Mesmo tendo tomado todas as
precauções possíveis, não é de se surpreender que Roberta e Diego ficassem
confusos, já que são muito jovens e inexperientes.
Eles não sabem bem o que
pensar, talvez até acreditem que haja possibilidades de engravidar mesmo tomando
remédio e usando camisinha.
Os dois conversam durante mais
alguns minutos e resolvem trocar de mesa. Vão para onde os amigos estão e
jantam com eles.
-Então, vocês já...?
-Não, Alice, eu não estou grávida...
A patricinha faz um ar sem
graça ao ouvir a frase estressada de Roberta.
-E vamos falar de outra coisa, porque se eu rir mais hoje não vou
conseguir comer minha sobremesa!
-Então vamos falar do show, ué. –Tomás puxa o assunto. –Precisamos
escolher as músicas e também o figurino.
-E temos que ensaiar. –Alice se lembra. –A gente se esqueceu de
passar duas músicas.
E com isso o que era para ser
um jantar informal acaba se tornando um jantar de trabalho, apesar de que eles
não sentem como tal e se divertem horrores com as palhaçadas de Tomás, as ironias
de Roberta e as frescuras de Alice.
Assim que está tudo decidido e
a sobremesa acaba, as meninas vão ao banheiro, juntas, como é o costume
feminino, deixando os garotos conversando na mesa.
-Então, ela não tá mesmo grávida?
-Ela disse que não está atrasada. –Diego responde a Tomás, meio em
dúvida.
-Mas a minha tia teve as... Bom, ela chamava de “regras”. Sempre me
disse que teve até os 9 meses, então estar ou não atrasada pode não querer
dizer muita coisa.
-Isso é possível?
-E como a Roberta tem certeza de que não esqueceu de tomar o remédio?
–Tomás faz uma cara de desconfiado. –Além do mais a ciência falha, quem diz que
remédios impedem a vida?
O tom do garoto parece mais um
discurso ideológico que uma conversa normal.
-Muitas mulheres tentam abortar e a criança sobrevive, outras tentam
de tudo para engravidar e não conseguem! Gravidez é sobrenatural, cara! –Caio
acrescenta.
Quando as meninas retornam
Diego está estático e parecendo pronto a ter um ataque de pânico.
-Que foi? –Roberta o chama.
-Não, nada. Quer ir embora?
-Sim... –Ela repara nele. –Você tá bem?
-To, eu vou, nós, vou chamar um táxi.
-Então, tá...
Assim que os amigos saem do
restaurante, cada um toma o seu rumo. Alguns voltariam para casa, outros tinham
planos diferentes, já o casal preocupado não sabia ainda o que fazer. Diego
conta tudo a Roberta, tudo que ouviu de Caio e Tomás no restaurante e também o
que haviam lhe dito no trabalho, tudo em um tom extremamente assustador
enquanto o táxi corta o asfalto rapidamente. Há um momento em que param de
falar, talvez espantados demais e fixos nos próprios pensamentos, até que
Roberta grita:
-Para aqui, por favor!
-Pra que? –Diego se espanta.
-Você vai ver!
Assim que o táxi encosta à
beira de uma praia, Roberta puxa o namorado pela areia até que solta sua mão e
grita.
-Vem!
-Doida!
-Que você ama, né?
-Mais que tudo... –Ele comtempla a imagem dela frente ao mar.
Se esquecendo dos medos ele
vai atrás dela que já está retirando o calçado. Quando termina, começa a correr
e chutar as ondas que vinham lhe banhar os pés. Depois mais devagar começa a
saborear a calma e o balançar das roupas dançando no vento.
Diego se senta na areia
desamarrando o tênis e a vê ficando mais longe. A cabeça dela se inclina para
trás como a receber a bênção da natureza através do vento e da água. A leveza
com que passeia dá a ele a impressão de que Roberta não faz parte do universo,
não parece se preocupar com nada, ao contrário, parece estar sempre procurando
fugir das preocupações como se estas fossem somente um mal desnecessário. Seria
melhor caminhar no perigo da noite à beira mar que esquentar os neurônios
pensando em soluções para situações das quais nem tem certeza de que podem vir
a passar.
“Não é que ela está certa, vou
virar um peixe.” –Diego tem um estranho pensamento e a se levanta com os
calçados em mãos.
Ele vem atrás dela e olha para
a mão solta ao lado do quadril indo para frente e para trás enquanto a garota chuta
a água salgada.
Diego laça um dedo no dela que
sorri ao vê-lo no instante em que finalmente fica ao seu lado, também pronto a
brincar no mar.
-Você não vai entrar, né?
-Não. Eu quero achar uma coisa.
-O que?
-Você vai entender quando eu encontrar.
-Ok... –Ele entrelaça todos os dedos nos dela e caminham por um tempo
ali sem dizer nenhuma palavra.
Em um momento, no entanto, ela
se vira ficando à frente dele. Seu olhar brilha com a luz da noite clara de
verão e os cabelos são jogados para frente com o vento, mas ela está fixa nele.
