Cap 37 (faculdade) -Positivo ou negativo?

-Diego, eu não quero ter um filho agora! Será que você não entende isso?!?! –Roberta grita e se desespera, parando na frente dele levando as mãos ao rosto escondendo o choro.

-Ei... –O namorado se comove e muda rapidamente de atitude. –Desculpa...

 Ele chega perto dela e a abraça bem junto, segurando sua cabeça, enquanto sente as lágrimas dela, quentes, ultrapassarem sua camisa até tocar em seu ombro.

-Me desculpa também. –Ela soluça. -Não há culpados aqui.

-Se tiver, são dois.

 Roberta solta um riso rápido ainda chorando.

-Tudo vai dar certo, você vai ver. Eu vou estar sempre do seu lado, tá?

-Tá...

 Alguns minutos ali, agarrados no sal do mar e das lágrimas, eles passam a sentir o tremor de ambas as pernas e braços, esse é o momento para se abraçar mais forte. Talvez as incertezas fossem realmente muito assustadoras, já que um futuro e uma juventude inteira estariam em risco.

 À manhã do novo dia, Roberta vai até a clínica buscar os exames. Talvez o sol quente e o céu limpo e azul sejam bom sinal.

 Diego está no trabalho no momento e mal consegue prestar atenção em nada à sua volta, olhando a cada segundo as horas no relógio de pulso.

 “Ela deve tá chegando lá agora.” –Ele fica realmente nervoso a esperar que o telefone toque.

 Roberta realmente está na clínica nesse momento, a esperar no balcão a garota da recepção lhe entregar o exame.

-Prontinho.

-Obrigada. –Ela pega o exame e abre com fúria, mas são tantas coisas que ela não consegue interpretar.

 Como não é um beta HCG, ou seja, um exame de gravidez, mas sim vários exames realizados para saber as substâncias que poderiam ter sido injetadas nela, dentre outras coisas, fica confuso encontrar.

-Ei... –Roberta chama a menina da recepção. –Por favor, você é enfermeira?

-Sou sim.

-Pode ver se esse exame está acusando... Bom... –Ela hesita. –Positivo ou negativo para gravidez?

 A menina, parecendo bastante jovem para ser formada, pega o exame e folheia bastante antes de responder.

-Olha... –Ela coloca um dedo na bochecha escorando o queixo. –Não tá dizendo grávida não...

-Não? Tem certeza?

-É... Não tá não.

-Obrigada!

 Roberta abre um sorriso e sai já pegando o telefone para dar a notícia a Diego. Quando ele atende ela conta eufórica, com um alívio imenso.

-Me ouviu?

-Ouvi, ouvi... Que bom...

-Então eu já vou pra faculdade, tá? Acho que vou conseguir estudar com muito mais calma. Beijo.

-Beijo.

 Diego desliga o celular e caminha pela beira da piscina, observando as crianças que nadam na parte rasa.

-Que cara é essa, Diego?

-A Roberta me ligou. –Ele olha para o colega de trabalho Josias, quase que desapontado.

-Foi positivo?

-Negativo.

-Ué? Você queria um filho?

-Sabe que eu tava quase me acostumando com a ideia? Apesar do medo... –Ele ressalta. –Mas até que tem um lado bom, agora pelo menos eu vou poder reaver meus dois desejos sem receio...

-Hã? Que desejos?

 O colega de Diego fica coçando a cabeça ao vê-lo sair já feliz da vida, com um jeito malicioso de desfilar, como se estivesse com um plano em mente.

-Fazer o que? –Roberta leva um susto e grita com Diego no celular. –Você ficou doido?

-Ah, agora que a gente não tem mais com o que se preocupar eu quero fazer o meu segundo pedido. Lembra que eu tinha trocado o pedido lá na casa de praia? Eu quero aquele primeiro que eu te disse.

-Não, Diego não! Não vamos invadir aquele lugar!

-Ah, a gente já fez isso tantas vezes antes, vai? Você tá ficando medrosa, sabia?

-Medrosa? Eu?... –Ela se ofende. –Então tá. A gente vai então e eu vou acabar com você! Vai ficar sem andar! –E desliga na cara dele.

-Uooou!!! 

 Diego mira o telefone e começa a rir enquanto morde a boca desejando que ela cumprisse mesmo a promessa e nisso vai sonhando acordado com seu segundo desejo, que tem muito a ver com o primeiro, ao passo que é retornar ao passado e a riscos ao quais acreditava nunca mais correr.

  À noite desse dia está combinado um ensaio para o próximo show. Já é noite e as meninas se reúnem no apartamento com Roberta esperando que os meninos as chamem para o salão e nesse tempo começam a conversar sobre a decisão de Alice.

-Você ficou por lá uns 3 meses! –Carla lembra a amiga.

-Só fiquei todo esse tempo porque ele terminou comigo. –Alice joga toda a responsabilidade do fim do namoro em Pedro. –Não queria voltar e ficar sofrendo.

-Ok! Tudo não passou de um mal entendido, por que você não conversa com ele Alice?! Deixa de ser mimada e orgulhosa!

-Olha quem fala! Roberta, a senhorita esnobou o Diego até dizer chega, tá!

