Cap 65- Pai e filho

 Leonardo não espera, não pergunta primeiro, não tenta a gentileza. Está certo do que fazer e escancara a porta do quarto de Diego com violência.

-Pai? –O rebelde levanta a cabeça assustado com a interrupção do sono.

-Posso saber o que está acontecendo?

-Eu... –Roberta tenta falar, mas ele não permite.

-Não estou falando com você e sim com meu filho!

-Não fala assim com ela! –Diego se irrita com a grosseria do pai.

-Você não tem jeito mesmo!

-E eu posso saber o que eu fiz dessa vez?

 Diego continua sentado com as pernas esticadas, ao seu lado Roberta firma a mão laçada a dele, fazendo com que ele soubesse que não estava só. E isso lhe dava forças, sentia que podia tudo com ela, até mesmo enfrentar o pai, que a vida toda tanto temeu e respeitou.

 Leonardo, por sua vez, não releva, não repara nos remédios na cômoda, nem no olhar avermelhado do filho, não tenta pensar no porquê de ele estar deitado àquela hora ou o porquê de qualquer coisa que fosse. Está como nunca, incomodado com tudo que Diego faz.

-Ah, você ainda me pergunta? –Com as mãos na cintura frente à cama ele o provoca. –Você traz a sua... Seja lá o que for, pra...

-Escuta aqui! –Roberta se levanta feito uma leoa. –Tá pensando o que? Nós somos namorados e eu amo o seu filho! Nós dois não fizemos nada, ok!

-Não fizeram nada... –O político vira o rosto como se a evitasse, como se não a suportasse. –Você tá levando o meu filho pra um caminho sem volta! Ele nunca foi tão rebelde até te conhecer! Ele não desobedecia tanto, nem era tão irresponsável!

-Nem tão feliz como sou agora! –Diego interrompe.

-O que tá acontecendo aqui? –Sílvia chega puxada pela discussão. –Eu acabei de chegar da casa da tia Ofélia com os bebês e vocês vão acordar eles com essa algazarra! Porque essa briga?

-Olha pra isso! –Leonardo estica o braço apontando a mão para Roberta e Diego que permanecem em silêncio e com olhares muito bravos.

-O que? –Sílvia dá de ombros.

-Você não tá vendo?!

-Claro que estou... –Ela é calma. –À minha frente estou vendo o seu filho doente em cima de uma cama sendo cuidado pela namorada que, aliás, está aqui o dia todo o fazendo tomar os remédios e trazendo um pouco de alegria. Já do meu lado estou vendo um pai que deveria falar baixo para respeitar um pouco mais a sua família.

 O homem não sabe o que responder, tudo que havia dito parece lhe voltar em duros golpes. Agora ele consegue ver o ambiente, consegue pensar sem pré-conceitos e sem maldade. Um ar de remorso começa a surgir.

-Mas doente? O que ele tem?

-Porque não pergunta pro seu filho o que ele tem? –Sílvia cruza os braços, repreensiva, mas não consegue continuar a fala, pois se assusta com a ansiedade na voz de Roberta.

-O que foi Diego? –Ela senta ao lado dele e esfrega suas costas. O namorado segura a nuca e se curva apoiando os cotovelos nas pernas.

-Minha cabeça tá doendo muito...

-Mas a dor não tinha passado? –Roberta firma os olhos nele.

-É... Mas voltou e tá tudo rodando...

-Eu vou te levar para o hospital! –Leonardo se apressa.

 Algo parecia estar errado, um simples resfriado estava causando mais estragos do que era esperado. O pai agora agia como se nunca nada tivesse acontecido, mas Diego tinha bem claro na mente, apesar de no momento não poder expressar, cada palavra que tinha escutado.

 De volta à casa de Franco, Alice entra desconsolada e encontra Eva que descia as escadas. Como sempre, a cantora serve a ela como a mãe que nunca havia tido. Não era preciso contar tudo, a cantora já estava sabendo de mais do que lhe contavam, coisa que Franco levaria décadas para suspeitar. Mas Eva era sagaz... Apesar de ter atitudes, muitas vezes imatura, ela não era, de fato, imatura, só gostava de parecer assim. Talvez se sentisse mais jovem assim ou simplesmente o seu lado artístico a fazia gostar de ser assim...

-Você vai ficar bem? –Após alguns minutos de conversa, Eva ainda não tem certeza de como a menina está.

-Vou sim. –Ela dá um sorriso amarelo. –Eu não tenho outra alternativa mesmo. Vou esperar ele voltar, afinal, pelo menos eu sei que ele está bem.

