Como disse a
médica, Roberta realmente dormiu por muitas horas e quando o dia já estava
claro e bonito, Diego penava para explicar à família e aos amigos o que estava
acontecendo. Ainda não havia chegado à parte difícil, mas com toda a pressão,
logo chegaria.
-Já
entendemos a parte dos irmãos malucos! –Franco está irritado. –Só queremos
saber o que a Roberta tem? Porque está internada ainda?
-Eles a
machucaram? –Eva põe a mão no peito.
-Não, o Caio
nunca faria isso!
-Ah, não
Alice? –Pedro fica com ciúme.
-Bom...
–Diego fica perdido naquela confusão. –Eu não sei como vocês vão reagir a isso,
mas vão saber de um jeito ou de outro então...
Ele apanha
forças e diz...
“Grávida?”
–A palavra soou em coro. Primeiro Franco levou a mão à cabeça, Alice e Pedro
ficaram boquiabertos e Eva... Bom, Eva ficou alguns segundos de olhos
arregalados depois eles se reviraram e ela desmaiou. Acordou em seguida e
voltou a perder a consciência ao ouvir pela segunda vez “a tal palavra”, que
não foi repetida para não haver um terceiro desmaio.
-Agora não é
brincadeira? –Alice olhou para Diego pasma e este só fez um sinal negativo com
a cabeça, muito sério.
-Eva, acorde!
–Franco começou a abaná-la no chão enquanto Pedro e Alice se ajoelharam ao lado
dela para tentar ajudar a levantá-la. –Vocês são uns irresponsáveis! –O marido
da cantora olhou para Diego, furioso. –Eu vou ligar para o seu pai agora mesmo!
Diego não
entendeu muito bem o que aquilo adiantaria, mas resolveu não dar explicações
adicionais. Os quatro estavam muito agitados e tudo que ele poderia fazer era
voltar para ao lado de Roberta. Não queria que ela estivesse só quando
acordasse. O que não aconteceu por algum tempo.
Mesmo assim,
Eva, Franco e os amigos entram para vê-la. Diego fica no canto, calado,
enquanto a mãe de sua namorada choraminga sobre ela.
-Diego, como
isso foi acontecer, cara? –Pedro cochicha com o amigo. –Não se cuidam, não?
-É uma longa
história.
-Nossa, mas
como vai ser a banda, a faculdade?
-O maior
problema agora não é esse, Alice.
O rapaz sabe
que os problemas existem, mas não são eles que importam no momento. O futuro
com uma criança seria difícil, mas nem sabiam se teria uma criança nesse futuro.
Quando
Leonardo chega, acompanhado da esposa e munido de um rosto extremamente rude,
vai direito procurando por Diego. Nisso, todos, exceto Pedro e Alice, que ficam
com Roberta no quarto, vão para o refeitório para conversar... Ou quase isso.
Franco e
Leonardo estão agitados e é quase possível de se ver o fogo saindo dos olhos
deles. Eva e Sílvia apenas balançam a cabeça, como se dissessem “meu Deus, o
que esses meninos fizeram?”... No fim, a angústia de Diego ficava cada vez
maior com tudo aquilo.
-Vocês vão
me deixar falar? –As palavras rolavam como um tsunami contra ele.
-Você acha
que ainda tem algum direito? –Leonardo se agita. –De todos os problemas que me
trouxe, esse é o pior deles!
-Como é?
-Vocês nem
sabem cuidar de si mesmos! –Franco apoia. –Não tem estrutura, foram
irresponsáveis! Eu disse que não deveriam morar juntos, eu já imaginava isso!
Eu disse, eu disse! –Vai rodando de um canto a outro.
-Vocês nem
terminaram a faculdade... –Eva se lamenta.
-O Diego nem
trabalho direito tem! –Leonardo o olha como uma fera. –Não está estudando, não
tem casa pra morar. É um inconsequente! Você e aquela sua namoradinha são uns
inconsequentes que não pensam em ninguém!
-Olha como
fala da minha filha!
-Nós vamos
ter que bancar tudo, não percebe Eva?! –Franco continua. –Por que óbvio que esses
dois nem sabem os gastos que uma criança tem! Já imaginavam que a gente tomaria
conta deles e de mais um!
-Roberta e
eu nunca te pedimos nada!
-Olha o
respeito, rapaz! –Franco se zanga com Diego, que já está ficando no limite.
–Vocês tinham que ter pensado antes de destruir o futuro de vocês!
-Bom, mas
eles ainda podem...
-Podem o
que, Eva? –O marido está enlouquecendo. –Acabou vida, acabou tudo!
-Nem ao
menos é um adulto e se acha homem o suficiente para ser pai! –Leonardo não
diminui o tom. –Você não sabe o que é ser pai!
-Você também
não sabe! –Diego finalmente não suporta mais e se levanta enfrentando-o.
