Cap 40 (faculdade) - O laudo médico

  A entrada no consultório não diminui o estresse de Roberta e ao vê-la a médica deve ter sentido a energia vingativa vindo dos olhos da garota. De tanto ver alguns estudantes de medicina na faculdade andando empinando o nariz, ela já está sem paciência com médicos.

-Sentem-se. –A mulher revira as folhas enquanto anota.

-Mas ainda não acabou?

-Roberta! –Diego a corrige.

-Mocinha, o trabalho de um médico tem que ser bem feito pro bem dos pacientes.

-Ok... Foi mal... –Ela revira os olhos.

-Desculpa, mas estamos muito nervosos por causa desse laudo, depois de tudo que aconteceu nós...

-Eu já vou dar o laudo. –A médica é séria, se impondo atrás dos óculos e uma pose intelectual.

 Os dois ouvem atentos às explicações dela, mas devido a dificuldade de se compreender os nomes das substâncias encontradas no sangue de Roberta, eles pedem uma nova explicação, mais leiga.

-... Então essas substâncias que eu falei são encontradas em remédios de controle para depressivos e epiléticos. Uma dose considerável foi encontrada no seu sangue, o suficiente para te fazer ter um problema mais grave.  Tem se sentido bem?

-Só no primeiro dia eu passei um pouco mal, fiquei tonta...

-É... E isso quase deixou a gente louco, achamos que ela estava grávida. –Diego diz com o alívio de algo já resolvido.

-E você está?

 Roberta se espanta com a pergunta da médica.

-Não... A enfermeira que me entregou disse que não dizia nada sobre gravidez aí.

-E não diz mesmo, porque isso não é um exame de gravidez.

 Roberta fica paralisada, assim como Diego. A incerteza volta, assim como todas as preocupações.

-Ma... Mas eu não tô grávida, isso foi só uma bobagem.

-Vocês se previnem?

-Sempre.

-De qualquer maneira eu vou te passar um beta-HCG para termos certeza. Acredito que a enfermeira que olhou o seu exame nem sabia o que estava lendo, esse não é um exame simples, é muito complexo.

-Eu posso ter engravidado tomando anticoncepcional?

-Não. Mas se esqueceu um dia sim...

-E camisinha? –Diego fica curioso.

-Não há 100% de proteção com nenhum método, mas as chances de se engravidar com a camisinha são praticamente zero. Vocês usam sempre?

-Sempre não... –Eles se olham, culpados.

-Mas o remédio sim, eu sempre tomo.

-Aí é com você. –Diego “lava as mãos” e Roberta se irrita.

-Como assim é comigo?

-Ué, essa responsabilidade é sua...

-Um filho é responsabilidade dos dois! -A médica interfere quando os ânimos pareciam querer se alterar. E começa a passar um longo sermão, já que em seus 40 anos de idade se sentia no direito de dizer algumas verdades aos jovens que iam ao seu consultório.

 Os dois saem de lá calados e engolindo seco.

-Mais 3 dias de agonia... –Ela faz uma cara de choro com um bico infantil enorme e Diego acaba rindo. –Tá rindo de que?... Eu to preocupada.

-Eu sei, vem cá... –Ele a chama para um abraço e Roberta se aconchega. –Não se esqueça de que não importa o que aconteça, eu estarei sempre com você. Já te disse isso.

 A calma de Diego naquela situação a alivia.

-Eu sei... Você se tornou a minha vida...

-Awn... –Ele segura o rosto dela e lhe dá um beijo. –Olha, eu sei que pra você isso é horrível, mas...

-Não é não. –Roberta o interrompe.

-Como?

-Eu não quero ficar dizendo que isso é horrível... Não vou pensar nada de ruim dessa possibilidade...

-Tá com medo de deixar uma má impressão pra ele?... Ou pra ela? –Ele faz um jeito risonho e ela se aflinge.

-Para Diego! Não tem bebê aqui! –Ela põe a mão na barriga e olha para Diego. –Tem?

-Calma. –Diego ri.

-Ai meu Deus...

 Ele a abraça novamente, a preocupação de Roberta é imensa e abraça-la é como segurar o mundo.

-Eu também acho que você não tá grávida, a gente já brigou por isso e não quero que aconteça de novo, então não vamos pensar nisso.

-Parar de pensar nisso? Tem como?

-Tem. Um dia de cada vez, lembra? –Diego segura as mãos dela e é firme.

-Ok... Eu vou tentar...

-Me dá um beijo?

 Roberta sorri sem graça e atende o pedido dele. A secretária fica sorrindo a olhar os dois que ao perceberem sorriem de volta e se despedem.

 Ver o amor seja em que parte for é de encantar qualquer um, visto que os sentimentos estão tão descartáveis quanto o caráter...

  Diego vai com Roberta até a gravadora, mas quando vão se despedir, ela ainda parece aérea.

-Tudo bem. –Ele segura a mão dela ainda na entrada.

-Tudo.

-Não parece.

-A gente precisa ir à polícia, a banda tá afundando, aqueles soldadinhos ainda me assombram e agora gravidez?

-Eles vão pegar o bandido, a gente vai levantar a banda e se você estiver grávida a gente vai cuidar da criança.

