usamos com coisas que não gostamos, o doamos a quem não merece, o vivemos com pessoas desagradáveis e ainda nos perguntamos por que não somos felizes.
Três meses
se passaram e a rotina dos seis se tornou extremamente cansativa e repleta de
momentos de tirar o fôlego nos palcos das cidades brasileiras. Todos os dias,
eram principalmente Roberta e Diego que corriam para conseguir levar uma vida
perto do que as pessoas chamam de normal.
Recapitulando:
Acordavam
cedo, levavam Nina para a casa de Eva e de lá seguiam para a faculdade. Na hora
do almoço eles retornavam para buscá-la e partiam para o trabalho (Roberta a
levava para a gravadora). À tarde eles voltavam para casa ou iam se aprontar para
o show que ocorria várias noites na semana.
A menina era
sempre a plateia deles e ficava o tempo todo com os olhos arregalados a
observá-los cantar. Era o único momento em que todos os seis ficavam com ela.
-A sétima
rebelde! –Tomás a sacode no ar e Nina ri. –Você não vai deixar o sonho morrer
não é mascotinha?
-Ela vai ser
uma rockstar como a mãe! –Roberta passa perto e lhe dá um beijo no pescoço fazendo-a
se encolher no colo de Tomás.
-Daqui a
pouquinho ela pode fazer show com a gente! –Ele começa a pular com ela pelo
salão. –Mais uns tempo e já começa a correr por aí! Vou te ensinar a dar
cambalhota, nanica!
-Cuidado com
a minha filha aí Tomás! –Diego adverte suas brincadeiras.
-Fala pro
chato do seu pai que só estamos nos divertindo, fala!
E enquanto as
duas crianças brincam pelo salão, os outros organizam as coisas para partir. Logo
é chegada a hora mais difícil: Deixar Nina outra vez na casa de Eva. Não está
acostumada a ficar tanto tempo longe dos pais, já que agora que ambos estão
estudando e os shows haviam começado, passa poucas horas por dia com eles. Ela
chorava todas as vezes que chegava lá acordada e se chegava dormindo, sempre
acordava depois aos prantos.
Roberta
tenta se despedir, mas a garotinha, mesmo segura no colo de Dani, estica os
bracinhos em sua direção enquanto as lágrimas descem pelas bochechas. Ela se
avermelha e começa a soluçar em um choro compulsivo.
-Ela vai se
acostumar logo. –Dani tenta convencer o casal que não consegue ir embora. –Vão logo!
Vai ser pior se ela continuar vendo vocês!
-Vem
Roberta. –Alice a chama. –Vocês tem que trabalhar, um dia ela vai entender.
-Vocês não
podem deixar os fãs esperando. –Pedro também interfere.
Quando Dani
sai com o bebê e os amigos os empurram porta a fora, pedaços deles vão ficando
pelo caminho, como vidros cortantes e desalinhados.
***
Já estava
tudo lotado, as pessoas que trabalhavam por trás do espetáculo rodavam de um
lado e outro para que até os mínimos detalhes saíssem impecáveis. Rapazes e
moças, adultos e idosos, cada um cuidava dos últimos retoques em volta dos seis.
Diego e
Pedro estão conversando atrás do palco quando Alice chega pisando firme, como
se quisesse causar um terremoto (e talvez até esteja vindo causar um).
-Que foi? –O
namorado é o primeiro a se assustar, mas ela se vira para Diego e põe as mãos
na cintura.
-Ou você dá
um jeito nela ou eu não me responsabilizo pelos meus atos!
-O que?
-Ela quer
acabar com o show!
-Como assim?
Quem quer acabar com o show? –Diego fica tonto.
-A Roberta,
ora quem! –Alice está irritadíssima. –Quem mais é a louca por aqui?
-Depende do
ponto de vista. –Ele devolve o golpe.
-Como é?
-Nada. Me
fala o que tá acontecendo.
-Vai e veja
com seus olhos! –Ela estica o braço na direção do camarim.
Diego
respira fundo e segue com os amigos vindo logo em sua cola. Ao entrar, encontra
Tomás e Carla quase tendo um surto psicótico com Roberta.
-Como um
chocolatinho! Dizem que acalma TPM!
-E quem
disse que eu estou de TPM? –Roberta avança em Tomás que se encolhe na parede.
-É o que tá
parecendo... -Carla olha de canto, com os braços cruzados. –E TPM das bravas.
Roberta também
cruza os braços emburrada.
-Eu não to
de TPM!
-Ela tá
dando pití, olha aí.
-Fica quieta
Polly Pocket! Achei que você tivesse ido espairecer para evitar as rugas de
estresse...
-Escuta
aqui...
-Deixa.
–Diego impede Alice e se volta para a namorada. –Roberta, o que tá havendo com você?
-Não há nada
comigo! –Ela se defende, exaltada. –O problema é que todo mundo tirou a noite
pra me perturbar!
-Minha
filha, eu te perguntei as horas e você quase me arrancou os olhos!
-Você tá de
relógio, Tomás!
