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Cap 66 (faculdade) - Cicatrizes do passado


  Ao apagar a luz do quarto da filha, Diego vai retirando a blusa molhada ainda no corredor, está com as costas geladas. Quando entra no banheiro, é coberto por um vapor quente e aconchegante. Percebe Roberta debaixo do chuveiro, passando a mãos pelo rosto e cabelos enquanto a água passeia por seu corpo como se fosse parte dele.
 Ainda está distante, pensando demais. Ela sabe... É inútil como uma luz que tenta brilhar perto do sol. Algumas insistências não fazem sentido, algumas pessoas simplesmente não sabem amar.


 Diego entra sem dizer nada e ela sorri de volta quando o vê se aproximar sereno. O jogo do silêncio está mesmo viciante. Eles sempre se dão melhor quando fazem mais do que falam, mesmo que agora precisem falar.
 Diego passa a mão pela lateral do rosto dela, sentindo encostar em seu umbigo. A mão desliza pelo pescoço dela durante o tempo em que os olhares se cruzam.

-Me diz o que tá acontecendo.
-Meu pai tá voltando. Minha mãe me disse que ele ligou.
-Sério? Mas por que agora?
-Porque descobriu que tive uma filha e que estamos morando juntos, além de agora também saber que eu faço faculdade de música em vez de direito ou medicina como ele queria. Vai me tirar tudo.
-Mas ele não pode fazer isso!
-Meu pai não conhece lei, Diego. Ele faz o que tem vontade. O dinheiro dele compra tudo.
 O rapaz pensa no que ela diz.
-Eu acho que você devia ter contado a ele sobre a Nina, Roberta.
-Claro que não. –Ela franze a testa. –Ele nunca foi meu pai de verdade, porque seria um avô de verdade pra ela? Eu não quero ver esse homem e nem quero ele perto da minha filha, não quero!
-Calma, tudo bem minha linda... –Diego diz calmamente enquanto a abraça. –Eu to com você.

 A água os contorna com paciência. Uma pele na outra, agradavelmente vai descansando. Roberta deita o rosto nos ombros dele enquanto o sente acariciar suas costas. Está bom o suficiente para diminuir os pensamentos, diminuir o ressentimento amargo que a notícia havia revivido nela e até fazê-la pensar que a volta do pai não fosse significar grandes problemas.
 Os dois terminam o banho, mas a conversa continua no quarto.
 Roberta veste uma camisola leve e bem fina. Depois de uma noite tão repleta de adrenalina, não deseja nem ao menos perceber a roupa sobre a pele. Já Diego nem pega pijama algum. 

 Os dois se deitam debaixo do edredom ainda conversando.
-Não vai dar pra fugir pra sempre, você sabe.
-Sempre dá...
-Não precisa ter medo.
-E quem disse que eu tenho medo? –Ela tenta fazer pose.
-E precisa dizer? 
-Tá tão óbvio assim?
-Pior que tá.