Sem dizer nada Roberta se aproxima da boca de Diego e lhe dá um beijo
inesperado, que é prontamente correspondido. Ele cola as mãos em sua cintura e
a trás para mais perto, beijando-a sem pressa por algum tempo, tendo os olhos
dos céus como testemunhas e o frescor da noite passando entre os lábios.
-Achei o que eu procurava... –Ela retira-se dele.
Um laço de paz dentro do
coração, um breve sentimento de total falta de responsabilidades, talvez seja
somente um sonho, mas pelo tempo que dure a gente acredita que vale a pena
procurar.
Os dias, incessantes dias de
atraso do conhecimento, provoca lesões graves no estômago com o suco gástrico
que rói junto com o medo, um órgão vital.
Eles chegam em casa bem tarde e
há uma carta debaixo da porta, com letras recortadas de jornal.
“O 10º soldado está pronto para a guerra e vai metralhar você.”
-Que isso?
-Nada. São contas. –Diego esconde o papel de Roberta, mas ela percebe
seu nervosismo.
-Me dá isso, eu quero ver.
-Melhor não.
Ela pega da mão dele sem pensar antes e quando lê se volta para ele.
-Você não ia me deixar ver isso?
-Podia te fazer mal.
-Ainda a história da gravidez?
-Roberta, calma, eu só quero prevenir. Eu ia mostrar isso à polícia,
depois eu te dizia!
-Eu estou cansada disso, que droga! –Ela vai dizendo e se jogando no
sofá esticando as pernas e cruzando os braços. –Esse cara tem que ser pego
logo... E esses exames tem que sair logo também...
-Não fica brava, vai?
-Não to...
-Não?
-Vem... –Ela estica os braços e o chama com as mãos.
Diego se senta atrás dela, se
escorando no braço do sofá, com Roberta se ajeitando em seu peito, um tanto
encolhida.
-Você já não está tão segura de que não está grávida, né?
-...
-Roberta...?
-... Eu não sei... Depois do que você me contou que os caras te
disseram to quase acreditando que existem espermatozóides superpoderosos!
Diego solta um riso.
-Deixa de ser boba! –E continua a rir quando começa a alisar o cabelo
dela, enrolando o dedo nos cachos que
descem pelo ombro.
-É sério... Eu não sei mais o que pensar. Tô...
-Assustada?
-... –Roberta olha para ele um tanto agoniada e volta a deitar em seu
peito. –Pode ser. É como se eu não tivesse controle sobre meu próprio corpo,
nem sobre o meu futuro! É como pegar uma gripe!
-Acho que é um pouco diferente... –Diego tenta brincar, mas ela está
tensa demais para isso.
-Eu acho que nunca me senti desse jeito.
-Nem eu.
-Seria um desastre.
-Uma irresponsabilidade.
-Uma inconsequência.
-...Mas seria lindo...
-Hm? –Roberta se ergue sentando no sofá a olhar para ele com o medo
ainda estampado no rosto. –Como “lindo”?
-Por pior que pareça, eu acho...
-Não é lindo, é horrível!
-Ei, também não é assim. Vamos ver o lado bom...
-Lado bom? Que lado bom? O lado em que eu vou perder a faculdade e
acabar com a banda?
-Roberta...
-Quer saber de uma coisa? Isso é tudo culpa sua!
-Minha? –Ele se assusta.
-É! Sua! –Roberta se levanta irritada. –Se eu estiver grávida a culpa
é sua!
-Eu não fiz nada sozinho não, tá! –Diego também se levanta e os dois
batem boca frente a frente.
-Mas você é que sempre esquece as camisinhas!
-E você é quem tomava os remédios! Aposto que esqueceu!
-Então quer dizer que só a mulher tem que resolver tudo e o homem fica
só com a parte boa? Você devia ter sido mais cuidadoso e agora vem com machismo!
Roberta avança pelo corredor e Diego a segue até que ela entra no quarto.
-Eu não sou machista! –Diz parado na porta.
-É sim!
-A mulher tem que ajudar o homem, nós não servimos pra essas coisas,
e...
-Você poderia ter tentado! –Ela pega um pijama do guarda-roupa e joga
com força na cama, como se estivesse se preparando para o banho.
-Eu tentaria se você tivesse me dito que não era capaz de cuidar do
próprio corpo!
-A culpa não foi minha! –Ela quase o atropela retornando ao corredor
até a cozinha. –Você é que não sabe esperar a hora certa! Não sabe que sexo tem
que ser em um local onde é possível se prevenir!
-Você esqueceu o anticoncepcional e a culpa é minha? Você quer me
culpar porque pode estar esperando um filho meu? Eu entendi direito?
posta mais por favor Aline
ResponderExcluirnão faz eles brigarem, seria lindo a gravidez e quando vai acabar essa dúvida??
Eu já postei o 37, a dúvida (talvez) tenha acabado...rs
ResponderExcluirCara eu ri muitoooooooo
ResponderExcluirEste capitulo esta espetacular de tão engraçado.
Darly