-O que
disse? –Leonardo também se põe a altura. –Ainda acha que pode me encarar?
-Talvez eu não
seja um homem perfeito como o senhor, mas eu não dependo mais do seu dinheiro! –Ele
põe a cara à tapa, em um misto de orgulho e tristeza. –Talvez eu nunca venha a
ver o rosto dessa criança com a qual vocês estão tão incomodados e não precisem
se “sacrificar” por ela!
-Como? –Eva
se levanta preocupada. –Ela corre riscos?
-Corre.
–Diego a fita com firmeza. –De acordo com a médica as chances de sobreviver são
quase zero...
Os pais se
olham.
-Vocês
pensam em tudo, não é? –Diego mira um por um. –Mas não pensaram que é uma vida
que tem ali.
-Não é isso.
–Franco tenta amenizar as coisas, já com a voz mais mansa. –Só queremos achar
uma solução.
-Ah é? Pois juntem
todo o dinheiro de todos vocês e tentem mudar o que aconteceu ou que vai
acontecer. Façam o tempo voltar pra essa criança nunca existir ou façam com que
no futuro ela não morra...
Todos ficam
calados vendo-o partir a passos seguros. Suas experiências de vida eram das
mais pesadas e notava-se que elas estavam sempre lhe tornando um homem de
ideias firmes, caráter e orgulho. Com esta última, deixara definitivamente de
ser um garoto.
***
Ao chegar ao
quarto, Roberta já está acordada, conversando com Alice e Pedro. Suas caras
denunciavam que agora já estavam sabendo da história completa.
-Oi meu
amor, que bom que acordou... –Diego vai até ela e lhe dá um beijo. -Tudo bem?
Como está se sentindo?
-Bem melhor.
–Ela sorri tentando parecer melhor do que realmente poderia estar. -E como foi
com os generais?
-Você deve
imaginar que eles não ficaram muito felizes com a notícia.
-Deve ter
sido uma barra. –Roberta reconhece. –Seu pai foi muito duro com você?
-Digamos que
ele não foi muito compreensivo. E o franco também não ficou por trás.
-Ah, o meu
pai era de se esperar... –Alice revira os olhos. –E a Eva?
-Ela
desmaiou umas duas vezes... Está em estado de choque. Nem consegui dizer como
tudo aconteceu.
Os quatro
continuam conversando e em poucos minutos Alice já está falando em fazer
compras para o sobrinho, que ela já dizia ser sobrinha e a qual encheria de
lacinhos.
-Você tá
louca se acha que eu vou deixar! –Roberta fez cara feia, mas no fundo estava se
divertindo.
Pedro também
brinca dizendo que ensinaria “o guri” a andar de skate e que ele já estava
eleito o mascote da banda.
O casal já
estava esquecendo os problemas quando houve uma interrupção da agradável
conversa. Alguns policiais adentraram o hospital à procura de Diego e
juntamente com os pais resolveram colocar em pratos limpos toda a história.
-O rapaz
confessou ter trocado os remédios da garota por medicamentos de uso controlado
que pertenciam a ele?
-Sim, ele
confessou. –Diego explica ao policial. -Era uma vingança.
-Os motivos?
-Bullying...
–Diego abaixa a cabeça. –Eu não imaginava que uma brincadeira de criança
pudesse ter feito tão mal a ele...
O relato de
Diego continuou e os pais, que estava presente, ajudaram a descrever lugares e
coisas da infância que pudessem ajudar. Eva e Franco tinham contatos e
tentariam localizar os pais de Caio. Ficaram no mínimo tocados e com remorso
pelas palavras duras ditas antes. Leonardo estava perdido e mesmo que não
quisesse confessar, alguns ao redor notaram que seu rosto mudou de figura
conforme a história se desenrolava.
-Filho,
porque não me disse que não foram culpados...? –Ele segura Diego, quando este
estava indo para o corredor, após o interrogatório. –Porque não me disse que
tudo foi um grande acidente...?
-Isso não
importava. –O filho continua seco. –Eu tinha que entender de uma vez por todas
que você nunca estaria do meu lado. Que tirando o seu dinheiro, o senhor não
tem mais nada a me oferecer.
-Não...
-Com
licença.
Depois de
desviar do pai, Diego tenta retornar ao quarto, mas é barrado por Alice e Pedro
alguns metros à frente.
-A médica
disse que não era pra ninguém entrar. Ela iria examinar a Roberta. –Alice se
aflige apertando os anéis nos dedos.
-Faz muito
tempo?
-Uns dez
minutos. –Pedro olha no relógio. –Vem cara, vamos esperar ali. –E apontou para
o sofá. -Não adianta ficar aqui de pé olhando para o corredor.
Mesmo
arrastado pelo amigo, Diego passa o tempo todo olhando para a maçaneta prateada
da porta que tinha distante dele. Quando ela se mexesse um milímetro que fosse,
ele se levantaria como um foguete.