Cap 42 (faculdade) Com toda a força dos seus corações?

 As coisas mais bonitas são aquelas que não se emolduram, são aquelas que não se engarrafam. As coisas mais bonitas a gente não tem como mostrar pros vizinhos ou explicar ao mundo. As coisas mais bonitas simplesmente são só nossas e ninguém mais tem capacidade de entender.

 Talvez tenha sido o banho mais rápido da vida deles e sabem bem da bronca que vão levar por chegarem atrasados, mas valeu a pena.

-Diego me ajuda! –Roberta vira de costas para ele que ajuda a fechar seu sutiã.

-Hm... Você tá muito cheirosa.

 Diego a abraça por trás e a namorada se esquece por um segundo das horas.

-Ai meu Deus! –E quando se lembra sai correndo pelo quarto abrindo as gavetas do guarda-roupas enquanto que ele está calmo.

-Já tá pronto?

-Não. –Diego vem até ela com uma blusa em mãos. –Esta que você quer?

-Como sabia?

-Digamos que eu sei das coisas.

-Hm... –Roberta desdenha brincando. –Se arruma vai!

-Eu só vou calçar o tênis, você que ainda não se aprontou...

-Por sua culpa... –Ela veste um shorts e prende o cabelo enquanto Diego arma o bote.

-Ah, é?

-Não! –Ela desvia dele. –Deixa eu me arrumar!

-Ah, não deixo não...

-Diegoooo!! –Ele a pega e ambos caem na cama rindo. –A gente tá em cima da hora, você não vê que...? –Ela faz uma pausa reflexiva.

-E?

-Quer saber? Dane-se. –E o beija.

 Ainda estava com a sensação das mãos dele no corpo, ainda o gosto dele na boca e se o dever não estivesse gritando os dois, eles não pensariam duas vezes em ficar naquele quarto toda a manhã, entre beijos e carinhos, entre sorrisos e olhares bobos.

-Nossa, até que enfim! –Tomás é o primeiro a recebê-los no saguão do hotel.

-Tá todo mundo por aqui já?

-Agora que vocês chegaram falta Alice e Pedro.

 Antes que Roberta e Diego digam alguma coisa o casal que faltava chega. Todos estão atrasados e precisam arrumar muitas coisas ainda, além de ter de ouvir as reclamações de atraso dos ajudantes mandados por Eva que não deixa de acha-los “estrelinhas”.

 Corre, corre de almoço, montagem, passagem de som, ensaio, figurino, maquiagem... Eles passam todo o tempo na correria para se apresentar, mas quando chega a noite em vez de estarem exaustos estão com um pique para escalar o Everest.

 Roberta se senta no sofá do camarim sozinha, já que havia se arrumado primeiro. Pega o celular e vai para as redes sociais enquanto não tem nada que fazer.

-Oi... –Diego entreabre a porta e não entra, esperando ser chamado.

-Vem, as meninas não estão.

-Que bom. –O namorado vem até ela e se senta junto enchendo seu rosto de beijos.

-Nossa, que namorado mais dengoso...

-Isso foi uma reclamação?

-Nunca, pode continuar... –Ela sorri enquanto Diego segura sua mão e dá um último beijo.

-Você tá linda, vai arrasar no palco hoje.

-Nós todos vamos.

-Mas você é diferente, eu não vejo mais nada quando estamos juntos no palco. Fico até tonto de olhar nos seus olhos, vou pra um lugar que... Sei lá, um lugar perfeito... De paz... Só você me dá isso.

 E a porta se abre.

-Mas onde tá? Que tá fazendo aqui? –Alice se assusta e os interrompe.

-Nada.

-Eu to atrasada, dá o fora!

-Ei! –Roberta toma as dores. –Não fala assim com ele.

-Eu tenho que achar minha pulseira e trocar de roupa, não vou fazer isso com ele aqui né?

-Já to saindo!

 E a porta outra vez se abre, desta vez é Pedro.

-A... A...

-Que foi? –Alice se espanta com o jeito dele.

-A Carla, ela não tá bem!

 E ouvindo isso todos os amigos saem correndo, mas nem a encontram mais. Não há muito o que fazer a não ser esperar que Franco e Eva liguem do hospital para onde haviam levado Carla e digam como ela está.

-E o show? Vocês não podem largar o público que já pagou a entrada aqui! –O empresário está irritado.

-Será que você não tá vendo que uma pessoa está faltando aqui? –Roberta se irrita.

-Não tá vendo que não temos condições de cantar sozinhos? –Alice também se irrita. –A nossa amiga tá mal no hospital!

-Muitos artistas passam por isso, ou vocês fazem o show ou nunca mais vão cantar na vida!

 O homem carrancudo os deixa atrás do palco sem saber o que fazer. Tomás já havia ido até o hospital sem pensar duas vezes e dos seis integrantes da banda só sobram quatro.

 Pedro ampara Alice que chora sem parar e Diego abraça Roberta que está aflita mesmo tentando não aparentar.