-Você fala como se tudo fosse simples! –Ela fica agitada.

-Não, não é simples, mas vamos tentar ver as coisas como elas são. Devemos agir e não nos desesperar, ok? –Ele segura o rosto dela olhando em seus olhos. –Eu sei que você não se intimida com os problemas, que é forte.

-É, mas depois do que a médica disse, eu...

-Shiu... –Ele segura os lábios dela com o indicador. -Tudo vai terminar bem, eu te prometo.

-Awn... –Roberta dobra a cabeça, mas se desfaz do romantismo ao olhar no relógio. -Ai, meu Deus, eu tenho que entrar! –E vai se jogando nos braços dele rapidamente enchendo-o de beijos. -Brigada meu lindo, eu te amo!

 Diego também vai para o trabalho e ambos passam o dia com a cabeça longe.

 Naquela noite, depois de mais um ensaio, Caio marca um encontro com Alice em seu apartamento, aproveitando que Tomás dormiria na casa da mãe, já que ela já havia ligado milhões de vezes dizendo que havia sido abandonada pelo filho.

 Quando a patricinha chega, lá pras 11 da noite, se surpreende. O apartamento está todo decorado com pétalas de rosas de todas as cores e velas aromáticas.

-Nossa!

-Eu quero que seja muito especial... –Ele fecha a porta e dá um beijo na nuca dela, mas ao invés de deixa-la arrepiada ela fica tensa.

Eles começam a se beijar, mas a tensão não diminui.

-Tá nervosa?!

 Ela balança a cabeça afirmando.

-Um pouco.

-Quer deixar pra outro dia? –A pergunta é quase inacreditável, visto o trabalho que havia tido.

-Não! –Alice é firme e o puxa para um beijo de tirar o fôlego.

 Eles vão caminhando ate o colchão até se deitarem. Caio a beija, faz carinho, mas quando ele começa a levantar a blusa dela, percebe que Alice esta tensa e para.

-Alice, eu gosto muito de você, e não quero que se arrependa.

-Hã? -Ela o olha sem entender porque havia parado.

-Eu sinto que não esta inteira aqui nesse momento, não sei, e nem vou perguntar onde esta sua cabeça, mas não quero que dê esse passo sem ter certeza, sem estar inteira aqui, eu quero, e muito, diga-se de passagem, mas não vou ser egoísta...

- Caio...

-Não... -Ele volta a acariciar seu rosto e não a deixa falar.

-Sinto que posso me apaixonar por você. –O rapaz é sincero. –Não quero que isso aconteça se você não estiver segura sobre o que sente por mim. Posso ter esse jeito de quem não liga pra nada, mas tenho sentimentos, sabia?

-Eu nunca quis brincar com você, Caio!

-Eu sei, e por isso eu gosto tanto de você, mas não posso deixar isso ir a diante tendo duvidas quanto ao que você sente por mim, ou melhor, quanto ao que você sente por outra pessoa... –Ele olha para o canto. –Sinto, que por mais que você goste de mim e de ficar comigo, ainda tem sentimentos mal resolvidos.

Alice fica muda, não acredita no que ouve. Sentimentos mal resolvidos?! De onde ele tirou isso?!

-O Tomas andou falando besteira né?!

-Você acha que precisou alguém me falar o que tá estampado nos seus olhos?

-Caio eu... Eu gosto muito de você, não tem cabimento o que você esta dizendo, o passado está no passado.

-Então é pior do que pensei! –Ele levanta de supetão, suspira enquanto acende a luz.

Alice fica perdida quando ele quebra completamente o clima e começa a abotoar a camisa.

-Alice você é uma garota incrível, mas se não admite seus sentimentos nem pra você mesma vai acabar como uma mulher frustrada.

-Caio! -Ela fica ofendida com a forma como ele é direto.

-Digo isso como amigo e por experiência própria. Depois, se o seu coração ficar realmente livre, você pode vir, usar e abusar de mim... –Ele faz piada para amolecer a cara de frustração dela e consegue.

Eles riem e continuam conversando. Depois de um bom papo ela vai embora feliz, mas pensativa, e ao invés de ir para seu apartamento ela pega o carro e vai dirige pela orla, remoendo cada palavra de Caio.

Já é quase uma da manha quando a campainha toca na casa de Pedro, ele atende a porta com cara de sono.

-Alice?!

-Olha nos meus olhos e diz que não sente mais nada por mim! –Ela chora.

-Hã? O que você tem?

-Diz que eu fui burra em acreditar que você me amava, que tudo não passou de um amor adolescente idiota!

-O que você quer? Não devia estar com o Caio?! –Ele é irônico, apesar de estar mexido com a visita.

-Devia mesmo! –Ela grita tentando não chorar. –Mas estou aqui, porque pra mim foi real, tão real que não consigo te esquecer, não consigo ir adiante, então quero que diga, o quanto me despreza, o quanto eu fui burra, para ver se minha ficha cai!!

E tendo os tapas dela em seu peito e as lágrimas molhando seus braços, ele não pensa duas vezes e a puxa e começa a beijá-la, a abraçá-la apertado em meio aos soluços, com uma vontade imensa de protegê-la e fazer toda a dor dela sumir.

<< Cap 39 (faculdade)     continua...