-Eu esqueci
ué! –Ele coça a nuca.
-Você me
pergunta as horas de relógio, Carla fica mastigando folha de alface o tempo
todo e a Alice não para de falar das unhas! O que vocês queriam?
-Gente...
–Diego se vira para os amigos. –Vocês podem me dar licença um minuto?
-Mas e o
show?
-Tudo bem,
Alice, vai ser rápido.
Os amigos saem
em fileira e o casal fica sozinho no camarim. Roberta está de braços cruzados
com um bico enorme e bufando.
-Que foi?
–Pergunta se irritando com o olhar dele. –Vai me dar sermão porque briguei na
hora do show? Vai me chamar de mal educada? De infantil?... Porque se for...
Ele dá um
passo a frente e a abraça, segurando sua cabeça contra o peito e quebrando todas
as suas defesas. Roberta não consegue dizer nada enquanto ele a aperta forte.
Seus braços estão presos e seus olhos arregalados. O coração dele bate suave
sob a camisa que cheira ao perfume que lhe deu em seu aniversário. Ele balança levemente
de um lado e outro por alguns instantes, num silêncio profundo e estranho. O que
ele está fazendo ela sabe, só não esperava que o fizesse. Ao soltá-la devagar,
o corpo de cada um vai se ajustando novamente ao ar, à luz ambiente e à
situação em que se encontram. Roberta o olha curiosa e sem reação, até que ele segura
seu rosto com as mãos e carinhosamente lhe dá um beijo sobre a testa e outro
sobre os lábios, terno e gentil.
-Vamos arrasar
nesse show e voltar pra pegar o nosso bebê, ok?...
Ela sorri e o
abraça de volta, fechando os olhos e desta vez sem estranhamento. Como era
possível que Diego tivesse tanto acesso ao seu interior e pudesse decifrá-la
tão bem? Como se não importasse nada que fizesse, ele a via através de qualquer
escudo de proteção. Que invasão! –Pensava ela enquanto o abraçava. –Mas que
maravilhosa invasão...
***
E quando,
muito tarde, voltaram do show para busca-la na casa de Eva, Nina já estava
dormindo. Parecia injusto que nem ao menos ela os visse chegar e só acordasse
no dia seguinte, já no próprio quarto. O que pensaria? Que ninguém se
importava, de certo. E isso não parecia muito bom.
Quando
chegaram ao portão de casa, outra vez havia um carro preto estacionado em
frente. Não haviam desconfiado dele ainda, pois não eram muitas as vezes em que
parava ali. Nesses três meses era talvez a nona ou décima “visita” que os
fazia. Sempre de vidros fechados para esconder sua melancolia e curiosidade.
Esforçava-se principalmente para ver a menina e sorriu tristemente ao conseguir
fitar um gorrinho sobre os ombros de Diego naquela noite.
Quando já
estavam novamente os três em casa, o casal, completamente exausto, se atirou na
cama após um delicioso banho. A noite estava fria e em volta, o cheiro de
grama, flores e madeira era um calmante dos nervos muito potente.
Ao caminhar
pelo corredor do andar de cima um pouco antes, Roberta se lembrava do apartamento
onde morou, aquele lugar tão sombrio que ainda deseja passar longe. Depois foi
se lembrando do Elite Way e dos outros lugares que foram seu lar, como a casa
onde morou com a mãe a maior parte da vida e a casa de Franco, onde também passou
algum tempo. Já havia estado em muitos lugares, alguns muito luxuosos e
agradáveis, mas nenhum lhe dava o conforto que sentia ali. Nenhum lugar foi
capaz de adornar seu peito com tantas formas anestesiantes quanto o que tem agora.
Parece um outro universo. Atravessa a porta de casa e está em paz outra vez. Não importa o
quanto o mundo esteja movimentado, lá dentro todo o mal cessa. Talvez fosse mesmo onde sua vida devesse estacionar.
Houve uma
hora ou duas de rolar de um lado e outro até Roberta finalmente o cutucar.
-Diego... Diego...
Tá dormindo?
-Hm?
-Diego!
-Oi... –A
voz sai rouca.
-Tá
acordado?
-Agora to,
né... –Se vira apresentando uma cara amassada no travesseiro. -O que foi?
-Eu vou
deixar o trabalho na gravadora.
-Como? –Ele finalmente
abre os olhos.
Até que enfim consegui ser a primeira a comentar! A cada minuto atualizava e vou logo postar este coment antes que alguém comente antes de mim
ResponderExcluirAmei o capítulo, vai postar amanhã ou depois de amanhã?
ResponderExcluirAmei e já quero mais.. Tá muito bom!
ResponderExcluirContinua arrasando Aline! Eles não vão ficar tão longe da bebê que nem foi com eles na infância né?! Devia ter uma cena só dos três juntos! Ia ser tão fofo!!! :*
ResponderExcluirRaiane
Adorei quero maaais
ResponderExcluir+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
ResponderExcluirsempre lendo e amando
ResponderExcluircara a Roberta ta louca?? Como assim ela vai larga o trabalho?
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