-Isso é passado! Depois que nos entendemos sempre cedemos um ao outro... Quer dizer, com uma certa resistência às vezes, é verdade... –Roberta dá uma risadinha relembrando.

 Diego bate na porta chamando as meninas para o ensaio.

Alice se recompõe e levanta o queixo.

-Chega desse assunto! A decisão é minha, certo?! Eu decido com quem vou perder minha virgindade.

Roberta levanta as mãos em rendição e Carla balança a cabeça de um lado e outro como se dissesse: “Você vai se arrepender”.

-Olha, nós tentamos, não vem dizer depois que não avisamos você.

-Tudo bem, eu estou certa de que o Caio é a melhor escolha.

-Ok! Ensaio então!- Roberta levanta e vai em direção à porta.

 Todos os seis se reúnem no salão e depois de algum tempo ensaiando eles finalmente dão por encerrado.

 Tomas se oferece para levar Carla à Vila Lene, o que espanta a todos.

-A gente tem que conversar. –Ele a olha sério, mas com um jeito terno, sem reprovações.

 Pedro sai antes de todos, não está muito a fim de falar e isso há muito tempo.

 Diego e Roberta se olham com um jeito tão cúmplice que até pareciam estar planejando roubar um banco. Se despedem dos amigos e descem sem dizer especificamente se estariam voltando para casa.

 Alice aproveita que fica por último para dar uma passada no “apê” de Caio que está sozinho. Ela chega lá e para um instante pensando, em seguida bate duas vezes, com um jeito ansioso.

 Quando ele abre a porta está com uma toalha enrolada na cintura e uma escova de dentes na mão.

-Oi gata! Achei que não te veria hoje, não teve ensaio?

-Teve, mas já acabou. –Ela vai entrando e anda até perto do sofá enquanto Caio fecha a porta. –Como o Tomás foi levar a Carla em casa, achei que poderíamos aproveitar um pouco...

Caio dá aquele sorriso imenso e puxa Alice para o beijo se encaminhando para o sofá.

 Algum tempo se passa, tempo suficiente para Tomás chegar e abrir a porta do apartamento de supetão, como era de costume. A cena que vê, no entanto, é constrangedora, não só pra ele como para o casal protagonista.

-Seu inconveniente, bem que o Diego disse! –Caio ainda faz piada mesmo sendo pego no maior amasso com Alice no sofá da sala. Ela somente de short e sutiã, ele já quase se desfazendo da toalha.

-Eu, é... Vou deixar vocês a sós pra... Eu nem quero imaginar... Eu não vi isso!

 Tomás fica atordoado e depois de se recuperar do choque consegue se locomover até o quarto. Alice rapidamente se levanta com o susto.

-Ei, não vai embora!

-Eu não posso ficar depois disso! –Ela veste a blusa e sai sem graça.

 Caio vai atrás dela.

 Alice é rápida, mas ele ainda consegue apanhá-la no elevador e a segura.

-Calma gata! Essas coisas acontecem...

-Não comigo Caio! Eu, eu... –Alice não encontra palavras.

-Tudo bem! –Ele dá um beijo carinhoso na testa de Alice. –Na próxima vou me certificar de que ele não vai voltar, ok?

-Caio eu sou virgem! –Alice fala de uma só vez, como se arrancasse um curativo, deixando Caio perdido.

-Vi... Virgem? Virgem de...?

-De signo que não é, né?! -Ela é um pouco ríspida e o diálogo fica complicado.

 Longe dali, Roberta e Diego já estão perto do muro e discutindo sem parar.

-Você já pensou se tiverem colocado mais segurança aí?

-O Jonas? –Diego ri. –Até parece que você não conhece aquele mão-de-vaca...

 Eles olham os símbolos do Elite Way e por um momento parecem sentir falta de tudo aquilo.

-Vamos pular logo...

 Diego vai na frente, está bem no horário que costumavam fugir do colégio, por volta das 11 da noite, então sabem bem as manhas para driblar a segurança.

-Vem... –Diego estica a mão para ajudar a namorada a subir e ambos rapidamente atravessam o jardim.

 Toda aquela imagem parece ainda a mesma coisa. Talvez estivesse carregada com uma face de “lar amargo lar”, mas era um exagero da mente dele, ainda sem saudade dos tempos do ensino médio.

-Vamos ao porão?

-Vamos!

 Roberta se anima e eles correm até a porta do lugar. Quando descem percebem que ainda parece intocado. As escadas marrons ainda rangem quando eles pisam, o sofá verde ainda é confortável e até parece ser a mesma poeira sobre as tralhas.

-Nossa, que loucura isso...

-Cara, que saudade... –Diego recolhe com os olhos cada pedacinho daquele porão. –Lembra da nossa última noite aqui? No dia do baile de formatura?

-Tem como esquecer? –Roberta segura as mãos dele e lhe dá um beijo. –Acho que nenhuma despedida seria tão perfeita como aquela.

-Hm... –Diego duvida. –Hoje a gente pode ganhar daquela noite.

-Pode?

-Na piscina... –Ele sussurra ao ouvido dela, lhe causando um arrepio.

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