 Alice se levanta do sofá onde conversava com Eva e antes de subir tem uma última reflexão.

-Espero que o Pedro não tenha consciência de tudo isso, porque se ele foi embora consciente de tudo que a gente iria passar, eu nunca vou perdoar ele.

 Alice sobe para o quarto e Eva permanece na sala erguendo as sobrancelhas e respirando fundo. Deixe que os adolescentes se entendem sozinhos, aprendem com um dois tombos a se levantar assim como fazem as crianças quando estão aprendendo a andar nesse palco louco em que atuamos sem plateia.

-A dor de cabeça do seu filho já foi controlada, os pulmões e a garganta estão bons, realmente foi só um resfriado. –O médico dá o seu parecer para Sílvia e Leonardo, que aflitos esperavam impacientes sua saída do quarto onde havia examinado Diego.

-Então, nós podemos voltar para casa?

-Receio que daqui a algumas horas.

-Mas porque só daqui a algumas horas? O que tá havendo? –Leonardo se assusta e Sílvia tenta acalmá-lo.

-Calma Léo, não deve ser nada, não é doutor.

-Nós constatamos que a pressão arterial do rapaz está acima do normal para a idade dele.

-Mas o Diego é um garoto, hipertensão na idade dele é...

-Muito comum hoje em dia Sr.Maldonado. -O médico explica. -Os jovens tem se alimentado mal e estão a cada dia mais sedentários...

-Mas o meu filho adora esportes, se alimenta bem. -Leonardo vai se desesperando sem entender a causa do problema do filho.

-A hipertensão tem várias causas, não só essas.

-Quais doutor? –Sílvia toma a frente.

-Ah... Ansiedade, estresse, cansaço mental... Também há fatores hereditários e cardíacos que podem ser os causadores.

-Tá dizendo que meu filho pode ter algum problema... –Leonardo engasga. –... De coração?

-Não podemos descartar a probabilidade, mas como lhe disse, precisarei de mais exames para saber ao certo. Assim que terminar vocês poderão ir.

-E os exames?

-Alguns com dois ou três dias sai, já o último em mais ou menos um mês.

-Então eu só vou saber se meu filho tem algo grave em um mês?

 Leonardo se desespera, sente dentro de si correr uma ácida sensação de impossibilidade. Nada podia fazer, pois mesmo que tivesse todo o dinheiro do mundo, não tinha como evitar que o filho tivesse um problema assim.

 Roberta roda de um lado e outro na recepção do hospital. Morde o canto da unha e corre ao ver Sílvia chegar.

-E aí?

-Entra, ele vai fazer um último exame e vai pra casa.

 Sílvia acompanha Roberta pelo corredor até a porta do quarto. Ao entrar, a rebelde corre para ele e o abraça. A maca e o cenário hospitalar não é algo que seja muito confortante, mas eles se ajeitam no olhar, dão um sorriso em segredo no momento em que os rostos ficam mais próximos e os olhos fechados.

-Eu trouxe a Roberta pra te dar um beijo antes de ir embora.

-Você vai embora? –Diego olha para ela que mostra nem saber disso.

-Ela precisa descansar.

-Mas eu não to cansada! –Roberta senta na beira da cama e ambos olham para Sílvia.

-O Diego vai fazer o exame que falta e enquanto isso você vai pra casa. Depois volta à tarde e se quiser e sua mãe permitir, pode dormir lá... –Mas em quartos separados. –Ela já vai avisando.

-Ok. –A rebelde fica feliz. –Então eu já vou meu lindo.

 O beijo de despedida dura muito pouco, mas o suficiente para deixar Diego mais tranquilo. Sabia que ela voltaria, afinal, o que é verdadeiro sempre volta.

-E o pai do Diego, não vai se importar se eu voltar?

-E você se importa? –Diego não entende que Roberta se importe com a opinião do pai.

-Claro que não! Eu me importo com você! Não quero que aconteça tudo isso de novo... -Ela aponta para o fato de terem vindo parar no hospital.

-Eu já conversei com o Léo na cantina e não haverá mais cenas como a de hoje. Pai e filho em paz, pode ser Diego?

-Ué, por mim... Mas por ele eu duvido. –O garoto cruza os braços fechando o rosto.

-Diego... –Roberta põe as mãos em seu ombro. –Deixa disso, agora você precisa ficar bom, ok?

-Eu vou ficar... –Ele retribui o sorriso dela. –Vou ficar bom por você!

<<Cap 64    Cap 66>>