-Vamos fazer esse show por ela. –Diego toma a iniciativa.

-Só nós?

-É Pedro. Vamos juntar toda a energia positiva das pessoas aí fora e cada música vai ser pra ela. Não temos como ajudar a Carla lá, mas a música...

-É mágica... –Roberta completa. –Se ela pode nos dar sensações é mágica.

-Aqui tem muita gente... E só nós quatro? –Alice tem medo e todos a olham sem dizer nada. –Tá... A gente vai.

-Eles vão entender...

 E ao dizer isso Roberta dá a mão a Diego e os casais entram juntos formando uma corrente. Os gritos da plateia diminuem conforme a música não segue e eles anunciam que faltarão dois integrantes da banda no show e que Carla Ferrer está internada em estado grave sem previsão de alta, o que faz todos entrarem em desespero.

-Vocês topam fazer esse show pra ela? –Roberta grita. –Com toda a força dos seus corações?

-“Sim” –E a plateia responde em coro.

-Vamos cantar rebeldiaa!!

 Eles começam, fazem de tudo para manter o sorriso no rosto e as lágrimas no bolso. Tudo que pode e fazem é como se fosse a última vez.

 Os fãs aplaudem, gritam e cantam juntos, sabendo que o coração que pode parar a qualquer instante talvez aguente por eles. Tudo é válido pela vida e a fé é o que a mantém sempre e em qualquer situação.

 O show termina e eles correm para o hospital onde as notícias não são animadoras. O médico explica o procedimento e quanto tempo a amiga deverá permanecer internada e com tubos no abdome para alimentá-la, já que de tanto causar vômito, seu aparelho digestivo está frágil e comprometido.

-Mas ela vai ficar bem? –Alice estala os dedos de aflição.

-Vamos fazer de tudo para que fique.

 O médico explica detalhadamente a todos. O lugar está cheio, além dos amigos, chegam Beck e Vicente. Mas por Eva ter pago o melhor especialista que encontrou, o atendimento está sendo de primeira.

-Por favor. –Beck entra no meio. –Eu quero ver a minha irmã.

-No momento não será possível. –O médico é incisivo. -Já falei com o namorado dela e peço que você também espere, garanto que assim que ela puder receber visitas, vocês serão os primeiros a entrar.

 Os amigos insistem, esfolam o sofá da recepção de tão inquietos, levantando e sentando, andando de um lado e outro até que são convencidos por Franco e Eva a irem embora, deixando somente Beck, Vicente e Tomás, que estava desde que chegou firme ao título de namorado, mesmo não sendo mais.

 Diego deixa Roberta no apartamento de Alice e sai com Pedro para conversar com o empresário que mesmo sabendo da internação de Carla não havia mandado cancelar nenhum show.

-A gente podia ter ido também. –Roberta senta de braços cruzados no sofá da sala.

-Eles são homens, é mais fácil!

-Deixa de ser boba, eu saberia muito bem colocar aquele idiota no lugar dele. Por falar nisso me passa o telefone que eu vou ligar pra minha mãe pra falar sobre isso.

-Nossa, isso é que é preguiça de pegar o celular... Espera... –Alice constata que há uma mensagem na secretária ao pegar o telefone para Roberta. –Talvez seja do hospital.

“Oi gata, quero muito conversar com você, quando puder e quiser né (risos), dá uma passadinha aqui no meu apê, já viu que sou bom moço (mais risos). Beijo.”

-Ihhh... –Roberta revira os olhos para o lado.

-Ai, não...

-É melhor avisar logo ao Caio que você e o Pedro voltaram.

-E como eu faço isso? –Alice faz cara de choro.

-Vai lá e diz, ué!

-Você não pode fazer isso pra mim?

-Tá de sacanagem né? O que eu tenho com isso?

-Se fizer eu pago uma pizza pra você... –Alice apela ao suborno com um sorriso disfarçado.

-Agora! –Roberta salta do sofá. –Eu quero de quatro queijos! Pode ligando enquanto isso.

 Ela atravessa a porta e sobe alguns andares. Enquanto o elevador a leva, ela pensa em como poderia ter pedido mais e quão ridículo era fazer isso, mas também, o mico não é dela, mas de Alice que não tem maturidade o suficiente para encarar os problemas... Então, não se preocupa mais e quando chega, aperta a campainha tranquila e certa do que dirá.

-Caio! –Ela grita, já que não é atendida. –Caiôô!... Que estranho...

 Roberta gira a maçaneta e percebe que a porta não estava trancada, então entra. Está tudo quieto e o apartamento parece estar vazio.

-Oi...

 Um passo de cada vez e a pouca luz acesa indica que talvez o lugar esteja mesmo vazio. Mas porque estaria destrancado? Erro grave para se cometer principalmente levando em conta os ataques já sofridos no prédio.

 A menina começa a ficar impaciente com a falta de resposta e decide sair dali, só não consegue, já que ao se virar alguém está na porta com olhar estático e aterrorizante em sua direção.

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