 Quando ele se ajeita, Roberta se aproxima e coloca o queixo em seu peito de uma maneira que parece um animalzinho carente de olhar apelativo. Ele vai sorrindo mais e mais a medida passa a mão pelos cabelos dela e vai jogando-os por seus ombros, sentindo a textura do loiro encaracolado entre os dedos.
-Eu acredito que quando ele vir a Nina, vai esquecer de tudo. Afinal, quem não se derrete com a nossa pirralhinha?
Roberta ri.
-Ninguém... Ela é irresistível! Acredita que o Franco tá chamando ela de neta?
-Você também ouviu? –Diego se surpreende.
-Ouvi. Ele tá sempre preocupado com ela, chega a ser irritante!
-E olha que mesmo não sendo seu pai ele ficou muito irritado quando soube da gravidez.
-É. –Ela fica com uma expressão mais séria. –Mas agora as coisas mudaram entre a gente.
-E não há chances de acontecer isso com seu pai também?
-Não...
 Roberta fica com um olhar distante, como se se lembrasse de cenas de seu passado que ainda doíam por possuir cicatrizes que nunca foram fechadas realmente. 
 E continua.
-Sabe... Quando eu ia fazer nove anos ele disse que viria no meu aniversário e me levaria ao parque.
-É?
-É. Seria um dia só nosso. Então de manhã a minha mãe me deu muitos presentes como sempre e fez muita bagunça no meu quarto. Naquela época eu adorava as palhaçadas dela. –Roberta fica alegre com a recordação. –Apesar de tudo, a Eva era uma boa mãe.
-Ainda é, né?
-É verdade.
-E o que aconteceu nesse dia? –Diego continua a alisar os cabelos dela enquanto a ouve falar.
-Minha mãe saiu e me deixou com a babá. Disse que já que eu ficaria o dia todo com meu pai ela poderia resolver algumas coisas, eu não me lembro direito o que. –Ela faz uma pausa.
-Mas essa tarde com seu pai foi tão ruim assim?
-Quem dera tivesse sido ruim. Ele simplesmente não apareceu, Diego. –Roberta tem amargura na voz. –Eu passei o meu aniversário sozinha. Ele não ligou, não disse nada. E sabe quando veio me ver? Dois anos depois e mesmo assim nunca me pediu desculpas... E apesar disso todos os dias eu esperava por ele, todos os dias eu acreditava que meu pai viria para ficar comigo e que teríamos uma vida diferente.
-Mas isso nunca aconteceu, não é?
-Nunca. Eu dei muitas chances a ele. Não vou dar mais. –Ela segura a mão de Diego contra o peito. –Se antes eu queria ele perto, agora eu quero ele bem longe, lá em Roma tá ótimo! Que continue lá!
-Ah, vem aqui, vem. –Diego abre os braços e a abraça apertado. Roberta se acolhe, fechando os olhos. –Se você não quer, eu não deixo ele se aproximar nem de você nem da Nina.
-Eu não quero mesmo. Não quero... –Ela ergue a cabeça e o olha. Quando sente a mão dele segurar seu rosto, calmamente o beija.
 Eles permanecem abraçados, os dedos brincando um no outro, apertando o nariz para fazer rir, passeando pelos cabelos para fazer adormecer ou pelo rosto para fazer sonhar com um toque maior de carinho.

***

 Esta noite passou, passou o domingo, passou a terrível segunda e muitos dias mais... Passaram-se exatamente três meses, três lindos meses sem que a temida visita aparecesse. Roberta já havia perdido a preocupação e começa a pensar que o pai felizmente desistiu de vir, o que não era surpresa. Também está feliz por Diego não ter aceitado viajar com o pai.
 O tempo havia passado tão rápido, que olhando para aquele dezembro, custava a acreditar que havia chegado ao último dia dele. Tanta correria de shows, faculdade, um leva e traz de bebê pra um lado e outro. São dois jovens inexperientes passando bons apertos juntos. E a coisa não melhorou com esse tempo, porque conforme crescia, Nina ficava ainda mais esperta. Suas mãozinhas gordinhas agora já vêm acompanhadas de perninhas ágeis, olhinhos suplicantes e sorrisos que compram até o coração mais duro. Com quase um ano de vida, "falando" muito mais e agora praticamente andando, ela está mostrando muita personalidade.

***


 É manhã e Roberta acorda um pouco mais tarde. É o primeiro dia das férias do trabalho, já que não teriam shows por algumas semanas. Ela abre a porta do quarto de Nina e vê o céu azul e limpo pela janela ao lado do berço.

-Oi... –Diz com voz rouca e olhos inchados. –Bom dia minha paixão! –E vem brincando até ela que está acordada como se a esperasse.

 Ela está apoiada na grade a rir sacudindo um ursinho, que de tanto ser sacudido já está até perdendo o braço. Roberta a pega no colo e enche de beijos enquanto desce as escadas até a cozinha. Estão em uma bela e sossegada terça-feira, 31 de dezembro.



Ao deixar Nina no carrinho com uma mamadeira ela começa a arrumar algumas coisas, mal sabendo por onde começar. O dia seria longo, pois ainda tinha muitas ligações para fazer. Coisas de show, de faculdade, de contas... Além da casa pra limpar. Era uma pena que Diego tivesse que ter saído tão cedo para fazer o processo de seleção de estagiários para o novo ano e não pudesse estar ali para dar uma ajuda.


-Que saco... –Ela reclama. –Sozinha com essa casa toda nas costas...
-Mamaã!
 A fala rápida com direito a biquinho e olhos arregalados arrancou de Roberta um sorriso. É não estava sozinha.
-Vem amor! –E a retira levando-a no tapete da sala onde tinha alguns brinquedos. –Fica quietinha aí, hein? Eu já volto.

 E dizendo isso, ela vai até a dispensa para pegar o aspirador, voltando em menos de dois minutos. Quando retorna no entanto, não vê ninguém.
-Nina?
 Ela olha de um lado e outro e não a vê. Então começa a procurar.
-Ninaaa...
Procura atrás do sofá, debaixo da mesinha... Até que ouve um barulho na cozinha. O som de vidro quebrado a faz correr até lá.

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